DE ALTO CUSTO

SUS incorpora medicamento para fibrose cística que pode beneficiar 1,7 mil pessoas

Jovem de Campinas conseguiu na Justiça direito ao Trikafta há mais de um ano, mas permanece sem recebê-lo; Estado prometeu entrega em 15 dias

Isadora Stentzler/ isadora.stentzler@rac.com.br
23/09/2023 às 09:24.
Atualizado em 23/09/2023 às 09:24

Felipe (ao centro) foi diagnosticado com a doença ainda no primeiro mês de vida; desde então, os pais, Patrícia e Robson, batalham para garantir o tratamento adequado ao filho (Rodrigo Zanotto)

O Ministério da Saúde incorporou no Sistema Único de Saúde (SUS) a medicação Trikafta, de alto custo e indicada para tratamento de fibrose cística, no dia 5 de setembro, data em que se celebrou o Dia Nacional de Conscientização e Divulgação da Fibrose Cística. Com valores que podem chegar a R$ 120 mil, o medicamento era garantido por meio de ações judiciais. A expectativa com a incorporação no SUS é de que pelo menos 1,7 mil pessoas sejam beneficiadas. Apesar de a notícia ter conotação positiva, o Ministério ainda aguarda o período de 180 dias para definir como fará a distribuição do fármaco. Na outra ponta, estão pessoas que anseiam pela medicação para salvar vidas.

É o caso dos pais de Felipe Locatelli Lourenço, diagnosticado com fibrose cística no primeiro mês de vida, em novembro de 2005. A doença gera o acúmulo de secreções nos pulmões, pâncreas e sistema digestivo. A secreção fica de 30 a 60 vezes mais espessa que o normal, por isso há dificuldade em ser eliminada. Isso causa aumento das secreções nos dutos, tubos e passagens, resultando em uma reação inflamatória. Em alguns casos o tratamento inclui até o transplante de pulmão.

Dados do Instituto Brasileiro de Atenção à Fibrose Cística – Unidos pela Vida demonstram que 40% do público com a doença não teve o diagnóstico logo na primeira infância. Cerca de 25% dos pacientes levam pelo menos um ano para ter o diagnóstico após os primeiros sintomas e 13% tiveram o diagnóstico somente após dez anos de vida. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde (MS), aproximadamente um a cada 10 mil nascidos vivos possui a doença.

Para tratá-la é necessário um combo de remédios a fim de amenizar os impactos da doença, que ainda não tem cura.

Com esse diagnóstico é que a dona de casa Patrícia Locatellli Lourenço e o empresário Robson Lourenço, ambos de 50 anos, entraram em uma batalha pelo filho. Hoje ele possui 17 anos e o casal exibe, em casa, as caixas de remédios que precisam ser administradas para ajudar o filho, que não ganha peso devido ao agravamento da doença.

A solução viria com o uso de um medicamento importado e de alto custo chamado Trikafta. Em um grupo de cerca de 50 pais que também lutam contra a doença, Patrícia ouviu relatos de melhora súbita de pessoas que passaram a fazer o tratamento com o fármaco.

Foi em março de 2022 que a família decidiu contratar um advogado e pleitear na Justiça que o Estado de São Paulo garantisse a medicação. Em maio do mesmo ano foi dado parecer favorável, mas até este mês de setembro, praticamente 16 meses depois, nenhuma caixa do remédio foi entregue à família.

“E essa é a nossa angustia”, desabafa o pai. “Causa frustração porque é uma medicação que pode custar até R$ 125 mil. Você vê tudo acontecendo e os responsáveis estão sem dar atenção ao que importa. A capacidade do pulmão vai diminuindo, passa de 31% para 28%, e nossa preocupação só aumenta”, aponta.

A possibilidade de conseguir pelo SUS é uma alternativa para a família, que luta há anos pela melhora do filho.

A reportagem cobrou o governo estadual sobre a demora e, em nota, a Coordenadoria de Assistência Farmacêutica (CAF) do Estado de São Paulo afirmou que o processo de aquisição do medicamento Trikafta está sendo finalizado. A previsão é que o paciente receba o medicamento em 15 dias, após mais de um ano de espera.

MEDICAMENTO NO SUS

De acordo com o Ministério da Saúde são necessários 180 dias para criação de um plano de distribuição, contados a partir do momento que a medicação foi incorporada ao SUS e a portaria foi publicada. A assessoria não informou quantos medicamentos devem ser adquiridos, uma vez que a pauta segue sendo estudada pelo grupo competente.

A estimativa é que cerca de 1,7 mil pessoas sejam beneficiadas com a medida. O medicamento é indicado para pacientes com 6 anos de idade ou mais que tenham pelo menos uma mutação F508del no gene CFTR, a mais comum entre os que vivem com a doença. A incorporação foi recomendada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).

FIBROSE CÍSTICA

Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, cerca de 30 anos atrás a expectativa de vida de uma pessoa diagnosticada com fibrose cística era de 15 anos. Hoje, a expectativa é acima dos 40 anos. "Com diagnóstico precoce e o tratamento adequado é possível evitar agravamentos, como perda da capacidade pulmonar, risco de diabetes, osteoporose e hemoptise (tosse com sangue), e postergar ao máximo a vida do paciente, com maior qualidade de vida para ele e sua família", destaca o médico Ronaldo Macedo.

O diagnóstico, quando não realizado na infância por meio do teste do pezinho, com amostras colhidas nos primeiros dias de vida do recém-nascido, pode ser realizado por meio do teste de suor, que analisa a dosagem de cloro e sódio no suor.

"O tratamento pode variar de caso para caso, mas, de modo geral, inclui acompanhamento multidisciplinar, reposição de enzimas pancreáticas, que auxiliam a digestão da gordura presente nos alimentos, fisioterapia respiratória, antibióticos e suplementos nutricionais. Em casos mais graves, com capacidade respiratória abaixo de 30%, pode ser necessário transplante pulmonar", explica Macedo.

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