COMBATE À EPIDEMIA

Saúde fará revisão da lista de cidades contempladas com a vacina contra a dengue

Ministra Nísia Trindade fez o anúncio em reunião com a Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos; nenhuma cidade da RMC apareceu na relação inicial

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
20/03/2024 às 08:36.
Atualizado em 20/03/2024 às 08:42
Vice-presidente da área de Saúde da FNP, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, participou da reunião com a ministra; Nísia tanbém declarou que a primeira parcela do repasse extraordinário para cidades em situação de emergência em saúde pública, por causa da dengue, será entregue pelo governo federal de maneira rápida (Julia Prado/Ministério da Saúde)

Vice-presidente da área de Saúde da FNP, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, participou da reunião com a ministra; Nísia tanbém declarou que a primeira parcela do repasse extraordinário para cidades em situação de emergência em saúde pública, por causa da dengue, será entregue pelo governo federal de maneira rápida (Julia Prado/Ministério da Saúde)

Em meio à epidemia de dengue que assola Campinas, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou na tarde de terça-feira (19) que a lista de municípios contemplados com a vacina contra a doença será revisada. O comunicado foi feito durante reunião em Brasília com a participação do prefeito de Campinas Dário Saadi (Republicanos), também vice-presidente da área da Saúde da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP). Nenhuma cidade da Região Metropolitana de Campinas (RMC) integrou a primeira lista da Pasta. Ao mesmo tempo, em outra medida para aliviar a pressão no sistema de saúde, a Secretaria Estadual de Saúde está em conversação permanente com o Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para o aumento de leitos voltados à internação de pacientes com dengue grave (antigamente conhecida como dengue hemorrágica).

Em relação à vacina, a expectativa é que mais cidades sejam acrescentadas na lista, principalmente as mais populosas, o que eleva as esperanças de Campinas ser contemplada. “Nós sabemos que a quantidade total de vacinas no Brasil ainda é pequena, mas, independente da quantidade, é uma arma na luta contra a dengue”, falou Dário Saadi.

Nísia Trindade garantiu no mesmo encontro que a primeira parcela do repasse extraordinário para cidades em situação de emergência em saúde pública será entregue com agilidade pelo governo federal. Na agenda desta tarde foram discutidos também o uso de recursos em insumos, como os inseticidas para nebulização e a falta de vacinas contra sarampo (varicela) e hepatite A. 

GOVERNO ESTADUAL

O diálogo mantido entre o HC da Unicamp e a Secretaria de Estado da Saúde faz parte da estratégia para enfrentar a atual epidemia da doença, de acordo com anúncio feito na terça-feira (19) pelo governador de São Paulo em exercício, Felicio Ramuth (PSD), ao participar do Fórum Regional das Cidades Inteligentes, Resilientes e Sustentáveis realizado no auditório do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). A ação ocorre em um momento em que a Região Metropolitana de Campinas (RMC) registrou do dia 1º de janeiro até essa terça-feira (19) 31.125 casos confirmados de dengue, sendo 22 graves, cinco óbitos e outras dez mortes em investigação, de acordo com o painel de monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde.

A epidemia levou a superlotação da rede hospitalar de Campinas, com unidades chegando a adotar medidas de restrição de atendimento e suspender cirurgias eletivas, que são aquelas programadas e que não são de urgência. “O número de casos confirmados de dengue já é hoje o dobro daquilo que ocorreu em todo o ano passado, mas temos um número menor, proporcionalmente, de casos graves. O governo do Estado está com a estrutura necessária para garantir o atendimento justamente no caso da dengue grave, que é o nome que se dá hoje para a antiga dengue hemorrágica”, disse Felicio Ramuth.

De acordo com a superintendente do HC da Unicamp, Elaine Cristina de Ataide, as conversas com a Secretaria de Saúde visam a dar suporte para as cidades da região com pacientes que exigem internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ao ser contatado, o Hospital de Clínicas, que é referência regional, adota protocolos internos para disponibilizar o leito, com as medidas sendo diferentes de acordo com a realidade diária. No geral, elas podem envolver transferência de pacientes e suspensão de cirurgia eletiva.

QUADRO ATUAL

De acordo com Elaine de Ataide, até o momento a unidade tem conseguido receber os pacientes graves de forma natural, sem a adoção de medidas especiais. Ela acrescentou que outras ações conseguiram aliviar a procura pelo pronto-socorro do HC, que na semana passada enfrentou uma situação que classificou como “preocupante”. Segundo a superintendente, os atendimentos no PS, que na semana passada foram de 90 pessoas por dia, caíram na segunda-feira (18) para 50. Elaine de Ataíde atribuiu a redução à manutenção na cidade de origem dos pacientes de dengue de até média complexidade, com a equipe do hospital dando as orientações necessárias para a melhor forma de atendimento, e a queda natural na procura pelo público ao tomar conhecimento da situação do pronto-socorro.

O governador em exercício pontuou que foram adotadas medidas de apoio aos municípios que enfrentam a epidemia. Felicio Ramuth citou que foi liberada uma verba de R$ 255 milhões para as cidades investirem em ações contra a doença. Para a RMC, foram destinados R$ 23 milhões, dos quais R$ 5,5 milhões para Campinas. O município já superou neste ano tanto o número de casos de dengue registrados em todo 2023 como o de óbitos. Até terça-feira (19), foram confirmados 22.356 registros, com quatro mortes, além de dois pacientes com chikungunya. No ano passado foram 11.504 casos e três óbitos.

A quinta vítima fatal da doença na RMC residia em Santo Antônio de Posse. Em relação ao perfil das pessoas, duas eram mulheres e três homens, sendo todos idosos. Dois tinham idade entre 65 e 79 anos e outros três estavam com mais de 80. Na região, seis cidades decretaram situação de emergência por causa da dengue: Campinas, Jaguariúna, Pedreira, Holambra, Santo Antônio de Posse e Vinhedo.

O governador disse ainda que a Defesa Civil do Estado está auxiliando os municípios menores que não têm estrutura suficiente nas ações de combate aos criadouros do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus. São Paulo registrou este ano 259.372 casos confirmados de dengue, sendo 292 pacientes em estado grave, 91 mortes e 222 óbitos em investigação. Felicio Ramuth acredita que a vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan já estará disponível para uma ampla campanha de vacinação no próximo ciclo da dengue, que será no verão 2024/2025.

“É esta vacina do Butantan que vai se transformar, de fato, numa política pública. Ela terá a quantidade necessária para atender a todo o país para evitar a proliferação e, é claro, a gravidade dessa doença evitando a contaminação”, disse ele. Para o governador, a vacina Qdenga, do laboratório japonês Takeda, está disponível em um número muito baixo, o que faz com que esteja disponível apenas para uma parcela da população. O imunizante é previsto em dose dupla e está sendo aplicado em adolescente de 10 a 14 anos de cidades com alto índice de transmissão nos últimos dez anos.

A vacina do Butantan é de dose única, apresentou eficácia de 79,6% e está na fase 3 de desenvolvimento. “Estamos consolidando os dados de seguimento controlado para saber se a proteção de 80% é sustentada durante cinco anos”, explicou o diretor do Butantan, Esper Kallás, que é médico infectologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e participou do estudo como investigador principal.

Os números dos dois primeiros anos de acompanhamento do ensaio clínico devem ser encaminhados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão responsável pela aprovação e liberação do uso da vacina, no segundo semestre deste ano. Para a superintendente do HC, Elaine de Ataide, a vacina do Butantan será mais um instrumento de prevenção à dengue, mas no atual momento de epidemia a melhor forma de combate é a ação individual de cada pessoa para evitar depósito de água em casa que sirva de criadouro para o Aedes aegypti. “A vacina será complementar, mas é preciso que a população faça o controle e evite os criadouros do mosquito”, afirmou.

EVENTO

O Fórum Cidades Inteligentes reuniu representantes de municípios da região para apresentação de ferramentas tecnológicas que podem dinamizar e aumentar a eficiência dos trabalhos dos agentes públicos, além de facilitar a vida da população em várias áreas, como saúde, educação, segurança e atendimento. “Essa é uma pauta de todos os prefeitos e uma necessidade da sociedade, os cidadãos exigem esse tipo de solução. Portanto, as prefeituras precisam entender o que está acontecendo, quais são as tecnologias disponíveis e, para isso, trazemos esse fórum, que será realizado em várias regiões do Estado”, afirmou o vice-presidente do Instituto Smart Cities Business America, Lívio Giosa, entidade promotora do evento.

Segundo ele, todas as cidades, das pequenas até as grandes, têm novas ferramentas à disposição que podem ser usadas de acordo com a realidade de cada uma. O governador em exercício disse que a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Regional dispõe de linhas de crédito para os municípios que querem investir na modernização dos serviços, o que considera essencial. Ele lembrou que, recentemente, São Paulo disponibilizou a transferência de propriedade de veículo através de aplicativo de celular e em breve anunciará a ampliação da muralha de segurança paulista, que passará a abranger também cidades de menor porte.

Com uso de Inteligência Artificial, câmeras instaladas nas ruas e entradas dos municípios fazem o monitoramento de placas de veículos usados em crimes ou a identificação facial dos envolvidos, com as informações sendo compartilhadas em tempo real entre os órgão de segurança das cidades próximas para possibilitar o rastreamento e a prisão dos suspeitos. A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação, Adriana Flosi, que participou do fórum, disse que Campinas já adota várias ferramentas de cidades inteligentes e conta com um ecossistema de tecnologia e inovação, com universidades e instituto de pesquisa que facilitam o desenvolvimento de novas tecnologias.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por