Campinas terá mais 12 médicos, além dos 56 prometidos pelo governo federal
Amédica Joice Santos de Jesus, que atende no CS Jardim Eulina, destaca a importância do programa 'Mais Médicos': 'proximidade com paciente é fundamental' (Kamá Ribeiro)
Anderson de Souza, 47 anos, residente da região do CDHU San Martin em Campinas há 21 anos, conhece bem os desafios enfrentados por sua comunidade. Hoje, como líder comunitário, ele não hesita em apontar a principal demanda da população: a saúde. Ao longo de mais de duas décadas, Anderson ouviu relatos angustiantes sobre a descontinuidade no acompanhamento médico, resultando em baixa resolutividade para diversas patologias que afligem os moradores locais. Embora reconheça que ainda há muito a ser feito, ele admite que a situação melhorou com a chegada dos médicos do programa "Mais Médicos" ao Centro de Saúde (CS) Cássio Raposo do Amaral, que atende o bairro.
"Foi um ganho para a comunidade, tapou um gargalo que perdurava há anos devido à falta de médicos para atender a demanda", afirma Anderson, destacando que os profissionais designados pelo programa trouxeram agilidade aos atendimentos e renovaram a energia da equipe de saúde.
O CS Cássio Raposo do Amaral é uma das unidades básicas de saúde que contam com a presença de profissionais do "Mais Médicos", programa lançado em 2013 pelo governo federal durante a gestão de Dilma Rousseff (PT), com o objetivo de suprir a carência de médicos generalistas em regiões do país. Atualmente, 90 profissionais atuam em Campinas através do programa, atendendo majoritariamente na periferia. No último dia 25, a Secretaria Municipal de Saúde demonstrou interesse por mais 12 profissionais, oriundos de vagas remanescentes, que devem ser enviados ao município nos próximos meses, conforme o cronograma da União. Adicionalmente, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, anunciou um novo edital para a contratação de 3,1 mil profissionais em todo o país, com previsão de mais 56 vagas para Campinas, elevando o efetivo a 158 profissionais.
O "Mais Médicos" visa suprir a necessidade de medicina familiar em regiões mais carentes, oferecendo aos jovens médicos a oportunidade de atuar na linha de frente da atenção básica, adquirindo ampla experiência na identificação de patologias e estreitando a relação com os pacientes. No dia a dia, as trocas entre médicos e população enriquecem a experiência de ambas as partes, conforme relatos obtidos pela reportagem do Correio Popular.
Um desses relatos vem de Luma Queirós Kubaski, 28 anos, médica no próprio CS Cássio Raposo do Amaral. Natural de São Paulo, a jovem profissional, formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2020, destaca um aprendizado pouco explorado na faculdade: "o contato humano". Para ela, tudo começa na atenção básica, inclusive a motivação para que o paciente continue com o tratamento necessário. Por esse motivo, considera a experiência "extremamente enriquecedora".
"A atenção básica é a porta de entrada da saúde, promovendo acesso a pacientes de todas as classes sociais, etnias e com variados diagnósticos. O profissional da atenção primária é quem faz o filtro e cobra o paciente sobre os cuidados com a própria saúde. Nesse sentido, observar um cuidado maior da população, que já estava desacreditada com a saúde pública, é um mérito comemorado por toda a equipe do CS", ressalta Kubaski.
Segundo ela, sua presença, aliada à dos demais colegas do programa, resolveu o antigo problema citado por Anderson de Souza: o déficit de profissionais na unidade. Isso fazia com que as pessoas evitassem o CS, por não terem esperança de resolutividade para suas patologias. "A queixa dos pacientes era a falta de consulta e de não poder passar com o médico na frequência desejada. Agora, o retorno que temos é positivo, pois eles se sentem mais assistidos, mantendo a continuidade do acompanhamento. É uma resistência que vem sendo vencida, uma vez que todos esperavam pela minha desistência da unidade, mas agora confiam que estarei aqui na próxima consulta."
"Aqui sempre demorou o atendimento, e ter essa confirmação de que as coisas darão certo é um alívio", ressalta Jane Conceição, 30 anos, empregada doméstica que usa o CS há três anos.
No Jardim Eulina, a médica baiana Joice Santos de Jesus, 29 anos, relata se sentir "em casa". Vivendo em Campinas há um ano, ela promove um clima familiar entre seus pacientes do CS, tratando cada um como um ente próximo. Chama pelo nome, pergunta da família e faz questão de ligar para os pacientes para questionar: "esqueceu da consulta?".
"O objetivo do médico generalista, maioria dos profissionais ofertados pelo programa, é manter o paciente saudável e ter controle da rotina do paciente, da sua agenda com o médico. Essa proximidade é fundamental e sempre foi meu objetivo, desde que optei por fazer medicina", diz Joice. A jovem foi aprovada no programa no ano passado e se mudou para a cidade para acompanhar o marido, aprovado em um concurso público no judiciário.
Durante a gestão Bolsonaro, o "Mais Médicos" foi encerrado em 2021 e se tornou alvo de críticas do espectro político do ex-presidente, devido ao elevado número de médicos cubanos admitidos durante o governo Dilma. O programa, gestado pelo governo petista, ganhou força com o retorno de Lula (PT) à presidência.
Joice avalia que o "Mais Médicos" é fundamental para combater a desigualdade na distribuição de profissionais, que se concentram majoritariamente em grandes cidades e capitais. Formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, ela deixa um recado para os potenciais candidatos à próxima edição do programa.
"É um estímulo ao aprendizado da medicina na raiz do sistema de saúde. Lidar com as dificuldades, com a mudança de cidade, a cultura, com a pluralidade do povo, é algo muito enriquecedor para o médico, independentemente da especialidade que ele venha a seguir depois. O 'Mais Médicos' é fundamental para promover a saúde de pequenos grupos em uma determinada região, assisti-los e promover, e o retorno que obtemos dos pacientes é muito gratificante."
NOVOS MÉDICOS
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, os futuros profissionais enviados pela União atuarão em locais ainda a serem definidos, "com base em análise sobre uma série de fatores, incluindo vulnerabilidade social da região e demanda de pacientes".
"A Pasta aguarda manifestação do governo federal sobre a data em que os profissionais podem começar a trabalhar em Campinas. Essa modalidade de contratação é um complemento para ampliar e qualificar a assistência médica por meio dos centros de saúde em Campinas, sobretudo nas equipes de Saúde da Família", destacou a pasta.
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