CRISE NO ATENDIMENTO DA SAÚDE

Prefeitura de Campinas define estratégia para enfrentar superlotação

Dário solicita transferência de casos menos complexos para cidades de origem

Paulo Medina/ [email protected]
14/03/2024 às 08:24.
Atualizado em 14/03/2024 às 08:24
O Hospital de Clínicas (HC) solicitou ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e à Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) que suspendam o encaminhamento de novos pacientes à unidade até que a situação seja aliviada (Rodrigo Zanotto)

O Hospital de Clínicas (HC) solicitou ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e à Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) que suspendam o encaminhamento de novos pacientes à unidade até que a situação seja aliviada (Rodrigo Zanotto)

A rede pública de saúde em Campinas está enfrentando uma sobrecarga no atendimento, com uma crescente demanda de casos de dengue e covid-19. Durante uma reunião de emergência realizada na quarta-feira (13), que contou com a participação de representantes da Rede Mário Gatti, do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, do Hospital PUC-Campinas, da Secretaria Municipal de Saúde e do Departamento Regional de Saúde (DRS-7), realizada na sede do Executivo, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) solicitou à DRS-7 a transferência imediata de pacientes de baixa e média complexidade que ocupam leitos nas unidades hospitalares de Campinas de volta às suas cidades de origem. Essa medida visa aliviar a sobrecarga enfrentada pelo município devido à superlotação. Além disso, a PUC-Campinas cancelou cirurgias eletivas, enquanto o HC solicitou que os serviços de resgate e regulação não encaminhem mais pacientes para a unidade.

Paralelamente a essas ações, Dário anunciou uma reunião agendada para o próximo dia 19 com o secretário estadual de Saúde, Eleuses Paiva. Entre os principais tópicos a serem discutidos estão a necessidade de transferência de pacientes, o aumento de leitos para as unidades da região e a implementação de um programa de atendimento domiciliar nos municípios do conglomerado metropolitano.

"Dentro das medidas que estamos planejando, com urgência, acordamos com a DRS-7 um esforço para transferir os pacientes da região de volta às suas cidades de origem. Especialmente aqueles de baixa complexidade. Sabemos que os hospitais, como o HC da Unicamp, a PUC-Campinas e o Mário Gatti, lidam com casos de alta complexidade, mas pacientes com menor complexidade podem ser transferidos de volta para as regiões de onde vieram. O governo do Estado realizará essa operação de transferência", comentou Dário.

Ele também destacou um aumento significativo no número de atendimentos na Rede Mário Gatti, com um aumento de 12% nos casos de dengue e cerca de 8% nos casos de covid-19. "Na Rede Mário Gatti, o número de atendimentos diários aumentou de 2.000 para até 3.200, como observado na segunda-feira e na terça-feira. O que contribuiu para esse aumento? Houve um acréscimo de 12% nos casos de dengue. Também observamos um aumento nas doenças sazonais na pediatria, bem como um aumento nos casos agudos de doenças crônicas. Além disso, há um aumento nos casos de covid-19, embora não tão significativo quanto os casos de dengue, representando aproximadamente de 6% a 8% dos casos", informou Dário.

No contexto do problema, o prefeito destacou a entrada de aproximadamente 100 mil pessoas no sistema municipal de saúde, os quais, após o período de pandemia, perderam seus planos de saúde privados. "Esses são os fatores que identificamos como responsáveis pelo aumento na sobrecarga do sistema", afirmou o prefeito. Ele mencionou que a Unicamp e a PUC tomaram medidas para solicitar aos órgãos de regulação que não enviem mais pacientes, devido à atual situação de superlotação. "Em conjunto, eles estabeleceram medidas importantes para enfrentar essa crise, ressaltando que, embora haja superlotação, não há descontrole", afirmou o prefeito.

Ao contextualizar a escassez de leitos causada pelo pico da pandemia da covid-19 em anos anteriores, o prefeito observou que chegaram a ter 238 pacientes aguardando internação em enfermarias e UTIs, durante o pico da crise. "No entanto, atualmente, embora haja pacientes aguardando em leitos adicionais, todos estão sendo atendidos, não há pacientes sem atendimento ou esperando por internação fora dos hospitais", garantiu.

Dário anunciou que irá solicitar ao secretário estadual de Saúde a implantação de novos leitos de baixa e média complexidade na região, assim como a criação de uma regulação regional de vagas para gerir e aliviar a sobrecarga da rede. Ele também pedirá a ampliação das vagas para tratamento de hemodiálise, outra questão que contribui para a superlotação.

Além disso, o prefeito destacou que Campinas possui aproximadamente 800 pacientes atendidos pelo Serviço de Atendimento Domiciliar (SACE) e solicitará ao secretário de saúde que as cidades da região implementem um serviço semelhante. "Apenas Campinas possui o SACE, enquanto as cidades vizinhas não possuem. Vamos solicitar ao secretário Eleuses que a DRS comece a credenciar e implantar o Serviço de Atendimento Domiciliar nas cidades da região. Isso é fundamental, pois muitos pacientes em pronto-socorros da Unicamp e do Mário Gatti, ocupam leitos com baixa complexidade médica, mas que necessitam de acompanhamento domiciliar. Esta medida essencial ajudará a desafogar os pronto-socorros", afirmou.

Nesta quarta-feira (13), Campinas registrou um total de 17.615 casos de dengue, representando um aumento de 1.178 casos em relação ao dia anterior. Além disso, os casos de síndromes respiratórias e gripais ultrapassaram a marca de 11,6 mil, enquanto os testes positivos para covid-19 alcançaram mais de 4,2 mil.

Devido à superlotação, o Hospital de Clínicas (HC) solicitou ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e à Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) que suspendam o encaminhamento de novos pacientes à unidade até que a situação seja aliviada.

A superintendente do HC, Elaine Cristina Ataíde, destacou que a superlotação persiste, operando atualmente com três vezes a capacidade de leitos, ou seja, 90 pacientes para uma capacidade instalada de 30 leitos.

"O panorama de hoje ainda reflete esse excesso de demanda, com 90 pacientes para uma capacidade instalada de 30 leitos. No entanto, as medidas acordadas durante as discussões de hoje devem resultar em uma redução significativa tanto no número de pacientes quanto de leitos em um curto espaço de tempo", comentou Elaine.

O Hospital PUC-Campinas relatou que seus prontos-socorros adulto, pediátrico e materno-infantil, conveniados ao SUS, estão operando acima da capacidade em todos os seus setores. Após a notificação da Unicamp, houve um aumento no encaminhamento de pacientes pela Central de Regulação para o hospital. "Como medida, temporariamente suspendemos as cirurgias eletivas e estamos em constante comunicação com a regulação municipal para transferir pacientes de média complexidade para outros serviços", informou a instituição.

TABELA SUS

Dário expressou a necessidade urgente de uma reunião da Frente Nacional dos Prefeitos com o Ministério da Saúde para negociar um reajuste na Tabela SUS. "Se o governo federal não aumentar a Tabela SUS, não tem condição. Se o governo não ampliar a Tabela SUS, não tem como ampliar serviços, os municípios estão no limite. Como é que o município de Campinas tem convênio com a PUC, com a Maternidade, com outros tantos hospitais? Porque nós complementamos o que a tabela do SUS não paga. Por isso que há 20 anos atrás, 70% do dinheiro do SUS de Campinas vinha do governo federal, do Ministério da Saúde e do governo do Estado. Hoje, 76% é de dinheiro do município, do IPTU, do ISS. Então esse modelo tem que mudar", comentou ao mencionar que Campinas gasta mais de 30% do orçamento com a saúde e que de 2019 a 2023 a Prefeitura aumentou 22% o número de leitos do SUS Campinas, passando de 633 para 772. Dário também voltou a defender um Hospital Metropolitano para a região. No Hospital de Clínicas (HC), Wesley Macedo, auxiliar administrativo de 25 anos e residente em Barão Geraldo, testemunhou a lotação na emergência da unidade. "Estou aguardando para uma consulta com o oftalmologista há quase quatro horas; parece que vou passar o dia inteiro aqui", lamentou.

Letícia Tanaka, enfermeira de 33 anos de Jaguariúna, acompanhou seu pai ao HC devido a um aneurisma e relatou a lotação da unidade, com macas nos corredores. "O sistema de saúde está em colapso, com casos de covid-19, dengue; todos estão aglomerados. Estamos preocupados com essa situação e precisamos de um hospital metropolitano", alertou.

José Edson Silva, garçom de 53 anos e morador do Campo Belo, dirigiu-se à emergência com problemas de catarata para agendar uma consulta e ficou surpreso com a superlotação da unidade. "Está lotado; é uma sensação de calamidade e indignação ver essa situação precária", desabafou.

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