Levantamento de hospitais revela aumento da contaminação por novas variantes da covid, mas com baixa letalidade
Levantamento de hospitais revela aumento da contaminação por novas variantes da covid, mas com baixa letalidade (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)
Um levantamento realizado pela Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), com as instituições associadas ao redor do país, registrou um aumento de 94% nos casos de covid-19 nas últimas duas semanas e de 32% nas síndromes gripais não relacionadas à covid-19 em pronto-atendimento. A elevação condiz com o que acontece também nas unidades municipais do SUS em Campinas, cujo aumento no atendimento às síndromes respiratórias foi de 20,6% em uma semana, passando de 10.378 pacientes atendidos entre os dias 22 e 28 de maio para 12.522 entre o dia 29 e 4 de junho.
Se comparada a última semana de maio com a primeira, do dia 1º ao 7, o aumento foi de 129,8%. Graças principalmente ao avanço na cobertura vacinal, a diferença desse novo crescimento com a primeira onda da Ômicron, no início do ano, é que as internações em enfermaria e UTI e os óbitos por covid-19 acontecem em uma quantidade inferior em relação às ondas anteriores.
"Normalmente (os hospitalizados) são pacientes mais idosos, que até tomaram a vacina, mas já possuem alguma comorbidade que agrava o caso. O que temos visto é um aumento muito grande dos casos no pronto atendimento, mas não são necessariamente casos graves, de internação", explicou a diretora técnica da Anahp, Evelyn Tiburzio. Cerca de 4,5% dos casos demandam hospitalização, sendo que praticamente um a cada quatro foram para a UTI.
Ômicron
Um relatório de monitoramento da variante Ômicron, produzido pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS), e que deve ser divulgado ainda hoje, mostra que a recente alta nos casos pode estar relacionada a um crescimento de sublinhagens da variante Ômicron. No início do ano, a BA.1 rapidamente, em quatro semanas, tomou conta do cenário epidemiológico e substituiu a variante Delta.
Após esse período recorde de casos de covid-19 registrados, a BA.2 ganhou espaço e se tornou predominante, porém demorou cerca de dois meses e meio para ela conseguir substituir a BA.1 e a troca não acarretou em grande aumento dos casos em março e abril.
Já em maio, a BA.2 atingiu o ápice, com uma proporção de 90% dos casos. Vale ressaltar que a investigação do ITpS é feita por meio de teste RT-PCR, não por sequenciamento genético, sendo que a detecção das variantes acontece por uma pequena diferença em um dos genes identificados por meio do teste.
Agora, em junho, a BA.4 e BA.5 começam a tomar conta do cenário epidemiológico. Se até o dia 21 de maio a BA.2 respondia por 90% das infecções, e os casos prováveis de BA.4 e BA.5 eram inferiores a 10%, o contexto hoje é diferente. As duas últimas sublinhagens já aparecem em 44% dos testes estudados, enquanto a BA.2 caiu para 56%.
"Daqui duas semanas, certamente diremos que a BA.4 e a BA.5 são dominantes, essa é a tendência. As variantes da covid-19 possuem uma dinâmica de predomínio por uma parte do tempo e aí as pessoas adquirem uma certa imunidade ou a variante começa a ter dificuldades para circular na população com boa cobertura vacinal. Em dado momento, ela não consegue mais competir. Então, chega uma nova variante com características diferentes, que podem dar a ela alguma vantagem", explicou o virologista e pesquisador científico do ITpS, Anderson Brito.
Ele ainda afirmou que a mensagem que fica é de alerta, principalmente aos mais vulneráveis, como idosos, imunossuprimidos e os que não se vacinaram por algum motivo. Quem ainda precisa receber doses da vacina contra a covid-19 deve ir atrás do imunizante para ampliar a proteção.
Outros achados
A pesquisa também indicou que, nas últimas duas semanas, 5,5% dos profissionais de saúde foram afastados por diagnóstico positivo. Em janeiro de 2022, durante o período de predominância da BA.1 da Ômicron, a Anahp informou que o índice chegou a 10%.
No Estado de São Paulo, o ITpS observou que a positividade nos testes de covid-19 atingiu 38%. Pouco mais de um mês atrás, na semana finalizada no dia 7 de maio, a positividade era de 19%, metade da observada nos testes analisados pelo instituto. Para o monitoramento do ITpS, os dados de testagem foram disponibilizados por três laboratórios privados de diagnóstico.