SINAL DE ALERTA

Hospitais de Campinas voltam a ficar lotados com aumento de síndromes gripais

Com espera de mais de 9 horas, dá até para fazer novas amizades na fila

Ronnie Romanini
01/06/2022 às 10:04.
Atualizado em 01/06/2022 às 10:04
Repetindo as cenas de janeiro, durante a onda da Ômicron, área de espera do Hospital Mário Gatti estava superlotada no final da tarde de ontem (Kamá Ribeiro)

Repetindo as cenas de janeiro, durante a onda da Ômicron, área de espera do Hospital Mário Gatti estava superlotada no final da tarde de ontem (Kamá Ribeiro)

À medida que os casos de covid-19 e de outras doenças respiratórias voltam a crescer, também aumenta a procura por atendimento em unidades de saúde. Com isso, a tradicional - e ingrata - espera de horas cresce e faz com que muitos ou desistam, e voltem a circular nas ruas sem certeza do diagnóstico, com risco de disseminarem ainda mais um possível vírus, ou aguardem por atendimento em situação desconfortável. Em Campinas, a reportagem do Correio Popular visitou na terça-feira (31) uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e o Hospital Municipal Dr. Mário Gatti e constatou que algumas pessoas eram atendidas após um período relativamente curto, de uma a duas horas, porém outras aguardavam há mais de 9 horas.

No Mário Gatti, perto das 18h de terça-feira (31), muitas pessoas estavam esperando atendimento despreparadas enquanto o frio apertava. Um homem e uma mulher, Benedito Filho e Jaine Santos, se conheceram durante a espera e lamentaram à reportagem o fato de muitas pessoas em cadeiras de rodas ou com locomoção prejudicada pelo estado de saúde estarem aguardando há tanto tempo quanto eles.

"A gente chega e sai pior do que entrou. Esperamos muitas horas, mas não falo apenas por mim. Eu ainda tenho mais saúde para esperar, mas e as pessoas de 70, 80, 90 anos? Que estão aqui sentadas, jogadas nos bancos esperando por atendimento? Eu acho constrangedor. A rede pública deveria priorizar e respeitar um pouco mais os idosos", desabafou a analista de crédito imobiliário, Jaine.

Ela relatou estar sentindo dor de cabeça, no corpo, sensação de fraqueza e cansaço e queria confirmar ou descartar a suspeita de covid-19. A mãe, que também tem sintomas, ficou em casa e Jaine explicou o motivo. "Não consigo trazê-la, pois sei que ela vai passar por isso. Ela está em casa, isolada. Se eu confirmar que tenho covid, aí ela continua em isolamento."

Jaine também opinou que diante dos sintomas a melhor atitude é a de buscar o diagnóstico para, se de fato estiver com covid-19, cortar a transmissão. "A gente espera para pelo menos ter um posicionamento do médico, para dizer que está tudo certo para continuar as atividades normais. A outra opção seria continuar a vida como se nada estivesse acontecendo, correndo o risco de transmitir para outras pessoas se for covid-19. Muitos podem até fazer isso por desespero."

Ouvindo atentamente, Benedito concordou com a nova colega que fez durante a espera. "(Jaine) levantou um ponto legal. Eu cheguei às 9h e ainda estou aguardando, mas vejo muitas pessoas de idade, de cadeira de rodas, também esperando e isso não é legal, é um descaso muito sério. A gente ainda consegue comer um lanche, encontrar pessoas, bater um papo e a hora passa. Ainda estamos mais ativos, mas há quem não esteja, que fica à mercê de uma espera. É muito doloroso. Ninguém aqui está para passeio, mas por necessidade. É necessário um olhar melhor para os que mais precisam."

Na UPA Campo Grande, a agente de saúde, Rosângela Marcelo de Souza, 45 anos, contou que o mês não foi fácil. Em 30 dias, ela pegou dengue, ficou gripada e também teve covid-19. Recuperada, ela estava com a mãe e filha, ambas com sintomas. A mãe testou negativo, mas, diante dos sinais, a suspeita é a de que seja um falso negativo. A filha aguarda resultado de teste RT-PCR.

"As pessoas estão agindo como se a covid tivesse acabado e realmente não acabou. Ainda há uma demanda boa de síndromes gripais onde atendo. Como trabalho na saúde, lido diariamente com casos de covid e de gripe." Das três enfermidades, Rosângela garantiu que, mesmo com as três doses, a covid-19 foi a pior.

Na última quinta-feira, o Boletim InfoGripe Fiocruz sinalizou que o aumento de casos de covid-19 em todas as regiões do Brasil continua, algo que começou a ser observado desde o final de abril, na semana entre os dias 24 e 30. Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, a covid-19 representou 48,1% de todos os resultados positivos para vírus respiratórios e 84% dos óbitos.

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