SAÚDE PÚBLICA NA RMC

HC discute parceria na saúde com 19 municípios da região de Campinas

Ideia é desafogar a Unicamp para receber somente os casos mais complexos

Ronnie Romanini/ [email protected]
05/11/2022 às 15:45.
Atualizado em 05/11/2022 às 15:45
Setor de acolhimento de pacientes no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp: proposta para desafogar o atendimento médico na unidade (Kamá Ribeiro)

Setor de acolhimento de pacientes no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp: proposta para desafogar o atendimento médico na unidade (Kamá Ribeiro)

O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp apresentou ontem a representantes de 19 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) uma proposta de ação conjunta e compartilhada para organizar a rede de atendimento hospitalar, conforme o nível de complexidade no atendimento de saúde. A proposta, chamada no meio médico de "matriciamento", consiste em mapear os hospitais de cada cidade e analisar a capacidade de cada um deles para uma micro-regulação junto à Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS), o Departamento Regional de Saúde de Campinas (DRS-7) e as secretárias de Saúde.

O plano foi exposto com exclusividade ainda em setembro ao Correio Popular, em entrevista concedida pela superintendente do HC, Elaine de Ataide. Na ocasião, ela afirmou querer tentar "fazer essa intercomunicação com as cidades da região para capacitá-las a enviar para o HC apenas aquilo que realmente for competência terciária ou quaternária".

O encontro da Comissão Intergestora Regional (CIR) - o primeiro presencial desde o início da pandemia de covid-19 - aconteceu ontem pela manhã na superintendência do HC, sob coordenação do DRS-7. Houve um consenso entre os presentes de que seria necessário institucionalizar todo o processo de trabalho e não individualizar apenas nas pessoas que atualmente ocupam os cargos de gestão. Para isso, foi deliberado que uma portaria será publicada na próxima semana com a criação de um Grupo de Trabalho para fortalecer as estratégias de regulação e contra-regulação.

"O que faremos é olhar a capacidade existente de cada serviço e dar acesso em tempo oportuno para aquilo que as pessoas precisam. Esse movimento vai fazer com que a gente encaixe algumas peças que hoje ficam soltas, que poderiam não estar no equipamento de maior complexidade, poderiam estar nos outros serviços para que, assim, aqueles que realmente precisam consigam ter acesso. É por isso que todos entenderam que era pertinente. Foi consensual porque isso vai dar vazão à alta complexidade. É uma ação muito pioneira", avaliou a diretora do DRS-7, Fernanda Penatti.

Com esse trabalho integrado, haveria a possibilidade de uma contra-referência de casos não complexos, ou seja, transferir pacientes com casos de menor complexidade e que ainda são encaminhados para a alta complexidade para as próprias cidades. Isso evitaria que casos da atenção primária ou secundária continuem sendo encaminhados em grande número e muitas vezes sem necessidade ao HC, cuja competência é de alta complexidade. Não seria necessário contratar ou ampliar recursos. Eles seriam os mesmos que estão disponíveis atualmente, porém distribuídos de maneira mais inteligente com a união e integração dos envolvidos.

De acordo com a superintendente do HC, os pacientes estão chegando ao hospital com mais gravidade devido aos represamentos ocorridos durante a pandemia. Portanto, o serviço terciário precisa ter um desafogo, um espaço liberado para cuidar adequadamente desses pacientes.

Mesmo com o retorno do paciente à cidade de origem, o HC continuaria, na proposta de matriciamento, acompanhando o caso e auxiliando tanto o indivíduo como o médico local, com o compromisso de realizar reuniões periódicas com a equipe médica em uma teleinterconsulta. Este foi um compromisso assumido pelo HC. Com o tempo, e apostando em cursos de atualização e capacitação, a expectativa é a de que os médicos dessas cidades sintamse, e estejam, mais capacitados para cuidar dos pacientes, com ganho de confiança a partir das experiências.

Outra expectativa do DRS-7 e do HC é a de que o movimento de colaboração e matriciamento entre estado e municípios possa acarretar em um menor número de pacientes em pronto-socorros de toda a região. Além disso, o encaminhamento entre todos os níveis de atenção seria facilitado, o hospital terciário poderia ampliar a capacidade de atendimento e também haveria redução no tempo de espera por leitos de internação, por procedimentos cirúrgicos e para a avaliação de especialidades e nível de atenção (se primária, secundária, terciária).

Mutirão

Durante a semana, o Governo do Estado de São Paulo liberou o repasse de R$ 23 milhões ao HC como contrapartida às despesas do hospital com o programa Mutirão de Cirurgias. Uma das ações do hospital foi levar uma equipe itinerante de cirurgiões para Pedreira, onde 150 procedimentos foram realizados em moradores de cidades próximas.

Lançado em junho, a meta ambiciosa do Estado à época era acabar com a demanda de cirurgias eletivas que ficaram represadas por causa da pandemia. Apenas na Regional de Saúde de Campinas, que abrange 42 cidades, 71.456 esperavam na fila. Anteriormente, o prazo para zerar a fila era outubro, porém houve a definição posterior de prorrogar até o final do ano. O cálculo atual é que a redução na lista de espera foi de quase 76% na DRS-7.

Além dos procedimentos da equipe itinerante, o HC atendeu 1,7 mil pacientes durante o mutirão de colelitíase e fez o agendamento de centenas de cirurgias para a retirada de vesícula biliar. Para Elaine de Ataide, o recurso destinado ao HC possibilitará a melhoria da assistência à população, elevando o número de cirurgias de retina, colelitíase e de cálculos renais.

Neste sábado, inclusive, acontece mais um mutirão de sábado no HC, desta vez de cálculo renal. 15 pacientes que esperam há tempos pelo procedimento estão internados para o procedimento que será realizado hoje, mais uma ação da equipe do HC dentro do Mutirão de Cirurgias.

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