HC da Unicamp normaliza o atendimento após enfrentar superlotação

O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp revelou que até o final da tarde de terça-feira (17) não havia superlotação na Unidade de Emergência Referenciada (UER), graças às altas que ocorreram durante a madrugada e o dia de terça. Um dia antes, na segunda-feira, a UER estava com 17 pacientes a mais do que o número de leitos disponíveis, 58. A situação obrigou alguns pacientes a ficarem em macas, o que levou a Superintendência do HC a relembrar que o hospital é voltado para a média e alta complexidade e ao atendimento de casos graves referenciados em toda a região. Esse problema, no entanto, não é novo ou raro, e mesmo com o problema de superlotação sanado na terça-feira, não é possível garantir que isso esteja resolvido, afinal, a entrada e alta de pacientes é bastante frequente e dinâmica.

A superintendente do HC, Elaine de Ataide, explicou que muitos pacientes procuram o hospital, mas com casos de baixa complexidade, o que acarreta em um volume maior de pacientes que teoricamente não estão contemplados dentro do que é a vocação do HC, um hospital terciário e quaternário, cuidando de casos mais complexos. 

"Se a gente for observar o que aconteceu na semana passada e retrasada, agora está igual. É a mesma problemática, as pessoas vêm para cá por achar que é porta aberta, uma alternativa, uma maneira de entrar e ser atendido na Unicamp. Muitos por falta de conhecimento de que poderiam procurar Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) (...) Por essa ideia da população de achar que por ser Unicamp, um hospital terciário, vai descobrir algo diferente." 

Anteriormente, em setembro de 2022, Elaine revelou em primeira mão em uma entrevista exclusiva ao Correio Popular que pretende desenvolver enquanto superintendente um programa para capacitar as cidades da região. A ideia é que elas possam atender aos casos de baixa e média complexidade, para que o objetivo de reduzir a pressão sobre o HC seja atingido, deixando o hospital concentrado nas ocorrências de maior gravidade.

Dois meses depois, em novembro, o HC apresentou a representantes de 19 das 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas (RMC) uma proposta para melhorar e organizar a rede de atendimento hospitalar conforme o nível de complexidade no atendimento de saúde. A proposta teria ação compartilhada entre os municípios e o HC, uma espécie de matriciamento. 

Na proposta de trabalho coletivo e integrado, haveria a possibilidade de uma contra-referência de casos não complexos, ou seja, pacientes com casos de menor complexidade e que ainda são encaminhados para lugares voltados à alta seriam transferidos para as próprias cidades. O HC ainda acompanharia o caso e auxiliaria tanto o indivíduo como o médico local, na proposta de matriciamento, com o compromisso de realizar reuniões periódicas com a equipe médica em uma teleinterconsulta. Com o tempo, e apostando em cursos de atualização e capacitação, a expectativa é a de que os médicos dessas cidades sintam-se - e estejam - mais capacitados para cuidar dos pacientes, com ganho de confiança a partir das experiências. "Mais da metade não são da especialidade do HC, que é a média e alta complexidade. Na nossa média interna, esse número gira em torno de 70%."

Mesmo com as dificuldades, inclusive com essa demanda acima da capacidade instalada, ela afirmou que os funcionários do hospital e a equipe multidisciplinar estão todos envolvidos na tentativa de fazer com que as melhorias e projetos que o HC possui sejam bem sucedidos, afinal, "o hospital tem a sua missão que é a de tratar o paciente e a equipe está sempre motivada para isso".

Matriciamento

Elaine revelou que esse projeto de capacitação e matriciamento está prestes a ser iniciado, com a possibilidade de que o projeto piloto aconteça já nas próximas semanas. A superintendente do hospital explicou que para essas mudanças, como a do matriciamento, o processo é demorado por envolver várias equipes e um trabalho em parceria com diversos municípios. 

Ainda há outras medidas que estão "na incubadora" para sair. O HC pretende trabalhar em parceria também com a nova gestão do Governo do Estado de São Paulo para auxiliar em uma melhor capacitação em unidades básicas, no aumento de leitos em hospitais secundários, que poderiam receber parte da demanda que é destinada ao HC, e nos mutirões. Em dezembro de 22, o HC realizou um mutirão oncológico e pretende fazer outros com a colaboração do governo estadual.

Outra iniciativa que ajudaria a desafogar a pressão no hospital é a criação do prometido Hospital Metropolitano. No final de setembro de 2022, ainda durante a campanha eleitoral, o ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB) visitou Campinas e anunciou que o desejo antigo de prefeitos da RMC, o novo hospital, localizado em uma área de 40 mil m² da Fazenda Argentina, seria construído. Agora, com a troca de gestão a partir da eleição de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) para governador, o Hospital Metropolitano deverá ocupar uma posição no topo da lista de reivindicações que os prefeitos da RMC farão ao novo ocupante do Palácio dos Bandeirantes. 

"Nós, no HC, temos 400 leitos. Precisaríamos dobrar para começar a pensar em ter uma coisa equânime em relação ao número da nossa população. Nós atendemos 42 cidades do Estado de São Paulo em urgência e emergência. Quando não são esses os casos, quando há outras demandas, passamos para 64 cidades, o que dá em torno de 6,5 milhões de pessoas", acrescentou a superintendente do HC ao falar da necessidade de um novo hospital e mais leitos para a região.