AUTORIDADES APONTAM

Fim da emergência de covid reflete eficiência da vacina

Saúde revela que número de mortes atribuídas à imunização em Campinas é zero

Ronnie Romanini/ [email protected]
06/05/2023 às 09:39.
Atualizado em 06/05/2023 às 10:22
Representantes da saúde divulgaram dados referentes ao processo de imunização na cidade; em vacinas de rotina, Campinas elevou o índice de cobertura em diversas delas (Rodrigo Zanotto)

Representantes da saúde divulgaram dados referentes ao processo de imunização na cidade; em vacinas de rotina, Campinas elevou o índice de cobertura em diversas delas (Rodrigo Zanotto)

Depois de pouco mais de três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a covid-19 não é mais uma Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional. A atualização foi divulgada na sexta-feira (5). A doença vitimou oficialmente aproximadamente 7 milhões de pessoas, porém a estimativa é a de que o número é bem maior, praticamente 20 milhões. Um dos motivos que os especialistas atribuem para a tomada de decisão foi o maior controle que as vacinas trouxeram à pandemia, mas mesmo mais controlada, a pandemia ainda persiste e a covid-19 não irá desaparecer, muito pelo contrário, a população mundial terá que conviver com ela por tempo indeterminado, quiçá para sempre.

Em relação às vacinas, ao mesmo tempo em que as pessoas procuraram a imunização para a própria proteção e também a coletiva, muitos, ainda afetados pelas narrativas antivacina que ganharam força no Brasil nos últimos anos, especialmente durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, não se vacinaram - o que continua sendo um risco. Na sexta-feira pela manhã, a Prefeitura de Campinas lançou a campanha "Cada pessoa vacinada conta", com o intuito de estimular a população a procurar qualquer um dos postos de saúde do município e buscar a vacinação não apenas contra a covid-19, mas também contra todas as doenças imunopreveníveis.

A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea von Zuben, disse considerar que a baixa cobertura vacinal para imunizantes bem estabelecidos há décadas no País, e também os mais recentes, é uma grande crise na saúde pública. Muitos, temerosos ou crentes nas fake news disseminadas, têm medo de reação adversa, especialmente com o início da aplicação da vacina bivalente contra a covid-19, que foi reforçada para estimular a proteção também contra a variante Ômicron, que há praticamente um ano e meio é a dominante no País.

Andrea garante que o medo é injustificado. Das mais de 3,2 milhões de doses aplicadas na população de Campinas, apenas 0,07% das pessoas apresentaram algum tipo de reação adversa. O número trata das notificações, ou seja, depois de uma investigação, muitas das reações sequer são relacionadas à vacina contra a covid-19. Outro dado divulgado pela Prefeitura de Campinas demonstra quão frágeis podem ser os discursos antivacina: o número de mortes atribuídas à vacinação em Campinas é zero.

Mais do que isso, o gráfico acima mostra a "evidente queda do número de casos graves e óbitos após o avanço da vacinação". A linha verde mostra a quantidade de indivíduos com o esquema inicial. As colunas azuis são os casos graves e as vermelhas os óbitos de acordo com os meses desde o início da pandemia. É notável que quando há um avanço na vacinação, há também uma estabilização de mortes e casos severos.

"Alguns (motivos para as pessoas não se vacinarem) nos preocupam bastante. Ouvimos coisas como 'a doença não existe mais, eu achei que não precisava'. Isso é recorrente. Ou que o pediatra disse que não precisava, ou falta de tempo. São coisas de várias naturezas, mas nos preocupa bastante."

Além dos chamados negacionistas, há a população que muitas vezes não sabe que está com a vacina atrasada ou se esquece de tomar. De acordo com a coordenadora do Programa Municipal de Imunização, Chaúla Vizelli, um questionário foi aplicado dentro da estratégia de busca ativa dos não vacinados em Campinas para entender esses motivos.

"Nesse sentido (de esquecimento ou desconhecimento) nós capacitamos ainda mais a nossa equipe, porque - principalmente - na faixa etária menor de dois anos, são crianças que estão frequentemente nos nossos serviços. Então toda a nossa equipe está mobilizada para questionar se a vacina está em dia ou não, para reforçar isso."

Campinas tem 85,1% da população a partir de seis meses com a cobertura vacinal em dia. O primeiro reforço foi aplicado em 59,7% das pessoas com cinco anos ou mais e, mais recente, a vacina bivalente chegou aos braços de 11,2% dos munícipes com 18 anos ou mais. Para a população de 60 anos ou mais, que está elegível para receber a vacina bivalente desde o dia 27 de fevereiro, metade (49%) já procuraram uma unidade de saúde e receberam o imunizante.

Essa faixa etária, inclusive, é a única que atingiu e superou a meta de 90% de cobertura vacinal contra a covid-19, com 100% da população estimada (199,5 mil doses aplicadas). A população de 18 a 59 anos está próxima, com 89,6%, mas entre os adolescentes (12 a 17 anos) e crianças os números são preocupantes.

De 0 a 4 anos apenas 7% se vacinaram, foram 5,1 mil doses aplicadas. De 5 a 11 anos, 56%. E 67,8% dos adolescentes estão com a cobertura adequada em Campinas.

Para a campanha de vacinação contra o vírus Influenza, os números também estão longe da meta. A imunização contra a gripe começou no dia 10 de abril. Desde então, foram 155 mil doses aplicadas, sendo que os idosos foram os que mais compareceram: 45% da população estimada. A porcentagem nos outros grupos decepciona: apenas 28% das puérperas, 27% dos trabalhadores da saúde, 15% das gestantes e 11% das crianças receberam a vacina.

Campinas registrou 38 casos graves de gripe em 2023. Do total, três pessoas morreram. A primeira vítima tinha dois anos e morreu em 5 de março. As demais tinham 44 e 95 e morreram, respectivamente, nos dias 9 e 12 de abril. Em 2022 foram confirmados 190 casos graves e 22 mortes.

Em relação às vacinas de rotina, Campinas elevou o índice de cobertura vacinal em diversas delas, porém ainda insuficiente para que todas atinjam a meta, que é de 90% para a Rotavírus e BCG, que protege contra a tuberculose, 95% nas demais. A BCG é justamente uma das únicas duas em que a meta foi atingida no ano passado, com 91,7% do público-alvo imunizado. A outra, foi a vacina Tetraviral SCRV (sarampo, caxumba, rubéola e varicela), cuja quantidade de doses aplicadas superou a da população estimada, ficando acima de 100% de adesão.

Chaúla Vizelli lembrou e citou a poliomielite em sua apresentação da campanha “Cada pessoa vacinada conta” que tratou do funcionamento das vacinas e da eficácia no Brasil ao longo de décadas. Em 1980 foram instituídos os dias nacionais de vacinação como estratégias que poderiam erradicar a poliomielite. Nove anos depois, o objetivo foi atingido. Foi em 1989 o último caso registrado no Brasil. Cinco anos depois, em 1994, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), concedeu o certificado de erradicação da poliomielite, porém especialistas dizem que o País tem, no momento, um risco elevado de que a doença volte a existir no Brasil. Atualmente, são mais de 20 vacinas disponíveis para proteger a população. Calcula-se que os Programas Nacionais de Imunização previnem, por ano, cerca de 174 mil mortes de crianças menores de cinco anos em todo o mundo.

FIM DA EMERGÊNCIA

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), comemorou em suas redes sociais o fim da covid-19 como Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional e reforçou os apelos para que a população se vacine. "A OMS anunciou que o vírus da covid-19 não representa mais uma ameaça sanitária internacional. Essa é uma notícia fantástica e faz com que o dia de hoje seja histórico. Só chegamos a este momento por causa da vacina. 'Bora' vacinar, gente!"

Ainda considerada pandêmica, a covid-19 continua vitimando uma pessoa a cada três minutos. O fim da emergência significa que os países podem fazer a transição do modo de emergência para o manejo da covid-19 juntamente com outras doenças infecciosas, de acordo com a OMS.

"Não estamos mais em emergência - as vacinas possibilitaram isso. O que a gente ainda está, e não vai deixar de estar, é em uma pandemia, que é uma coisa diferente. Pandemia é o número de casos elevados em caráter epidêmico em mais de um continente do mundo. E, na verdade, a doença veio para ficar. Vamos conviver para sempre com a covid-19. O importante é realmente tomar as vacinas para que não haja aumento do número de casos ou a possibilidade de novas variantes", concluiu Andrea von Zuben, diretora do Devisa.

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