IMUNIZAÇÃO

Falta de vacinas leva prefeito de Campinas a pedir reunião com ministro

As principais em falta são a BCG, contra a tuberculose e a que protege do rotavírus

Ronnie Romanini/ [email protected]
10/08/2022 às 09:45.
Atualizado em 10/08/2022 às 09:51
Mães com os seus filhos aguardam a vez na fila da campanha de multivacinação em Campinas, sem saber se o estoque de vacinas será suficiente: meta de cobertura vacinal é de 90% (Kamá Ribeiro)

Mães com os seus filhos aguardam a vez na fila da campanha de multivacinação em Campinas, sem saber se o estoque de vacinas será suficiente: meta de cobertura vacinal é de 90% (Kamá Ribeiro)

Diante do número insuficiente de doses de alguns imunizantes para a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação, o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), e também vice-presidente de Saúde da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), solicitou uma audiência emergencial e presencial com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por meio de um ofício. A intenção é discutir com o responsável pela pasta de Saúde do governo federal a regularização do abastecimento de vacinas aos municípios.

No ofício, Dário pontuou que "nos últimos anos as coberturas vacinas no país vêm caindo, aumentando o risco de ocorrência de casos e surtos de doenças imunopreveníveis; considerando que a intermitência no abastecimento de vacinas impacta na adesão da população às campanhas (...) a FNP solicita a referida audiência para discutir alternativas para o referido pleito".

As principais vacinas em falta são a BCG, que protege contra a tuberculose, e a contra o rotavírus. A última, inclusive, está com estoque insuficiente na cidade de Campinas, o que fez com que aproximadamente 1/3 (23) dos Centros de Saúde da cidade não conseguissem ofertar o imunizante no primeiro dia da campanha nacional, na segunda-feira.

A Secretaria de Saúde admitiu o baixo número de doses contra o rotavírus na cidade e disse que nos últimos dois meses o município recebeu apenas 50% do estoque necessário para a vacinação, o que causou o desabastecimento nos postos de saúde. As prefeituras não podem comprar doses, sendo que esta competência é do Ministério da Saúde, que repassa aos Estados para redistribuição aos municípios.

Ainda na terça-feira (9), ficou definido um remanejamento das doses de rotavírus, com postos de saúde que não têm ou estão com quantidades insuficientes recebendo mais unidades de locais com mais estoque. A Secretaria afirmou que todos os Centros de Saúde que estão vacinando durante a campanha estarão abastecidos com o imunizante a partir de hoje.

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde informou que tanto a aquisição como a distribuição da vacina contra o rotavírus é de responsabilidade do Ministério da Saúde. A Pasta confirmou que redistribui o item para os municípios, mas na medida em que os lotes chegam a São Paulo. 

A Secretaria continuou a nota dizendo que o governo federal tem enviado as doses de maneira irregular, com quantitativos parciais. "A pasta estadual segue cobrando o Ministério da Saúde para que as entregas sejam regularizadas e está fazendo remanejamento de doses para que não ocorra falta do imunizante". O Ministério da Saúde não retornou o contato até o fechamento da matéria.

A campanha que começou na segunda-feira pretende atualizar a carteira de vacinação de crianças e adolescentes. A meta de vacinação contra o rotavírus é de 90%, mas em 2021 a cobertura vacinal foi de pouco mais de 81%. O ano passado foi o segundo consecutivo em que o índice de imunização fixou abaixo da meta, sendo que em 2020 cerca de 87,5% do público-alvo foi vacinado.

A vacina contra a tuberculose (BCG) também tem a meta de 90% e é mais uma que a aplicação no ano passado ficou abaixo do ideal. Em 2021, a cobertura na cidade ficou em 72,82%. A BCG está em falta em outras cidades, mas em Campinas a aplicação acontece em dias e horários específicos em cada Centro de Saúde. O objetivo da medida é otimizar as doses, uma vez que cada frasco comporta 20 e o prazo de validade após a abertura é curto, de poucas horas. A população pode conferir a programação completa por meio do QR Code abaixo.

Último caso de poliomielite no país foi registrado em 1989

A última vez que o Brasil registrou um caso de poliomielite foi em 1989. Em 1994, após cinco anos sem nenhum caso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu que o vírus da paralisia infantil estava eliminado no país. Entretanto, especialistas alertam que é necessário que o imunizante seja administrado nas crianças mesmo sem detecção do vírus há mais de três décadas.

O temor se justifica por uma somatória de motivos: circulação do vírus pelo mundo, notificação de casos em outros países, índices de vacinação abaixo da meta de 95%, e a constatação da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) de que o Brasil corre um risco real de voltar a registrar casos da doença.

"Enquanto houver circulação do vírus no mundo, sempre há risco de retorno da doença", afirma. "Se há uma pessoa contaminada, em meio a uma população que não está vacinada, o poliovírus pode se espalhar rapidamente", explicou a diretora da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Mônica Levi. 

Em julho deste ano, os Estados Unidos detectaram uma contaminação por poliomielite depois de 29 anos. O caso foi identificado no Condado de Rockland, em Nova York, e de acordo com o Departamento de Saúde do estado, a infecção pode ter acontecido fora do país. Também em 2022, Moçambique (em maio) e Malauí (em fevereiro) registraram pacientes diagnosticados com pólio.

Em maio, a OPAS enquadrou o Brasil em um seleto grupo de países da América Latina que correm o risco de voltar a apresentar casos da doença se a vacinação não começar a subir novamente. "A cobertura da pólio está baixa e muito abaixo do necessário para conseguir manter o País seguro e impedir a reintrodução do vírus que a gente não vê há décadas", disse Mônica Levi.

No Brasil, o índice de crianças vacinadas contra a poliomielite não ultrapassa a linha de 90% desde 2016. Em 2021, o porcentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%. Ou seja, a cada 10 crianças, três não estão plenamente protegidas contra o poliovírus. Em Campinas, o percentual do ano passado ficou em 82,77%, terceiro ano consecutivo em que o índice não atingiu 90%. Campinas tem uma estimativa de 58.813 crianças dentro do público alvo para imunização contra a poliomielite.

A meta da campanha nacional de vacinação é que 95% das crianças de um até cinco anos sejam vacinadas. A vacinação contra a poliomielite consiste em três doses para os bebês: aos 2, 4 e 6 meses, com a vacina injetável (VIP) e de vírus inativado. Depois, mais duas doses são administradas como reforço, uma quando a criança está com 15 meses e outra entre 4 e 5 anos. Há também vacina injetável contra a poliomielite indicada para pessoas de até 19 anos ou para situações especiais, como indivíduos imunocomprometidos. A Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação começou na segunda-feira (8) e vai até o dia 9 de setembro. (Com Estadão Conteúdo)

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