NEOPLASIAS

Em seis anos, Campinas tem elevação de 11,6% em óbitos decorrentes de câncer

Cerca de 1,6 mil pessoas morreram em 2023, uma média de 4,5 óbitos por dia

Paulo Medina/ [email protected]
17/02/2024 às 10:50.
Atualizado em 17/02/2024 às 10:50
Campinas registra em torno de 78 mortes de homens por ano em decorrência do câncer de próstata, que é o tumor mais frequente nos homens na região; colo-retal é a neoplasia mais maligna nos últimos seis anos na cidade, com 1.100 óbitos registrados (Alessandro Torres)

Campinas registra em torno de 78 mortes de homens por ano em decorrência do câncer de próstata, que é o tumor mais frequente nos homens na região; colo-retal é a neoplasia mais maligna nos últimos seis anos na cidade, com 1.100 óbitos registrados (Alessandro Torres)

O número de mortes em decorrência de câncer aumentou 11,6% em Campinas nos últimos seis anos, segundo dados da Secretaria de Saúde. A quantidade de óbitos causados pela doença subiu de 1.487 em 2018 para 1.660 em 2023. Desde 2018, 9.436 pessoas morreram pela doença na cidade, média de quatro e meio óbitos por dia, considerando todos os tipos de câncer.

As neoplasias ainda são a segunda maior causa entre mortes gerais em Campinas, de acordo com a pasta da Saúde. Conforme os dados, os cânceres são a causa básica atribuída a 20% dos óbitos entre campineiros, atrás apenas de doenças cardiovasculares.

As neoplasias malignas com mais mortes em Campinas nos últimos seis anos foram de cólon/reto, com 1.100 óbitos, brônquios e pulmão, com 1.095 mortes, mama, com 759, pâncreas, com 593, estômago, com 535 e próstata, com 532 óbitos.

O oncologista do Centro de Oncologia de Campinas (COC), Fernando Medina, explicou que a mortalidade por câncer em Campinas registra diferentes índices, variando conforme o tipo de câncer. Ele afirmou que as causas de morte estão ligadas à ausência de prevenção, falta de realização de exames e o diagnóstico tardio. “Por exemplo, houve um aumento na mortalidade por câncer de mama entre 2010 e 2021, alcançando o maior coeficiente de óbito de 12 anos no triênio de 2019 a 2021. Especialmente a taxa de morte por câncer de mama de 2019 a 2020 foi de 18,5 mulheres a cada 100 mil mulheres, com uma baixa procura por exames para detectar a doença. Apenas 26% das mulheres procuraram fazer mamografia, índice que é considerado bastante baixo e que contribui para esse cenário.”

De acordo com Medina, a mamografia é o exame mais importante para o diagnóstico precoce, pois ele é feito ainda dentro da célula, o que gera uma possibilidade de cura de 100%. “Esse tipo de diagnóstico só é feito com a mamografia, e na nossa região o índice de mamografia é extremamente baixo. Isso contribui, sem dúvida nenhuma, para que o diagnóstico seja tardio e, obviamente, repercute na mortalidade no final”, analisou Medina.

O oncologista também pontuou que a falta de conhecimento e o baixo acesso da população a tratamentos influencia nos indicadores de mortalidade. Ele chamou a atenção para os números do câncer de próstata.

“Campinas registra em torno de 78 mortes de homens por ano em decorrência do câncer de próstata, que é o tumor mais frequente nos homens na região, com um indicador de 12,8 óbitos para cada 100 mil homens. Esse índice é inferior ao da Região Sudeste, porém ainda é bastante alto. Isso se deve principalmente à falta de conhecimento da população masculina sobre diagnóstico precoce dessa doença e ao aumento da expectativa de vida da população. O câncer de próstata, na maioria das vezes, acomete homens a partir dos 65 anos”, explicou.

“Lembrando que a população de Campinas tem dificuldade de acesso ao diagnóstico e também do tratamento. Infelizmente, aqui na nossa região, existe muito pouco acesso à mamografia, aos exames de PSA (que pode detectar o câncer de próstata), aos exames de papanicolau. Isso faz com que essas doenças masculinas e femininas sejam bastante prevalentes, o que leva ao diagnóstico tardio e aumento da mortalidade”, acrescentou.

Somadas, as neoplasias malignas de mama e próstata resultaram em 1.291 mortes entre mulheres e homens no período analisado, ou seja, 13,7% do total de óbitos dentre mais de 13 tipos de cânceres.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e campineiros que fazem tratamento para combater o câncer apontam que a prática de exercícios físicos, se alimentar de maneira saudável e ter boa aceitação aos procedimentos médicos são medidas que dão resultados. Para prevenir o câncer, deve-se adotar alguns hábitos, como evitar o tabaco, manter o peso ideal, praticar atividade física, ter alimentação saudável e realizar exames preventivos.

Morador do Distrito de Sousas, o empresário Ricardo Vozza, de 62 anos, descobriu um câncer de próstata no final de 2022, quando sentiu dificuldades para urinar. Ele contou ter encarado a doença com pensamento positivo e orações, especialmente nas 38 sessões diárias de radioterapia, com pausas somente aos finais de semana e feriados de Natal e Ano-Novo. Vozza destacou que caminhadas de cinco a sete quilômetros por dia e uma alimentação com “suco verde” ajudaram no tratamento. O tratamento se iniciou em maio do ano passado.

“Sou muito positivo e ativo. A quimioterapia é a fase mais agressiva, mas me preparei bem com caminhadas e alimentação. Tenho uma máquina que extrai o suco do alho, da cebola, gengibre, limão, maçã, couve, espinafre, agrião. Tomei um 'suco verde' todos os dias e isso fez uma diferença brutal no tratamento.”

Vozza finalizou as sessões de radioterapia no dia 2 de fevereiro e fará novos exames para confirmar o que tanto espera: a cura. “Tive ardência na boca e perda do paladar durante a quimioterapia, rachadura nos dedos, e hoje tenho indícios de cura. É preciso ser o mais positivo possível, tem que se exercitar, se alimentar da melhor maneira. O que faz você melhorar, principalmente, é acreditar. Enquanto eu estava na radioterapia eu mentalizava que a radiação destruía as células cancerígenas, como se fosse um jogo de videogame”, disse. Vozza elogiou a equipe responsável pelo tratamento realizado em um complexo particular de Campinas. “São espetaculares, positivos e solícitos.”

O engenheiro civil Sandro Osaki, de 62 anos, do Jardim dos Oliveiras, descobriu um tumor maligno no estômago em dezembro de 2017 após sentir uma queimação enquanto estava de férias do trabalho. Depois de meses de superação, hoje Osaki faz controle periódico. “Foi constatado um tumor maligno em uma biópsia. O primeiro impacto foi bastante forte, pesado, difícil.”

Sandro Osaki recebeu apoio da família após esse primeiro impacto e se apegou ao histórico familiar, uma vez que sua mãe já passara por um tratamento bem-sucedido contra um câncer. Em março de 2018, Osaki perdeu 25 quilos e passou por um dos momentos mais delicados. “Para seguir com a quimioterapia, eu precisei me alimentar por sonda até conseguir recuperar 18 quilos em sete meses. Fiz as sessões de quimioterapia até o fim de 2018 e tive ótimos resultados. O tumor principal, bem agressivo, reduziu 90% o tamanho, e o fígado, por estar ao lado, teve duas lesões”, lembrou.

Na sequência, em março de 2019, o engenheiro civil fez uma cirurgia que reduziu o estômago em 70%. “Após isso, tive o tratamento protocolar com sessões que alternam quimioterapia de manhã e radioterapia à tarde. Hoje, faço os periódicos do tratamento gástrico e depois de cinco anos a lesão do fígado, que aparentemente sumiu no periódico de maio de 2023, voltou e recomecei a quimioterapia. Em 2023, a imunoterapia entrou no tratamento. Terminei a quimioterapia no dia 8 de janeiro de 2024, acabei os nove ciclos e agora faço apenas a imunoterapia para minimizar os efeitos da 'quimio'”.

Atualmente, Osaki aguarda o resultado de uma ressonância enquanto trabalha respeitando seus limites físicos. Ele recomendou “muita disciplina” e “fé” para todos que passam por essa batalha.

MEDIDAS EM CAMPINAS

A Prefeitura de Campinas destacou a realização de ações preventivas, a divulgação de informações contra a doença e exames como essenciais na luta contra o câncer. A Prefeitura pontuou a alta do câncer no Brasil e no mundo e informou que diversas medidas têm sido tomadas para enfrentar a doença na cidade, como ações para prevenção e tratamento precoce dos diversos tipos da doença.

“Em relação à prevenção e tratamento em tempo oportuno, são divulgadas informações para a população sobre como se prevenir, que vão desde hábitos de vida saudáveis, exames de rotina e até discussões sobre a doença. O intuito é chamar a atenção das pessoas sobre a importância de buscar atendimento e prevenção. São realizadas ainda campanhas específicas, como Outubro Rosa e Novembro Azul. Toda a rede pública, em seus diversos níveis de atenção, está ligada a esta linha de cuidado, ou seja, desde a Atenção Primária à Saúde até os Serviços de Especialidades Secundárias, Rede Hospitalar e Centros Especializados ao Tratamento em Câncer. O acompanhamento do paciente é realizado de acordo com sua necessidade”, explicou o município, que oferece tratamento na ala de Oncologia na Rede Municipal Dr. Mário Gatti.

DOENÇAS CARDIOVASCULARES MATAM MATAM MAIS

Os óbitos por doenças cardiovasculares são os únicos que superam as mortes por câncer em Campinas. No entanto, no balanço da Prefeitura não há informações sobre o total de mortes por doenças ligadas ao coração. Em 2023, reportagem do Correio Popular mostrou que a Rede Municipal de Saúde registrou uma média de 2,3 mortes por infarto por dia entre janeiro e julho daquele ano nos hospitais da cidade. Foram 496 óbitos no período, 6,4% a mais que os 464 registrados no mesmo período de 2022. O número também é o maior para os sete primeiros meses dos últimos cinco anos, de acordo com a Secretaria.

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