EPIDEMIA

Em menos de dois meses, casos de dengue atingem 39% do total do ano passado

Campinas confirmou 4.518 infecções até a manhã de segunda-feira; governo estadual repassou R$ 5,5 milhões para auxiliar a cidade no combate à doença

Paulo Medina/ [email protected]
20/02/2024 às 08:59.
Atualizado em 20/02/2024 às 08:59
Busca por atendimento de casos suspeitos de dengue tem crescido nos centros de saúde da cidade; Prefeitura afirmou que acompanha diariamente a situação e que há reforço na equipe quando necessário (Alessandro Torres)

Busca por atendimento de casos suspeitos de dengue tem crescido nos centros de saúde da cidade; Prefeitura afirmou que acompanha diariamente a situação e que há reforço na equipe quando necessário (Alessandro Torres)

Nos primeiros 50 dias de 2024, Campinas já registra 39,3% dos casos de dengue confirmados em todo ano passado. São 4.518 infecções pela doença neste ano, de acordo com dados divulgados na segunda-feira (19) pela Prefeitura de Campinas. Em 2023, foram 11.487 no total. Em relação à última atualização, a alta da dengue é de 41%, contabilizando uma quantidade de 1.314 casos entre sexta-feira e na segunda-feira. Na última sexta-feira (16), eram 3.204 infecções. A Prefeitura informou que o aumento expressivo ocorreu também em virtude de um represamento de dados durante o Carnaval, portanto os novos casos confirmados são de um período maior do que apenas três dias.

Diante desta realidade, o governo estadual repassou R$ 5,5 milhões para Campinas. A Secretaria Municipal de Saúde aplicará o montante em ações de assistência e vigilância em saúde, no reforço das equipes de nebulização, nas atividades casa a casa, em exames laboratoriais, entre outras frentes. Os repasses ocorreram mediante antecipação do pagamento do Incentivo à Gestão Municipal (IGM SUS Paulista) para suporte aos municípios no enfrentamento das arboviroses urbanas, sobretudo à dengue. O Estado de São Paulo registrou, até o dia 15 de fevereiro, 51.175 casos neste ano. O pagamento, anteriormente previsto para ocorrer em maio de 2024, faz parte das ações contra a dengue anunciadas pelo Centro de Operações de Emergências (COE), coordenado pela Secretaria de Saúde de São Paulo.

Os recursos foram transferidos na modalidade “fundo a fundo”, destinada à cobertura das ações e serviços de saúde implementados pelos estados, Distrito Federal e municípios, cujos valores da primeira parcela do componente fixo são apresentados na tabela de pagamento da antecipação do IGM SUS Paulista.

Segundo o governo estadual, os recursos provenientes do programa IGM SUS Paulista se somam às medidas de intensificação de suporte aos municípios. “Além disso, se necessário e após avaliação técnica, equipamentos portáteis e pesados podem ser disponibilizados para a utilização nas cidades. Esse trabalho será apoiado pela Defesa Civil Estadual, que também intensificará, em parceria com as Defesas Civis Municipais, o trabalho de visita às residências e a orientação aos cidadãos em todo o Estado."

Perguntada sobre as prioridades no investimento dos R$ 5,5 milhões, a Secretaria de Saúde de Campinas informou que recebeu os valores na quinta-feira (15) e ponderou que está “avaliando o quanto desta verba veio, de fato, destinada para o programa de dengue, isto é, o quanto trata-se de incremento e o quanto foi incorporado de outros programas, valor que já era repassado anteriormente”.  

Segundo a administração, o município vai seguir a resolução que orienta a aplicação deste repasse nas ações assistenciais da atenção básica e prevenção da dengue e a verba será destinada para assistência e vigilância em saúde, ampliação de recursos humanos, reforço de equipes de nebulização, atividades casa a casa, realização de exames laboratoriais, logística, ações de comunicação, informação e educação da comunidade, intersetorialidade, entre outras medidas.

ESPERA POR ATENDIMENTO

Campeão disparado de casos na cidade, o Jardim Eulina teve a situação agravada nos últimos dias. O número de casos entre pessoas atendidas no Centro de Saúde do Jardim Eulina saltou 56,5%, passando de 288 para 451 casos (incidência de 2.137,3 casos a cada 100 mil habitantes). A disparidade é acentuada em relação às outras localidades da cidade. A região do CS Vila 31 de Março é a segunda com maior incidência, mas bem abaixo do Eulina: 1.252,5 a cada 100 mil habitantes e 99 casos. Na sequência, também com mais de mil casos por 100 mil habitantes, está a região do CS Jardim Lisa com 1.111,4 de incidência e 93 confirmações. Por fim, a região do CS Santo Antônio está com 116 infecções confirmadas e 794,1 casos a cada 100 mil moradores.

O atendimento é intenso no CS Jardim Eulina. O taxista Marco Antonio Folgari, que mora há 23 anos no bairro, aguardava por volta das 13h30 de segunda-feiraa realização do exame de sangue. “Faz umas cinco horas que estou esperando para fazer o exame de sangue. Tenho certeza que estou com dengue, estou mal desde sexta-feira e não consigo trabalhar ruim desse jeito. Muita dor nas costas, nos olhos. Se existe um surto aqui no bairro, peço que aumentem as equipes para dar suporte e uma assistência mais forte para casos de dengue e de covid-19”, pediu.

A cozinheira Débora Galeriani, de 28 anos, se disse “preocupadíssima” com a situação no bairro e falou que a espera para ser atendida já atingia 1h30. “Aqui no bairro está bem feia a situação, estou com suspeita de dengue, muita febre e dor no corpo, manchas na pele. Tenho medo de a minha filha de três anos pegar”, disse.

A feirante Maria Cícera, de 53 anos, e a aposentada Adilza Costa, de 61 anos, aguardavam nesta segunda os resultados dos exames feitos pela equipe do Centro de Saúde na sexta-feira. As condições de saúde delas melhoraram, mas elas defendem “maior atenção” na fiscalização de imóveis vazios no Eulina. “Aqui no bairro são muitos imóveis vazios e rodeados de mato”, disseram.

Questionada sobre a demora nos atendimentos, a Secretaria de Saúde informou, por nota, que não procede a informação de que pacientes teriam esperado até quatro horas para coleta de exames no Centro de Saúde do Jardim Eulina. “O período da manhã de segunda-feira costuma ser o de maior demanda de usuários, por conta do início dos atendimentos na semana, e a espera registrada foi de até duas horas no período. A Pasta destaca ainda que acompanha diariamente o processo de atendimento em todos os 67 centros de saúde da cidade e, quando necessário, realiza reforço no pessoal. Todos os pacientes foram assistidos nesta segunda-feira, 19 de fevereiro.”

TESTES EM ALTA

O balconista de uma farmácia no Parque Centenário, Paulo Vicentin, de 74 anos, relatou que a procura por testes de dengue cresceu cerca de 40% na loja. “Aumentou bem a procura nos últimos 15 dias para fazer o exame. Uns 30% dos exames dão positivos. Moradores do Jardim Eulina também fazem testes aqui”, contou. Os testes na loja haviam se esgotado no início da tarde de segunda-feira. 

O infectologista Arnaldo Gouveia Junior explicou que há um prazo específico para se ter confiabilidade nos resultados dos testes. “Os exames da dengue feitos na farmácia, na verdade, são exames bastante interessantes, porque eles combinam a pesquisa de antígeno, que é um fragmento do vírus, o NS1, que fica positivo entre o primeiro até o quarto dia dos sintomas, e junto a isso eles fazem também a dosagem de IgG e IgM, que fica positivo após o sexto dia. Existe uma zona cinza que é entre o quarto e o quinto dia, porque pode dar falso negativo, mas o exame feito entre o primeiro e o terceiro dia, e a partir do sexto dia, é bastante confiável. Quem vai dar o laudo do resultado vai ser um farmacêutico, uma pessoa capacitada.”

De acordo com o infectologista, uma vez confirmada a dengue, é importante que o paciente receba atendimento médico o mais breve possível e priorize a hidratação para minimizar os riscos da doença. “Pode ser no serviço médico de urgência, pode ser no seu médico de preferência, e lá ele vai fazer pelo menos um hemograma. Eventualmente, pessoas com comorbidade podem ficar internadas em observação, isso será decidido pelo médico na hora. Toda vez que houver um exame positivo, é preciso procurar um médico. Isto posto, independente da consulta médica, a única medida eficaz para reduzir as complicações de dengue é fazer uma boa hidratação. A boa hidratação que a gente fala para um adulto seria pelo menos uns 4 litros de líquido por dia. Pode ser água, chá, água de coco. A gente sabe que isso impacta numa redução dos casos graves de dengue.”

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por