Jornalista Leila de Oliveira mantém atualizada a carteira de vacinação da filha Luana, de 3 anos e meio (Rodrigo Zanotto)
O recente alerta do Ministério da Saúde de que Campinas tem 'risco muito alto' de novos casos de poliomielite levou a Prefeitura a lançar nova estratégia de conscientização e a pedir, mais uma vez, aos pais ou responsáveis que vacinem as crianças contra a poliomielite, doença considerada erradicada no Brasil em 1994. Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou levantamento apontando que três a cada 10 crianças na cidade estão com as vacinas do calendário nacional de imunização atrasadas.
Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 80% dos municípios do País têm risco alto ou muito alto de reintrodução da doença. Campinas tem risco muito alto, pois conta com um fluxo de pessoas de diversas regiões do mundo devido ao Aeroporto Internacional de Viracopos e da extensa malha rodoviária que passa pela cidade. Além disso, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) é considerada polo industrial, comercial, universitário e de pesquisa, além de receber grande número de refugiados.
A nova estratégia divulgada na quarta-feira (9) é uma campanha publicitária batizada de "Não paralise o sonho de uma criança", que será veiculada na mídia local, outdoors e redes sociais. Vários eventos estão sendo planejados pela Secretaria de Saúde. O objetivo é sensibilizar as pessoas quanto à importância das vacinas, principalmente da poliomielite. Para incentivar a vacinação e "premiar" quem atualizar a carteira de vacinação, a Secretaria de Cultura, em parceria com o Circo do Chaves, vai doar um par de ingressos para cada criança vacinada. A distribuição começará nos próximos dias.
A meta é atingir 95% do público-alvo, que soma 58.813 crianças. Segundo dados divulgados quarta-feira pela Secretaria Municipal de Saúde, apenas 63% das crianças até 4 anos foram imunizadas contra a doença. Em 2015, esse índice chegou a 101,7% e no ano passado a cobertura vacinal atingiu 82,8%.
A vacinação acontece em 66 centros de saúde da cidade (apenas o CS Boa Esperança não tem sala de vacina), das 8h até 30 minutos antes do fechamento de cada unidade.
Em outubro, agentes de saúde deram início à busca ativa de crianças cadastradas nos centros de saúde.
"A descoberta das vacinas foi o maior avanço da humanidade em termos de saúde. Estamos agindo com diversas medidas para atingir a meta de cobertura vacinal e, dessa forma, nos livrarmos da ameaça da paralisia infantil. Lançamos essa campanha para sensibilizar os pais a procurar pela dose. A vida de uma pessoa fica comprometida por não ter recebido uma gotinha", afirmou o prefeito Dário Saadi (Republicanos).
Para tentar atingir a meta, a Prefeitura chegou a distribuir as vacinas nas unidades de educação infantil, quando o índice estava menor que 40%, na primeira quinzena do mês passado.
O secretário de Saúde Lair Zambon disse que a queda nas coberturas vacinais é um fenômeno global, não é só no Brasil e não é só em Campinas, e se acentuou com a pandemia. "Especificamente em relação à poliomielite, também não existe mais a percepção de risco. Hoje, ninguém mais conhece um caso dessa doença - o último foi registrado no Brasil em 1989. Mas a poliomielite ainda existe no mundo e as baixas coberturas vacinais aumentam o risco de reintrodução do vírus", disse.
A jornalista Leila de Oliveira também defende as vacinas como prevenção de doenças e mantém atualizada a carteira de vacinação da filha Luana, de 3 anos e meio. "Manter a carteira de vacinação atualizada faz parte das responsabilidades de ser mãe. Se hoje eu tenho boa saúde, é também graças às vacinas. Por qual motivo eu agora negaria esse direito à minha filha?", enfatizou Leila.
Para a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea von Zuben, a situação é bastante preocupante. "Existe o risco real de a paralisia infantil e outras doenças da infância serem reintroduzidas".