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Com pandemia sob controle, 'Comitê Covid' chega ao fim em Campinas

Hospital Ouro Verde desativa cinco leitos pediátricos de UTI para covid-19

Ronnie Romanini/ [email protected]
12/08/2022 às 09:48.
Atualizado em 12/08/2022 às 09:48
O prefeito Dário Saadi (de costas, à esquerda) comanda a última reunião do Comitê Municipal de Enfrentamento da Pandemia de Infecção Humana pelo novo Coronavírus (Divulgação)

O prefeito Dário Saadi (de costas, à esquerda) comanda a última reunião do Comitê Municipal de Enfrentamento da Pandemia de Infecção Humana pelo novo Coronavírus (Divulgação)

Aconteceu na quinta-feira (11) a última reunião ordinária do Comitê Municipal de Enfrentamento da Pandemia de Infecção Humana pelo novo Coronavírus (covid-19) de Campinas. Criado em 2020, o Comitê apenas será acionado novamente por convocação em caso de necessidade, como o surgimento de uma nova variante que cause um aumento de casos e demande uma tomada de decisões intersetorial e com agilidade. Até então, as reuniões do Comitê aconteciam semanalmente ou quinzenalmente, às quintas-feiras.

Com 210 reuniões realizadas desde a sua criação, o prefeito Dário Saadi (Republicanos) agradeceu a dedicação dos membros do Comitê e exaltou o trabalho realizado. "Mesmo com a formação de médico, assumir a Prefeitura e dois meses depois enfrentar a nova onda da pandemia foi bastante desafiador para mim como prefeito. Mas tivemos a sorte de contar com um comitê intersetorial para dar o suporte técnico na conduta das ações. As discussões extremamente qualificadas e decisões importantes tomadas nas reuniões nos levaram a ter uma conduta exitosa, que levou Campinas a ser uma das cidades de referência na condução da pandemia." 

O Comitê intersetorial é composto por membros de 15 secretarias municipais, três autarquias e da Defesa Civil. Em alguns momentos, as decisões do Comitê foram ainda mais restritivas que a do Estado, como na manutenção do uso de máscaras em ambientes fechados das unidades escolares até o fim do mês passado.

Pandemia controlada?

A decisão seria um indicador de que estamos caminhando para um momento mais tranquilo da pandemia? A médica infectologista e coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS), Valéria Almeida, explicou que é difícil dar um prognóstico de como será a situação epidemiológica nos próximos meses, mas que, agora, todo o serviço de saúde está organizado e capacitado para lidar com as infecções pelo coronavírus. Com a possibilidade de que o vírus se torne endêmico, Valéria explicou que a covid-19 continuará sendo acompanhada e monitorada, mas como uma doença inserida dentro da rotina e que existirá por muito tempo. 

"No começo da pandemia a gente falava muito que teríamos que conviver com o novo normal, que é saber que o SARS-CoV-2 vai continuar e teremos infecções pelo vírus como continuamos tendo com o H1N1 após a pandemia de 2009 (...) Temos que ficar sempre alertas e avaliando como a situação se encaminhará nos próximos meses. Quantas vezes fomos surpreendidos pela pandemia? Então é importante ficar alerta, mas dois anos depois, com a experiência que adquirimos, acredito que estamos preparados para enfrentar os desafios que surgirem".

A coordenadora do CIEVS explicou a função do Comitê em seu início e falou sobre o motivo de não ser mais necessária a realização de reuniões ordinárias. "A gente estava diante da emergência de uma pandemia em que precisávamos realizar muitas discussões e tomar decisões rápidas, baseadas em muitas coisas ainda desconhecidas à época. Agora temos dois anos de pandemia e aprendemos muito. Nós adequamos muitas situações, reestruturamos vários setores, como na questão dos leitos, nos diagnósticos. Retomaremos as atividades se for necessário adotar e articular medidas coordenadas para conter a disseminação e melhorar a assistência diante de um evento fora do esperado."

No momento, a situação não seria essa. A infectologista informou que todos os serviços estão estruturados e sabem como lidar com a infecção pelo coronavírus, portanto a vigilância continuará, mas as reuniões intersetoriais acontecerão apenas se for preciso.

Relembrando temas que foram debatidos pelo Comitê, Valéria enumerou alguns, como o hospital de campanha, abrigo de sintomáticos respiratórios para pessoas em situação de rua, transformações de leitos gerais para covid-19, definição de protocolos sanitários, os serviços que abriam e fechavam de acordo com o estágio da pandemia e até a definição à época pela manutenção da exigência de máscaras nos ambientes fechados de unidades escolares - mesmo quando o Estado de São Paulo havia optado pelo fim da obrigatoriedade.

Em relação à situação epidemiológica, o fim das reuniões ordinárias do Comitê acontece em um momento em que os casos e óbitos estão mais frequentes que meses atrás, embora, nas mortes, ainda muito distante de outros momentos mais graves. 

De acordo com o Painel covid-19, que monitora os dados da pandemia em Campinas, o último mês foi o terceiro com mais mortes neste ano, 76. A maior quantidade aconteceu em janeiro (165) e fevereiro (193), período em que houve a aparição da variante Ômicron na cidade. A variante fez o recorde de casos ser superado com bastante folga, o que também culminou em uma ascensão nos óbitos. Após fevereiro, foram dois meses de queda nas vítimas da pandemia, com março registrando 69 mortes e abril apenas 10, o menor número em um mês de 2022. Desde então, os óbitos estão em crescimento, com 17 em maio, 52 em junho e 76 em julho. Como comparação, o mês com menos mortes nos primeiros sete de 2021 foi janeiro, com 191, e o com mais vítimas foi março, com 646.

A médica infectologista explicou que o motivo para o aumento de óbitos nos últimos meses não foi o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), a flexibilização de máscaras, o período de inverno ou outras medidas que possam ter diminuído a percepção da população quanto à necessidade de ainda se cuidar. Para ela, a responsabilidade é do surgimento de sublinhagens da Ômicron, mais especificamente a BA.4 e BA.5, que possuem maior escape em relação à proteção que as vacinas dão contra infecção e também em relação a uma infecção anterior.

Ela explicou também que quanto mais casos, maior a chance de óbito em pessoas já fragilizadas. "Às vezes uma pessoa que tem uma doença de base acaba adquirindo a infecção e vai a óbito. Muitas vezes os óbitos estão relacionados a condições pré-existentes do paciente, pois não houve impacto nos leitos, não precisamos aumentar a quantidade. Pessoas com comorbidades, com doenças mais graves, quando adquirem infecções tanto pelo SARS-CoV-2 como pelo H1N1, têm maior risco de evoluir a óbito."

Por isso, é importante manter os cuidados com a doença, principalmente pessoas que fazem parte de grupos mais vulneráveis. "Temos que lembrar que o vírus foi introduzido na humanidade e continua aí. É um vírus que a gravidade é alta para pessoas imunossuprimidas, com doenças crônicas, idosas. As maiores taxas de mortalidade pelo vírus estão nessas populações. Então é preciso evitar o contato com pessoas com sintomas respiratórios. Quem tiver doente, com diagnóstico da covid-19, não deve visitar a casa de pessoas idosas ou com comorbidades. É importante manter a vacinação atualizada, lavar as mãos, evitar lugares com aglomeração e ter cuidado ao espirrar e tossir perto de outras pessoas. Temos que lembrar diariamente desses cuidados".

Hospital Ouro Verde 

Por conta da queda no número de internações de pessoas com covid-19 e outras doenças respiratórias, o Hospital Ouro Verde reverteu a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) destinada para pacientes com covid-19 para a internação de pacientes gerais. A ação aconteceu na quarta-feira. Também foi anunciada para hoje a desativação de cinco leitos pediátricos de UTI no hospital.

Em junho, segundo os números divulgados pela Prefeitura, foram 348 hospitalizações em leitos de enfermaria e de UTI nos hospitais que fazem parte do SUS municipal. Em julho e agosto foram 274 e 57 internações, respectivamente, sendo que os dados do atual mês são referentes até o dia 9. Em uma média diária, 11,6 pacientes foram internados em junho, 8,83 em julho e 6,33 nos primeiros nove dias de agosto. 

Com as novidades, a Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar passa a ter, entre Ouro Verde e Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, 26 estruturas de UTI para as crianças com condições mais graves e 60 para internação de adultos.

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