EPIDEMIA EM CAMPINAS

Com o avanço dos casos de dengue, Saúde alerta para os riscos da automedicação

Segundo os especialistas, a ingestão de remédios por conta própria pode agravar o quadro da doença; recomendação é procurar os Centros de Saúde

Paulo Medina/ paulo.medina@rac.com.br
18/02/2024 às 10:34.
Atualizado em 18/02/2024 às 10:34

O sábado esteve movimentado no Centro de Saúde do Jardim Aurélia, com muitas pessoas procurando atendimento com sintomas de dengue: especialistas orientam pacientes a não tomar remédio por conta própria (Rodrigo Zanotto)

Ao final da semana do Carnaval, os casos confirmados de dengue em Campinas subiram 12,1%, passando de 2.857 na última quarta-feira para 3.204 confirmações, segundo a última atualização publicada na sexta-feira (16) pelo Painel das Arboviroses da Prefeitura. Foram 347 casos em 48 horas. Ao percorrer três Centros de Saúde da cidade no sábado (17), a reportagem encontrou moradores que deixaram o Rio de Janeiro com sintomas de dengue e fizeram exames, diagnosticando a doença em Campinas. Nesta escalada de casos, farmácias que não realizavam testes passaram a oferecer o procedimento, após pedidos de clientes. O Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) orienta a população a não realizar a automedicação, ação que pode agravar o quadro da doença.

O estudante Daniel Ulian, de 27 anos, realizou o hemograma no Centro de Saúde do Jardim dos Oliveiras e testou positivo para dengue. Ele estava com o namorado Danilo Cunha, de 32 anos, no Rio de Janeiro no período de Carnaval e retornou para a cidade reclamando de sintomas fortes. "Na terça à noite, lá no Rio, comecei a sentir os sintomas. Vim embora para Campinas e na sexta-feira fiz o teste aqui na cidade, que confirmou a dengue. Tive febre alta, dor corporal intensa, de chegar a gemer mesmo, e agora a minha garganta está inflamada e com pus. Os sintomas estão fortes, mas peguei o tipo mais leve da doença", relatou ao deixar a unidade de saúde. Ele, no entanto, está tenso em relação a este domingo, que é o quinto dia da doença. "O médico disse que é o dia mais preocupante porque uma desidratação pode piorar o quadro se não tomar um bom cuidado", explicou.

Ulian aguardou passar por consulta para receber as orientações do médico e só assim se medicar. "Não me automediquei, aguardei a consulta aqui no posto para tomar os medicamentos. Tinha como vir ao médico, então resolvi esperar", disse ele. A equipe da unidade receitou soro caseiro, dipirona e amoxicilina.

Também diagnosticado com dengue, Cunha notou que a procura está elevada em unidades de saúde de Campinas em busca de atendimento por conta da doença. "Com dores no corpo, atrás dos olhos, muita febre, tontura, náusea e quase desmaiando, procurei atendimento na quinta-feira na UPA Carlos Lourenço, mas estava cheia. Eles me deram de seis a oito horas para colher exame, então vim na sexta-feira na unidade do Jardim dos Oliveiras fazer o teste e deu positivo", contou. O casal deve retornar na segunda-feira para verificar a evolução da doença. "A orientação que tivemos é ficar em repouso absoluto, tomando soro para hidratação e ficar atento a sangramentos e urina escura", relatou Cunha.

Morador do Jardim Aurélia, o aposentado Carlos Roberto Barbosa, de 63 anos, está com suspeita de dengue. Ele foi submetido no sábado (17) ao teste da covid-19 no Centro de Saúde do bairro, mas o resultado foi negativo. "O teste do covid não deu em nada, vou voltar na segunda-feira para fazer o teste da dengue, vou esperar mais um dia. Estou com muito cansaço desde quarta-feira, tontura, meu corpo inteiro está doendo, ontem mesmo fiquei deitado o dia inteiro", falou. Barbosa mora no mesmo terreno com uma jovem que estava na unidade de saúde deitada em uma maca depois de ter o exame positivado para dengue. Ela estava sem condições de conversar com a reportagem. "Ela mora no fundo da minha casa, não está bem", relatou.

Uma farmácia do bairro fez a encomenda dos testes de dengue depois da solicitação da clientela. "Os clientes pediram e chegaram os testes de dengue. Vamos colocar para vender nos próximos dias. Como está tendo procura, vamos oferecer, primeiro vamos definir os valores", disse o proprietário da loja, Jean Facine.

Segundo os dados da Prefeitura, o Jardim Eulina segue na liderança da dengue em Campinas, com 288 casos (incidência de 1.364,9 casos a cada 100 mil habitantes), seguido do distrito de Sousas, com 128 (incidência de 389,6 casos por 100 mil habitantes) e Santo Antônio, com 99 confirmações (677,7 casos por 100 mil moradores).

Diante desse quadro, a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andréa von Zuben, explicou, por meio de assessoria de imprensa, que a automedicação tem risco direto de piorar a saúde do paciente e recomenda a ida imediata a uma unidade de saúde.

"A orientação é que o paciente procure os Centros de Saúde para receber (a indicação de medicamentos) de um profissional da Saúde. O paciente, ao fazer a automedicação, corre enorme risco de agravamento", alertou. 

A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), do governo federal, adverte que alguns remédios não devem ser tomados porque aumentam o risco de sangramentos e hemorragias causados pela dengue. "Dentre as medicações contraindicadas estão os anticoagulantes, tais como salicilatos (ácido acetilsalicílico, ácido salicílico, diflunisal, salicilato de sódio, metilsalicilato, entre outros), os anti-inflamatórios não esteroidais (indometacina, ibuprofeno, diclofenaco, piroxicam, naproxeno, sulfinpirazona, fenilbutazona, sulindac e diflunisal) e os anti-inflamatórios hormonais ou corticoesteroides (prednisona, prednisolona, dexametasona e hidrocortisona). Portanto, é fundamental que pessoas com suspeita de dengue evitem a automedicação e busquem orientação médica para o tratamento adequado da doença", orientou o órgão.

A epidemia traz preocupações até mesmo ao setor produtivo da cidade. Com o avanço da doença, existe o risco de aumento do afastamento de funcionários do trabalho, afetando a economia. Membros dos setores comercial e industrial criticam o fato de Campinas não ter sido contemplada com a vacina pelo Ministério da Saúde por estar fora dos critérios para receber o imunizante via Sistema Único de Saúde (SUS). O município enfrenta, de modo simultâneo, a circulação dos sorotipos 1, 2 e 3 da doença.

A escolha das cidades que estão recebendo a vacina foi baseada em três critérios: municípios de grande porte (mais de 100 mil habitantes), alta transmissão de dengue nos anos de 2023 e 2024 e maior predominância do sorotipo 2 (DENV-2).

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