ALERTA REGIONAL

Casos de dengue disparam nas cidades próximas a Campinas

Valinhos registrou 495 casos nos dois primeiros meses deste ano, 2.650% a mais que os 18 do mesmo período de 2023

Paulo Medina/ [email protected]
23/02/2024 às 09:05.
Atualizado em 23/02/2024 às 09:05
Com um aumento bastante considerável na quantidade de casos neste ano, a Prefeitura de Valinhos informou que assim que uma infecção é confirmada ela avalia a região em que ocorreu e faz o monitoramento da disseminação da doença na redondeza, incluindo visitas a todos os imóveis em um raio de 500 metros (Rodrigo Zanotto)

Com um aumento bastante considerável na quantidade de casos neste ano, a Prefeitura de Valinhos informou que assim que uma infecção é confirmada ela avalia a região em que ocorreu e faz o monitoramento da disseminação da doença na redondeza, incluindo visitas a todos os imóveis em um raio de 500 metros (Rodrigo Zanotto)

Sete das oito cidades que fazem limite territorial com Campinas registraram uma escalada de casos de dengue, de acordo com suas especificidades e dimensões demográficas. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, as infecções causadas pelo Aedes aegypti saltaram nos dois primeiros meses deste ano em comparação com igual período de 2023 em Valinhos, Indaiatuba, Monte Mor, Paulínia, Sumaré, Jaguariúna e Pedreira. Somadas, as sete cidades tiveram 326 casos em janeiro e fevereiro do ano passado e 1.288 nos primeiros meses de 2024, aumento de 295%.

Somente Hortolândia reduziu os casos, o que é uma exceção regional, mas o município relatou que há muitos casos suspeitos em análise e que o número de infecções confirmadas ainda pode aumentar. De acordo com os especialistas, a conurbação e a relação de dependência dos moradores das cidades vizinhas à metrópole para realizar atividades do dia a dia ajudam a explicar a alta da dengue nessas localidades. 

Conforme os dados estaduais, que consideram tanto casos autóctones (contraídos dentro do próprio município) quanto os importados, em Monte Mor as infecções saíram de oito para 26, um aumento de 225%. Em Paulínia, passaram de 90 para 362 (302%). Sumaré saiu de 31 para 178 casos (474%). Valinhos subiu de 18 para 495 (2.650%, o maior aumento percentual entre as cidades limítrofes). Indaiatuba, por sua vez, saltou de 24 para 90 (275%) e registrou um caso grave de dengue. Jaguariúna saiu de 14 para 90 (542%). Pedreira, de 12 para 23 (91,6%). Hortolândia, por outro lado, é a única a reduzir os casos, caindo de 129 para 24 (queda de 81,3%).

O médico epidemiologista da Faculdade São Leopoldo Mandic, de Campinas, André Ricardo Ribas Freitas, destacou a relação de integração, interdependência e conurbação entre esses municípios e Campinas como possíveis causas da proliferação da dengue na região. “A Região Metropolitana de Campinas (RMC) é integrada na saúde, em shoppings, comércio, escolas, universidades... é natural que todo o conjunto seja afetado (por Campinas), porque são áreas conurbadas, interdependentes. Além da proximidade física entre as cidades, há uma interdependência de infraestrutura. A pessoa estuda em um lugar e trabalha em outro, é um fluxo grande o tempo todo”, avaliou. 

Freitas alertou que no atual cenário da epidemia não há como trabalhar para reduzir os casos. “No ponto em que está a epidemia é muito difícil de ser controlada. Medidas de controle agora causam um impacto pequeno, mas as pessoas devem evitar a reprodução do mosquito e usar repelentes várias vezes ao dia, aqueles com eficácia cientificamente comprovada, que são a base de icaridina, DEET e IR 3535. Outra medida (importante) é quando sair de casa deixar o ar-condicionado ligado e janelas fechadas, pois o frio diminui a atividade da picada." O epidemiologista pontuou a necessidade de projetar a redução de casos para 2025 desde que sejam iniciadas as ações preventivas e de controle neste ano.

Para a infectologista Artemis Kilaris, cada cidade deve se preocupar com as suas campanhas internas de enfrentamento. “Sabemos que o principal no combate a dengue é exterminar com os focos do Aedes. Portanto, o mais importante, é que cada município se preocupe com as campanhas no combate aos focos do mosquito. Temos que considerar que a circulação das pessoas pode contribuir com o aumento dos casos se o paciente com dengue circular em outros municípios e for picado pelo mosquito. A dengue é uma doença grave que requer muitos cuidados e orientação médica. É importante o paciente manter-se hidratado e fazer monitoramento das plaquetas para evitar a dengue grave", frisou. 

PREFEITURAS DESTACAM AÇÕES

A Prefeitura de Valinhos afirmou ter intensificado o combate à doença, e o serviço de nebulização teve início em 2 de fevereiro. Além do "fumacê", a Secretaria de Saúde promove buscas ativas. Segundo a cidade, quando um caso de dengue é confirmado em determinada região há avaliação do local onde a pessoa mora e o monitoramento da disseminação nas redondezas, em um raio de 500 metros, com visita em todos os imóveis. Nesse caso, se algum morador da área apresentar sintomas, ele é encaminhado para o exame de sorologia, além de receber orientações. “Durante as visitas também é realizado o bloqueio e controle de criadouros, que consiste na eliminação de materiais, com água parada junto com o morador, para que ele entenda na prática a importância da prevenção”, detalhou a Prefeitura. 

Indaiatuba informou que a cidade faz diversas ações, como a dispersão de larvicida biológico com bomba veicular, a dispersão de inseticida em bairros considerados zonas de risco, ações educativas no trânsito, praças, shoppings e locais de grande circulação de pessoas. “A equipe de controle da dengue também realiza diariamente visitas casa a casa, em comércios e indústrias. "Temos o projeto ‘Dengue na Construção’, que são treinamentos para construtoras e casas de materiais de construção sobre o controle da dengue. Vale lembrar que Indaiatuba tem um dos poucos sistemas integrados de tecnologia com os sistemas do Ministério da Saúde e Governo do Estado. Tal tecnologia facilita a identificação dos possíveis casos e áreas de risco”, explicou a Prefeitura. O município chegou a implantar o “Aedes do Bem”, que teve sua última dispersão no ambiente no ano passado e trata de mosquitos transgênicos que fecundam na fêmea estimulando o nascimento apenas de mosquitos machos, já que estes não são transmissores da doença.

A Saúde de Hortolândia disse que a redução apontada é resultado das ações de combate ao Aedes aegypti que o município realiza semanalmente em diferentes regiões da cidade, que são as visitas casa a casa e a nebulização. Além disso, no início do ano a Prefeitura contratou 27 novos agentes, aprovados por meio de concurso público, para atuarem na Unidade de Vigilância de Zoonoses. “No entanto, a Secretaria de Saúde salienta que o número baixo de casos positivos apontado pelo governo estadual durante o período mencionado é em razão de o município ter muitos casos suspeitos de dengue que ainda estão em análise. Por isso, a Secretaria de Saúde ressalta que o número de casos positivos pode aumentar com a conclusão dos resultados dos casos suspeitos”.

Já a Prefeitura de Sumaré comunicou a intensificação das ações de combate à dengue na cidade. Na quinta-feira (22), foram feitos serviços de nebulização no Parque Bandeirantes, região da Área Cura. As equipes de Controle de Vetores intensificaram o trabalho casa a casa, vistoriando os imóveis e orientando os moradores sobre os cuidados necessários para evitar a proliferação do mosquito e eliminar criadouros. 

Na quarta-feira, dia 21, a Secretaria de Saúde promoveu para os colaboradores da Pasta um treinamento do Plano de Contingência de contenção e atendimento da dengue. O encontro teve como objetivo atualizar os protocolos do fluxo e manejo da doença, além do atendimento correto e preventivo.

CHIKUNGUNYA EM CAMPINAS

Campinas registrou o primeiro caso importado de chikungunya em 2024. A pessoa infectada com o vírus é um homem, com idade na faixa etária de 40 a 49 anos, residente na região da Vila Costa e Silva. Ele contraiu a doença em Minas Gerais, mas passa bem. O morador foi atendido por equipe de saúde em unidade do SUS Campinas e não precisou ser hospitalizado. Ele teve febre, dores no corpo, olhos e articulações, além de manchas vermelhas pelo corpo. Campinas ainda não tem caso autóctone em 2024, quando a infecção ocorre na própria cidade. A doença também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue. 

“Até o momento a gente não registrou a transmissão do vírus chikungunya no município. No entanto, é importante que se você tiver viajado para outros estados e retornar para cá apresentando febre, dor no corpo e dor articular, procure atendimento médico e relate que você viajou recentemente para que o profissional de saúde saiba que você pode estar apresentando um quadro de chikungunya para a investigação e tratamento adequado”, destacou a médica infectologista do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas, Valéria de Almeida. Na região, há outro caso confirmado, um homem de 44 anos, de Santa Bárbara d'Oeste, já recuperado.

O Painel das Arboviroses da Prefeitura confirmou 6.730 casos de dengue, 705 novas infecções em relação às 24 horas anteriores. Há nove pessoas internadas por dengue na metrópole nesta semana e o governo estadual aponta que há três casos graves da doença no município.  “Diferentemente da covid-19, a hospitalização para pacientes com dengue costuma ser curta, com tempo médio de até quatro dias, e ocorre até o quadro do paciente se estabilizar.” 

Nesta semana, a Saúde reforçou a orientação para que moradores que apresentarem febre busquem imediatamente um Centro de Saúde para atendimento. Já quem apresentar tontura, dor abdominal muito forte, vômitos repetidos, suor frio ou sangramentos – nos casos de suspeita de dengue com febre ou de doença confirmada - deve buscar por auxílio em pronto-socorro ou em Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Nas UPAs, a reportagem já constatou espera de até cinco horas por atendimento.

Entre os bairros mais afetados estão o Jardim Eulina (535 casos), Jardim Aurélia (216), Sousas (200), São Bernardo (191) Santo Antônio (187) e São Quirino (184).

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