RISCO DE EPIDEMIA

Casos de dengue ativam sinal de alerta para o próximo ano em Campinas

Números da doença em 2022 se aproximam de São Paulo, cidade 10 vezes maior

Rodrigo Piomonte
13/12/2022 às 08:54.
Atualizado em 13/12/2022 às 12:55
Equipe de controle da dengue instala tela de proteção contra o mosquito transmissor da doença em caixa d’água residencial (Kamá Ribeiro)

Equipe de controle da dengue instala tela de proteção contra o mosquito transmissor da doença em caixa d’água residencial (Kamá Ribeiro)

Com 11.189 casos de dengue confirmados este ano em Campinas, os dados relacionados ao avanço da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti na cidade se equiparam proporcionalmente aos registrados em São Paulo. A capital paulista contabilizou de janeiro até agora pouco mais de 11.700 registros de contaminação, porém, com uma população 10 vezes maior. De acordo com a Secretaria de Saúde de Campinas, esses dados comparativos acendem um sinal de alerta para 2023 com relação a uma possível explosão de casos da enfermidade, com risco de se reviver o cenário dramático enfrentado em 2015, quando o número de infecções passou de 60 mil. Na época, a epidemia da dengue forçou a Prefeitura a montar um plano de contingência especial de enfrentamento da doença.

Da mesma forma, o número de mortes pela dengue registrado em Campinas, este ano, também chama a atenção das autoridades. Os dados divulgados pela Secretaria de Saúde também superam os registrados na capital. Quatro morreram em Campinas ate o momento, enquanto que em São Paulo foram dois óbitos de janeiro até hoje. Diante da escalada dos casos e número de mortes, o Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses trabalha com a premissa de que se não houver a participação da comunidade na prevenção de criadouros do mosquito transmissor da doença, a cidade poderá viver um ano epidêmico. A explosão de casos de dengue deve ocorrer principalmente nos meses considerados de pico da doença, entre março e maio.

Segundo o coordenador do Programa de Arboviroses, Fausto de Almeida Marinho Neto, as medidas de prevenção da dengue foram "esquecidas" nos últimos tempos pela população, apesar das campanhas mantidas pelo poder público e as vistorias domiciliares feitas pelas equipes nos bairros da cidade. "Aquelas ações simples de verificar calhas, bebedouro de animais e vasos para reduzir as chances de acontecer situações de criadouros do mosquito transmissor da doença em casa, foram deixadas de lado", disse. 

Fausto alerta para o dado da Secretaria de Saúde a partir de informações colhidas pelas equipes que têm feito vistorias casa a casa, onde estão mais de 80% dos criadouros. "Se não houver a participação da comunidade na questão de voltar a manter o hábito e a atenção para evitar os criadouros dentro das casas, as chances de o número de casos da doença na cidade aumentar existe", disse.

O coordenador explica que a expectativa de um ano epidêmico para 2023 é fundamentada nas previsões de chuvas acima da média e pelo fato de Campinas ter mantido ao longo deste ano números elevados da doença mesmo em períodos de baixa sazonalidade, quando os casos teriam que ser menores que os registrados.

Segundo Fausto, a situação de Campinas fez com que a cidade registrasse taxas da doença durante todo o ano sempre superiores às taxas observadas no Estado e até no país. "Precisa haver de fato uma mobilização urgente da sociedade neste momento", ressalta. Atualmente, conforme informações da Secretaria de Saúde, Campinas apresenta uma incidência de 917 casos a cada grupo de 100 mil habitantes.

Segundo os dados da Prefeitura, praticamente todas as regiões do município registram casos da doença, com destaque para as regiões Sul e Noroeste, com 2.542 e 2.432 casos, respectivamente. A região Norte da cidade apresenta 2.403 casos confirmados. Leste e Sudoeste aparecem na sequência com 1.243 e 1.863 casos, respectivamente. Apesar da preocupação, apenas o sorotipo 1 da dengue está em circulação em Campinas este ano.

A médica infectologista, Raquel Stucchi, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), confirma que a preocupação para 2023 em relação à dengue é muito grande e alerta para a importância da presença e do trabalho do poder público junto à população. "Com a estação chuvosa, temos aumento de casos e este ano o número de casos e de mortes foi de fato assustador e durante o ano todo. Então o que se espera para 2023 é realmente que seja muito dramática a situação da dengue na cidade", disse.

Para a especialista, o poder público precisa intensificar as campanhas de conscientização da população sobre o risco iminente de propagação da doença. "É importante que o poder público faça de fato o seu papel na limpeza na notificação dos terrenos baldios, enfim, a gente precisa deixar a cidade limpa sem pontos de água acumulada para podermos mudar esse cenário que nós infelizmente estamos vislumbrando", acrescenta.

No final de novembro, a Secretaria de Saúde divulgou um novo alerta da dengue em Campinas. O documento listou oito bairros como as áreas que estão com alto risco de transmissão. Os focos da doença são: jardins Alvorada, Ipiranga e Novo Campos Elíseos, na Região Sudoeste; São Marcos, Vila Esperança e Vila Santa Isabel, na Região Norte; e jardins Maracanã e Novo Maracanã, na Região Noroeste.

Segundo a Prefeitura, o objetivo é o de estimular a população para que identifiquem os potenciais criadouros em casa, enfatizando que "a luta contra as arboviroses exige uma contrapartida de toda a sociedade". O alerta das autoridades sanitárias segue informando que "a Prefeitura mantém um programa de controle e prevenção da doença, mas cada cidadão precisa fazer a sua parte, destinando corretamente os resíduos e evitando criadouros".

Segundo a Administração, o trabalho realizado pela Prefeitura é ininterrupto. De 1º de janeiro de 2020 a 30 de setembro deste ano, as equipes de saúde realizaram 1.634.205 visitas a imóveis para controle de criadouros. No mesmo período, 468.234 construções localizadas em áreas de transmissão foram nebulizadas. Além disso, no mesmo intervalo, foram coletadas 59.442 toneladas de resíduos despejados.

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