DESABASTECIMENTO

Campineiro sofre com a falta de remédios nas farmácias

Alta demanda por medicamentos para combater doenças do tempo frio é um dos motivos

Thiago Rovêdo/ [email protected]
22/06/2022 às 09:19.
Atualizado em 22/06/2022 às 09:19
Em algumas farmácias e drogarias a situação é esta: prateleiras com poucas caixas disponíveis e espaços vazios; amoxicilina e azitromicina são alguns dos antibióticos difíceis de encontrar (Gustavo Tilio)

Em algumas farmácias e drogarias a situação é esta: prateleiras com poucas caixas disponíveis e espaços vazios; amoxicilina e azitromicina são alguns dos antibióticos difíceis de encontrar (Gustavo Tilio)

É bem provável que o campineiro tenha ido à farmácia nos últimos meses em busca de um medicamento e não o tenha encontrado. O desabastecimento que vem afetando todo o país desde o final do ano passado, piorou nas últimas semanas por conta da alta demanda por remédios contra gripes, resfriados, febres e afins. 

De acordo com o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), praticamente todos os estados brasileiros vêm relatando falta de medicamentos dos mais variados tratamentos, como antibióticos, soro fisiológico e analgésicos. O órgão ainda menciona que a crise causada pela pandemia da covid-19, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além do aumento esperado da demanda nesta época de outono e inverno são os responsáveis pelo desabastecimento.

"Os problemas vêm ocorrendo desde o ano passado para alguns medicamentos. A amoxicilina e o azitromicina são bem complicados de achar nas farmácias. E como se trata de antibióticos, não podemos nem pensar em alternativas. O máximo que dá para fazer é oferecer o genérico, porém, nem sempre isso é possível", afirmou o farmacêutico de uma rede localizada no bairro Taquaral, Bruno de Souza Bombardi.

O farmacêutico, inclusive, mostrou o xarope novalgina que havia acabado de chegar, sendo que há exatos seis meses ele não se encontrava disponível na unidade. "Esse xarope acabou de chegar e não deve durar muito, porque são poucas unidades", comentou. 

Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) explicou que o desabastecimento no país deve-se à falta de insumo farmacêutico ativo (IFA), o principal ingrediente de um remédio. Sem ele, é como se o medicamento fosse apenas uma junção de várias substâncias sem efeito algum. De acordo com a entidade, o Brasil produz apenas 5% do IFA utilizado no território nacional. O restante é importado, sendo 68% proveniente da China.

Segundo o presidente da entidade, Norberto Prestes, serão necessários US$ 1 bilhão em investimentos para ampliar a capacidade nacional de produção da IFA para cerca de 20%, dentro de cinco a 10 anos. "Será preciso muito investimento e muita pesquisa para conseguirmos chegar a 20% de produção do IFA consumido no Brasil nesse prazo, o que poderá ajudar a reduzir preços de medicamentos", afirmou.

Via crúcis

A auxiliar de farmácia de uma unidade no Jardim Campos Elíseos, Walesca Santos, contou que o problema vem se arrastando há muito tempo. E quando ela questiona os revendedores, a resposta que chega é a de que simplesmente não há medicação disponível para a venda. 

“Às vezes, a gente chega a fazer o pedido, mas não adianta, porque chega no revendedor e já acaba, nem dá tempo de chegar aqui na farmácia. Como há muitas em Campinas, fica difícil mesmo com que todas sejam abastecidas. E quando chegam aqui, são poucas unidades , sendo vendidas rapidamente", disse.

De acordo com Walesca, ela mesma começou a pesquisar outras drogarias para os clientes no intuito de ajudar a conseguir o medicamento. "Corta o coração ver um pai ou uma mãe buscando a medicação para sua criança doente e não conseguir. Por isso, procuro ficar antenada e vejo se em alguma outra farmácia tem e oriento que a pessoa tente naquele estabelecimento. Nem sempre dá certo, mas é uma forma que encontrei de ajudar as pessoas", disse. 

O Conasems informou que o desabastecimento de medicamentos de alta essencialidade leva à desassistência de grande parte da população brasileira, principalmente àqueles que se utilizam do Sistema Único de Saúde (SUS). "Estamos em contato com os gestores municipais e, de acordo com os monitoramentos realizados periodicamente, o cenário de desabastecimento se agrava, sendo percebido nos serviços da Atenção Básica", afirmou o órgão, por meio de nota.

A telefonista Edna Nascimento Cruz, de 39 anos, teve de procurar bastante até encontrar o remédio que a ajuda a controlar o diabetes. Ela explicou que dificilmente encontra no serviço público e até mesmo no privado a busca precisa ser feita com afinco, porque não é em qualquer farmácia que dispõem da medicação. "Antes, afirmavam que pagando a gente conseguia tudo, mas hoje não é mais assim. Até quando a gente compra fica difícil. Desta vez nem demorei muito para achar, mas tem mês que rodo bastante até encontrar aquele que preciso. E, para mim, ele é essencial, porque a insulina ajuda a controlar o meu diabetes. Eu fico imaginando se não tivesse mais... Provavelmente, teria de ficar internada, porque em casa iria passar mal", contou.

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