ATENÇÃO REDOBRADA

Campinas contabiliza mais de dois acidentes com escorpiões por dia

Saúde registrou 782 casos até o dia 9 de dezembro, 13% a mais do que em todo o ano passado

Luiz Felipe Leite/[email protected]
13/12/2024 às 10:54.
Atualizado em 13/12/2024 às 12:35
Escorpião amarelo, que possui um veneno com mais potencial de letalidade do que o marrom, aparece mais em ambientes de esgotos, onde há alimentos abundantes para eles, como baratas; a medida mais eficaz para conter os animais é vedar os acessos por onde eles conseguem entrar nos imóveis (Rodrigo Zanotto)

Escorpião amarelo, que possui um veneno com mais potencial de letalidade do que o marrom, aparece mais em ambientes de esgotos, onde há alimentos abundantes para eles, como baratas; a medida mais eficaz para conter os animais é vedar os acessos por onde eles conseguem entrar nos imóveis (Rodrigo Zanotto)

Os acidentes com escorpiões seguem sendo uma grande preocupação para a população de Campinas. Entre os dias 1º de janeiro e 9 de dezembro deste ano foram registrados 782 casos na cidade, mais de dois por dia. O número é 13% superior às 692 ocorrências contabilizadas em todo o ano passado. As informações constam em levantamento feito pela Secretaria de Saúde de Campinas a pedido do Correio Popular.

A Pasta também divulgou a quantidade de picadas de escorpiões em 2024 considerando cada uma das regiões da cidade, com destaque para a Sudoeste, que teve 245 acidentes com esses animais. A segunda com a maior incidência foi a Noroeste, com 156 casos, à frente das regiões Sul (125), Norte (100), Sul-Leste (93) e Leste (60). A Administração Municipal apura os locais exatos de mais três ocorrências de picadas.

De todos os casos envolvendo acidentes com escorpiões confirmados em 2024, apenas sete foram considerados graves pela Prefeitura de Campinas, o que corresponde a 0,89% do total. Os casos mais críticos ocorrem quando há uma dor intensa no local da picada, além de um ou dois sintomas como náuseas, vômitos, taquicardia, além de outros mais intensos, como convulsão, coma, edema pulmonar, situações que podem até resultar em morte. Nesses casos mais graves, há a necessidade de acompanhamento em nível hospitalar, com internação e aplicação em maior quantidade do soro antiescorpiônico em relação aos casos moderados, quando ocorrem menos sintomas. Em Campinas, o soro está disponível no Hospital Ouro Verde, administrado pela Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar e no Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) de Campinas, localizado no Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.

Já as ocorrências leves são diagnosticadas quando há apenas dor, vermelhidão e inchaço no local atingido pelo escorpião, sem necessidade de aplicação do medicamento. Campinas não registrou nenhuma morte envolvendo escorpiões desde 2007, quando foi iniciada a série histórica de acompanhamento da Unidade de Vigilância em Zoonoses (UVZ) da Prefeitura. A UVZ é vinculada à Coordenadoria Departamental de Vigilância de Agravos e Doenças Transmissíveis do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), que por sua vez responde para a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.

COMPORTAMENTO

Segundo a bióloga da Unidade de Vigilância em Zoonoses, Heloísa Malavasi, o calor intenso é o fator que mais favorece o aparecimento de escorpiões na cidade. “Eles ficam mais ativos com altas temperaturas e em períodos mais chuvosos, com um aumento na intensidade da reprodução da espécie. Como resultado, eles costumam aparecer em maiores quantidades.”

Ainda de acordo com a especialista, esses animais costumam acessar as residências por meio de “ralos, frestas e demais locais que têm ligação com a rede de esgoto. O ideal é vedar esses acessos para evitar que os escorpiões apareçam e causem algum acidente.”

O médico veterinário e coordenador do Programa de Vigilância da Febre Amarela e de Vigilância de Saúde Silvestre da UVZ, Cláudio Castagna, destacou que é importante a população acionar as autoridades competentes se vir ou se sofrer um acidente envolvendo um escorpião. “É necessário ligar para a Prefeitura e para a Zoonoses por meio do número de telefone 156. Uma equipe remove o animal e passa orientações de como fazer o controle de escorpiões dentro do ambiente domiciliar. E com ações assertivas em vez de apostar em mitos, como colocar uma criação de galinhas em condomínios verticais. Apesar de elas serem predadoras naturais dos escorpiões, elas não têm acesso ao esgoto, que é onde a maioria desses animais ficam”, detalhou.

Castagna comentou sobre os dois tipos mais comuns de escorpiões em Campinas: o amarelo (Tityus serrulatus) e o marrom (Tityus bahiensis). “Enquanto o marrom geralmente é encontrado em ambientes desorganizados, como em acúmulos de lixo, restos de materiais de construção, o amarelo, que é originário do cerrado de Minas Gerais, aparece mais em ambientes de esgotos, onde acha alimentos abundantes, por exemplo baratas. O veneno do escorpião amarelo possui um potencial mais letal do que o do marrom”, contou.

HISTÓRIAS

Um dos bairros na região Sudoeste de Campinas com maior incidência de acidentes com escorpiões em 2024 é a Vila União. O jornalista Thiago Rovêdo, morador do bairro, sofreu uma picada de escorpião neste ano. Ele comentou que os habitantes do entorno precisam tomar cuidado com o animal, principalmente durante o verão. “Moro na Vila União há 13 anos. No começo eu não sabia muito bem como deixar o apartamento seguro e tive problemas, encontrei vários escorpiões em casa. Nos últimos três anos a situação estava mais tranquila, mas em 2024 eles voltaram a aparecer em maior número. Em um sábado, na hora de dormir, senti uma agulhada na perna, olhei e vi um escorpião. Fui para o Hospital Ouro Verde, onde fiz todos os exames, incluindo para o coração, e recebi a medicação necessária. Agora coloquei espuma expansiva em todos os encanamentos e espero não ter mais problemas.”

Também morador da Vila União, o barbeiro Igor Sampaio disse que alguns dos clientes dele relataram acidentes recentes com escorpiões. Algumas pessoas até resolveram mudar para outro bairro devido ao alto número de ocorrências em pouco tempo. “Aqui (na barbearia e residência dele) nunca tivemos casos, mas a minha namorada, por exemplo, foi picada uns três anos atrás. E ela mora entre o Jardim Santa Lúcia e o Jardim Campos Elíseos, que é perto daqui da Vila União. Na região quase todos conhecem alguém que já teve contato e foi picado por esses animais.”

O aposentado Paulo César Muffato mora com a esposa no Jardim Santa Amália, outro bairro da região Sudoeste de Campinas que possui uma alta incidência de acidentes com escorpiões. Ele contou que a última vez que viu um desses artrópodes em casa foi há três meses. “Eu e minha esposa não fomos picados, mas no ano passado tivemos uma cachorrinha que foi duas vezes. Ela acabou morrendo depois, mas de velhice. Estamos de olho e colocamos telas nos lugares onde os escorpiões mais apareciam, além de fechar sempre os ralos de casa para evitar que eles venham para cima da gente.” 

ORIENTAÇÕES

A Secretaria de Saúde de Campinas informou que tem intensificado o trabalho de orientação à população que procura o serviço de ajuda pelo telefone 156. Agentes de saúde que atuam nas comunidades também orientam os moradores sobre o tema. A medida mais eficaz para conter os animais é vedar os acessos por onde eles conseguem entrar nos imóveis. Os animais, de hábitos noturnos, não atacam, apenas se defendem se uma pessoa colocar a mão ou pisar.

As barreiras físicas são as mais indicadas para evitar acidentes: vedar ralos de esgotos, optando pelo tipo abre e fecha ou colocando telas finas para evitar entrada dos escorpiões; colocar trilhos de borracha, silicone ou mesmo de espuma/tecidos nas portas; vedar interruptores por onde passa a fiação elétrica, mantendo os espelhos de luz bem ajustados e, se necessário, colados com silicone; vedar caixas de gordura; evitar acúmulo de materiais, como madeiras e recicláveis, nos ambientes, pois podem servir de abrigo aos escorpiões; sempre inspecionar toalhas de banho, sapatos e roupas antes de vestir e, se possível, manter camas e colchões afastados das paredes. É importante também observar as roupas de cama antes de deitar, pois escorpiões podem se alojar nestes locais. Em caso de picadas e/ou acidentes com escorpiões, a pessoa deve ser levada imediatamente ao serviço de saúde mais próximo.

Mais informações sobre a prevenção podem ser acessadas por meio do seguinte site: encurtador.com.br/OmXUH.

  

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