A cidade já superou em menos de três meses o total de óbitos causados pela doença em todo o ano passado
Acúmulo de entulhos e objetos podem gerar riscos à população, uma vez que acumulam água e criam as condições ideais para a proliferação do Aedes aegypti (Alessandro Torres)
A Secretaria Municipal de Saúde confirmou a quarta morte por dengue em Campinas em 2024. Com isso, a cidade superou em menos de três meses os três óbitos em decorrência da doença contabilizados durante todo o ano de 2023. A vítima, um homem de 72 anos, faleceu no dia 3 de março, após apresentar os primeiros sintomas em 27 de fevereiro. Ele residia na área de abrangência do Centro de Saúde União dos Bairros e foi atendido na rede pública de saúde, de acordo com a Prefeitura. A análise confirmou infecção pelo sorotipo 2 da dengue. No início de fevereiro, Campinas confirmou os primeiros casos causados pelos sorotipos 2 e 3 do vírus, que não circulavam desde 2021 e 2009. É o quinto óbito pela doença na Região Metropolitana de Campinas (RMC).
Em nota, a Secretaria de Saúde lamentou a morte e se solidarizou com a família. “Além disso, reforça o alerta para que moradores de todas as regiões continuem realizando e colaborando com ações da Prefeitura para prevenção e combate à doença”.
Campinas registra 21.580 casos da doença, de acordo com o Painel Municipal das Arboviroses. São 938 casos a mais em relação ao balanço divulgado no sábado (18). A região atendida pelo CS Jardim Eulina é a com mais casos, 943, seguida pela região do CS São Quirino (605), Santo Antônio (502), União dos Bairros (484), DIC III (472) e DIC VI (457).
PICO EM ABRIL
A projeção da Secretaria de Saúde é que o pico da epidemia de dengue seja alcançado no mês de abril. Desde o início de outubro do ano passado a cidade tem apresentado condições climáticas consideradas ideais para o desenvolvimento e proliferação do mosquito vetor da doença, o Aedes aegypti. É a primeira vez na história que há, no município, a circulação simultânea de três sorotipos da dengue (1, 2 e 3).
O infectologista Arnaldo Gouveia Junior destacou que a previsão é de maior sobrecarga na rede de saúde nas próximas semanas e apelou que as pessoas andem com os corpos cobertos para evitar a infecção ocasionada pelo Aedes aegypti. “As próximas semanas vão ser as mais difíceis, de mais sobrecarga no sistema de saúde, mais tempo de espera nos prontos-socorros. É importante que quem não adquiriu dengue procure evitar adquirir, porque quem ficar doente agora realmente vai ter bastante dificuldade, bastante fila para ser atendido. Então, realmente usar repelente, usar manga comprida, calça comprida, não andar com o corpo descoberto e procurar eliminar qualquer eventual criador do mosquito que estiver em casa, porque isso vai (durar) até abril.”
No último dia 6, Campinas havia confirmado mais duas mortes por dengue. Uma das vítimas era um homem de 94 anos. Ele foi atendido na rede privada e morava na região de abrangência do Centro de Saúde Integração. Os sintomas começaram no dia 10 de fevereiro e o óbito ocorreu no dia 15. O sorotipo não foi identificado no exame.
A outra vítima foi uma mulher de 86 anos atendida na rede privada e moradora da região de abrangência do Centro de Saúde DIC III. Ela apresentou sintomas em 11 de fevereiro e o óbito foi em 15 de fevereiro. Neste caso, foi confirmada a infecção pelo sorotipo 2.
Em 27 de fevereiro, Campinas confirmou a primeira morte por dengue. A vítima era uma mulher de 94 anos, moradora do Jardim Eulina, bairro que tem o pior surto da doença neste ano. Ela foi atendida na rede privada de saúde e apresentou sintomas em 30 de janeiro. O óbito foi no dia 12 de fevereiro. Ela teve infecção pelo sorotipo 1.
Na RMC, são cinco mortes, quatro na metrópole e uma em Santo Antônio de Posse. A primeira vítima de dengue em Santo Antônio de Posse foi um idoso de 77 anos, morador do bairro Vila Rica, que teve sintomas de febre, cefaleia e mialgia. O óbito ocorreu em 5 de março.
A região contabilizou 29.884 casos da doença e 18 casos graves nesta segunda-feira, conforme o Painel da Dengue do governo estadual. De acordo com o Estado, Campinas totaliza oito casos graves da doença. Na sexta-feira, eram 26.882 casos confirmados na região.
A RMC tem cinco cidades que decretaram situação de emergência municipal em saúde pública devido à escalada de casos de dengue: Campinas, Jaguariúna, Pedreira, Santo Antônio de Posse e Nova Odessa.
A Secretaria de Saúde campineira disse que agentes de Saúde já visitaram 31,6 mil imóveis ao longo de seis mutirões municipais e ações de visitas às residências que antecederam estes trabalhos específicos para orientar a população e eliminar criadouros do mosquito transmissor.
No sábado (16), a cidade liderou o primeiro mutirão regional contra a doença, envolvendo todas as 20 cidades da Região Metropolitana de Campinas. O mutirão contou com a participação ativa de cerca de 200 pessoas, incluindo mais de 100 voluntários.
DENÚNCIA
A Prefeitura de Campinas criou um grupo especial para agilizar respostas às denúncias sobre criadouros do Aedes aegypti enquanto o município permanecer em situação de emergência em saúde pública devido à epidemia.
O texto publicado no Diário Oficial desta segunda estabelece a criação de um Grupo de Resposta Unificada (GRU) para pronta resposta às denúncias relacionadas ao combate do Aedes, também transmissor dos vírus da zika e da chikungunya.
Ele será coordenado pelo Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses.
Na prática, todos os órgãos da Administração, direta e indireta, devem atuar na prevenção e combate ao mosquito transmissor, com providências imediatas e medidas legais cabíveis de acordo com as próprias atribuições e competências, segundo a Prefeitura.
"As denúncias de rotina de situações relacionadas ao combate do mosquito Aedes aegypti transmissor da dengue e outras arboviroses serão categorizadas com base na deliberação do Comitê Municipal de Enfrentamento às Arboviroses e Zoonoses e encaminhadas diretamente pelos setores responsáveis pelo recebimento das denúncias aos órgãos da administração pública direta e indireta", diz trecho do decreto.
Isso significa que, a partir do momento que uma denúncia formal chegar à Prefeitura pelo 156, medidas mais rápidas serão tomadas, pois há respaldo jurídico para ampliar ações com o novo fluxo de trabalho. Com isso, a única atividade reservada à Saúde, por atribuição fundamental, é a interrupção da transmissão da dengue em ações como as nebulizações.
"O principal objetivo do grupo é ser uma força-tarefa de resposta rápida às denúncias com o objetivo de permitir que os servidores da Secretaria de Saúde tenham o foco nas ações de controle em áreas de transmissão", afirmou a Diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), Andrea Von Zuben.
O Comitê deve decidir até o fim da semana quais secretarias integram o GRU. A partir disso, cada pasta pode nomear dois integrantes titulares e dois suplentes.
Os servidores nomeados para o GRU têm como atribuições atender a denúncias sobre situações de potenciais criadouros do mosquito transmissor da dengue e providenciar a inspeção, eliminação de criadouros e formalização da resposta ao articular e prover recursos para a execução da atividade, se necessário. O treinamento dos servidores será feito pelo Devisa. No caso da Administração indireta, cabe aos secretários ou presidentes das instituições a indicação de, no mínimo, dois servidores titulares e dois suplentes.
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