ENFERMIDADE ENDÊMICA

Campinas confirma mais duas mortes por febre maculosa

Este ano, foram registrados 5 casos, com 3 óbitos; todos os infectados são homens

Ronnie Romanini/ [email protected]
22/07/2022 às 09:06.
Atualizado em 22/07/2022 às 09:06
Hospedeiros do carrapato-estrela, as capivaras são animais silvestres protegidos por lei e qualquer manejo da espécie requer avaliação técnica e legal (Gustavo Tilio)

Hospedeiros do carrapato-estrela, as capivaras são animais silvestres protegidos por lei e qualquer manejo da espécie requer avaliação técnica e legal (Gustavo Tilio)

A Prefeitura de Campinas confirmou quinta-feira (21) mais quatro casos de febre maculosa e dois óbitos pela doença. Em 2022, são cinco registros e três óbitos. Até o momento, apenas homens contraíram a doença em Campinas. Dos últimos quatro, três têm como provável local de infecção o Distrito de Sousas, na região Leste, e um o Distrito de Barão Geraldo.

As vítimas mais recentes foram um homem de 30 anos, possivelmente infectado em Barão, que teve o início dos sintomas em 18 de junho. Ele faleceu 8 dias depois. Outro homem, de 66 anos, provavelmente infectado em Sousas, morreu no dia 30 de junho, seis dias após apresentar os primeiros sintomas.

O primeiro caso - e óbito confirmado em decorrência da febre maculosa - aconteceu em maio. A Secretaria de Saúde não informou o bairro da contaminação, apenas a região, que foi a Norte. Ele tinha 18 anos e morreu no dia 24 de maio. As únicas duas pessoas contaminadas e que não faleceram são dois homens, provavelmente contaminados em Sousas, um de 43 e um de 27. O primeiro sentiu sintomas no dia 27 de maio, enquanto o segundo no dia 3 de junho.

A febre maculosa é uma doença endêmica na região e a sazonalidade acontece justamente neste período do ano, com meses mais secos e frios. "A região de Campinas responde por uma parcela importante dos casos no Estado de São Paulo. É uma doença endêmica, com registros dos primeiros casos na década de 80. De lá para cá, percebemos que ela sempre aparece, todo ano há registro de casos. E este é um período em que temos aumento nos casos, pois estamos com uma população de carrapatos maior no ambiente", explicou a veterinária da Vigilância em Saúde Norte, Tosca de Lucca.

Ela ressaltou que poucos carrapatos sobrevivem após o ciclo de 12 meses. Se em março a população de carrapatos começa a aumentar, em novembro, quando ele chega à fase adulta, o número diminui bastante e os casos caem, por isso, o momento atual é propício para surgimento de casos.

Letalidade alta

A veterinária explicou o que pode estar por trás da alta letalidade da doença, que vitimou três das cinco pessoas contaminadas na cidade, o equivalente a 60%. Em 2021, foram 11 casos e cinco óbitos, enquanto em 2020, sete casos e cinco mortes. "É uma doença que tem tratamento e ele não é complexo. A medicação está disponível em todas as unidades de saúde. O problema é que a febre maculosa é facilmente confundida com outras doenças, pois os sintomas iniciais são bem inespecíficos. Precisa haver febre, como o próprio nome diz. Também é associada a dor no corpo, mal-estar, em alguns casos vômitos e diarréias. Então, muitas vezes, o paciente acaba se automedicando nos primeiros dias de sintomas e não busca atendimento. Quando isso acontece, já está no terceiro, quarto dia, quando a chance de uma evolução não favorável da doença." 

Entre o primeiro dia de sintoma e o óbito, Tosca estima de seis a oito dias. Logo, é importante procurar tratamento com celeridade. 

Atenção

A febre maculosa é transmitida pelo carrapato estrela que está infectado. A Secretaria de Saúde recomenda que caso a pessoa passe por áreas de vegetação e de mato, especialmente as que são próximas a cursos hídricos, deve ficar atenta por duas semanas para o aparecimento dos sintomas. Em alguns casos, além dos já citados, o contaminado fica com manchas vermelhas pelo corpo. Se qualquer desses sinais foi identificado, é preciso procurar uma unidade de saúde e informar do possível contato com o carrapato e se esteve em locais de risco. 

Na quinta-feira (21), a Pasta de Saúde, por meio do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), realizou mais uma capacitação sobre a febre para os profissionais de saúde, desta vez aos representantes de Centros de Saúde da região Noroeste. Profissionais também passaram pela capacitação nos últimos dias e semanas.

"Se o paciente não diz, durante o atendimento, que frequentou áreas sujeitas à presença do carrapato ou que observou o carrapato parasitando, pode ser que o profissional que o atende não suspeite de febre maculosa (...) Procuramos sensibilizar o profissional de saúde para indagar ao paciente que chega com os sintomas inespecíficos se ele frequentou áreas verdes nos últimos 15 dias e se chegou a ver carrapato. Nós identificamos a suspeita não apenas quando constatamos contato, mas simplesmente pelo trânsito em áreas verde onde ele pode estar presente"

Em Campinas, a dispersão dos carrapatos conta com um papel importante das capivaras, que também aumentam o número de bactérias circulantes e que são transmitidas pelo carrapato. Hoje, além dos lugares de mata, o carrapato-estrela é encontrado em áreas urbanas também. É possível ver, por exemplo, capivaras em avenidas mais próximas ao Centro da cidade. Vale ressaltar que a capivara é um animal silvestre protegido por lei. 

Tosca explicou que qualquer manejo desses animais requer avaliação técnica e legal. O cidadão que tentar capturar ou matar uma capivara está cometendo um crime e pode ser preso. 

"Se puder evitar o contato com áreas verdes, evite. Se a presença estiver relacionada ao trabalho, vá, mas tome cuidado na hora de sair. Faça uma autoinspeção, olhe o corpo para ver se tem carrapato, retirá-lo da maneira correta e ficar atento aos sintomas nas próximas duas semanas. Não tratamos o paciente que foi picado, mas sim o que tem sintomas. Trata-se a doença. Nosso desejo é o de que toda a população tenha essa consciência. É uma doença que mata por falta de informações", concluiu a veterinária.

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