DESAFIO

Campanha encara resistência de movimentos contra vacina

Ação de prevenção à polio e outras doenças quer imunizar 95% do público-alvo

Ronnie Romanini/ [email protected]
09/08/2022 às 13:57.
Atualizado em 09/08/2022 às 13:57
Agente da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação aplica dose em jovem em Campinas: mobilização segue até o dia 9 de setembro em todo o país (Kama Ribeiro)

Agente da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação aplica dose em jovem em Campinas: mobilização segue até o dia 9 de setembro em todo o país (Kama Ribeiro)

Em curso em todo Brasil, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação começou ontem também em Campinas. São dois os objetivos: atualizar a carteira de vacinação de crianças e adolescentes até 15 anos de idade e, contra a poliomielite, atingir 95% de crianças da faixa etária a partir de 1 e menos de 5 anos, sendo que mesmo as crianças que já receberam dose da poliomielite serão vacinadas. Além dos objetivos, há um desafio: melhorar a adesão à vacinação que, em campanhas anteriores, como contra a covid-19, gripe e sarampo, ficou bem abaixo do ideal.

Estão à disposição imunizantes como BCG, Hepatite B, Pentavalente, Vacina Inativada Poliomielite (VIP), Vacina Oral Poliomielite (VOP), Rotavírus, Pneumocócica 10V, Meningocócica C Conjugada, Febre amarela, Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola - SCR), Tetra viral (SCR + varicela), Varicela e DTP (tríplice bacteriana).

Campinas tem cerca de 58.813 crianças dentro do público-alvo para imunização contra a poliomielite. A aplicação das doses durante a campanha vai até o dia 9 de setembro e, no dia 20 de agosto, um Dia D de vacinação acontecerá. Será um sábado, dia mais acessível para as famílias. A meta de vacinação para todos os imunizantes é de 95%, com exceção das vacinas BCG e rotavírus, que é de 90%. 

Queda na vacinação

No Brasil, a cobertura média vacinal caiu cerca de 30% desde 2015 (saiu de 97% para 68% no ano passado). A queda está constante desde 2018. A cobertura vacinal dos imunizantes de Hepatite A (64,90%), BCG - tuberculose (66,24%), Poliomielite (67,58%), Hepatite B (68,04%), Pentavalente (68,04%), Rotavírus (68,26%), Meningite (68,68%) e dose 1 da Tríplice Viral - SCR (71,36%) ficaram bem abaixo da meta em 2021. Em 2015, todas estavam com o índice acima dos 90%, sendo que agora apenas duas ultrapassam 70%.

Em Campinas, a situação é um pouco melhor, mas também longe do ideal: BCG (72,82%), Rotavírus (81,55%), SCR (81,70%), Poliomielite (82,77%), Pentavalente (82,83%), Meningocócica C (84,02%) e Pneumocócica (84,89%). Em 2015, a cobertura era superior a 100% em todas essas vacinas, algo que pode ser explicado por uma possível busca pelo imunizante por residentes de outras cidades.

Especialistas enumeraram alguns motivos para a redução na adesão: a pandemia, que fez mais pessoas ficarem em casa nos últimos anos; o sucesso da vacinação, que faz com que muitas pessoas não lembrem mais do risco dessas doenças por elas terem sido bastante controladas nos anos em que o Brasil era exemplo na imunização; e as fake news e o movimento antivacina, que ganharam força nacionalmente nos últimos anos.

"A diminuição da cobertura vacinal ao longo dos anos é multifatorial e está relacionada a fatores inerentes aos processos de saúde e claro, à pandemia e seus desdobramentos. A disseminação rápida e fácil das chamadas fake news, a falsa sensação de que essas doenças não existem e não existirão mais, os receios e medos das famílias contribuíram para a baixa cobertura vacinal", afirmou a coordenadora da pediatria das unidades do Vera Cruz Hospital, Juliana Okuyama.

A articuladora do Programa Municipal de Imunização, Chaula Vizelli, explicou que não será simples retomar os índices de outrora e falou do trabalho feito para tentar melhorar os números. "Acho que é um trabalho de médio a longo prazo. Há muitos anos a gente vem com queda significativa na cobertura, então para resgatarmos isso vai ser necessário muito investimento e convencimento. Vamos precisar de todas as estratégias de divulgação, fortalecer programas, mostrar a qualificação dos nossos profissionais. Temos apostado nas estratégias."

As especialistas garantem que não há motivo para temer a vacina. "A principal estratégia para prevenir doenças preveníveis com a vacinação é justamente tomar a vacina. A vacinação é uma forma simples, segura e eficaz de proteger e erradicar doenças. E, para além do indivíduo, ela ajuda a proteger a comunidade, a reduzir gastos com internação... então a vacinação beneficia toda a coletividade", acrescentou Chaula.

"Devemos ter como objetivo sempre a maior cobertura vacinal possível para que as doenças imunopreveníveis permaneçam sob controle na nossa comunidade, para que as doenças não voltem a existir nas nossas cidades. A baixa cobertura vacinal traz preocupação em relação ao retorno dessas doenças ao nosso convívio e suas repercussões na saúde da população (...) As vacinas são resultado de estudos e pesquisas. Elas são seguras, salvam vidas e não há motivo para ter medo", disse Juliana.

Ainda com movimentação tímida, o CS Costa e Silva foi um dos 66 Centros de Saúde de Campinas que começaram a aplicar as doses dos imunizantes. Otávio (38) e Patrícia (31) estavam lá durante a tarde com a filha Clara, de 4 meses. Ela tomou várias vacinas, quatro ao todo. Mesmo com dor no coração pelas "picadinhas" na filha, eles ressaltaram a importância da vacinação. "Até dói na gente, mas é necessário", disse Patrícia. Otávio acrescentou que "a vacinação é bastante importante. Somos extremamente favoráveis".

Houve também quem ficou sabendo da campanha ontem e no mesmo dia levou os filhos para checar a situação vacinal. A advogada Karina Barreto Cabau dos Santos, de 46 anos, estava com Felipe (11) e Elisa (15). Pela idade, a filha não conseguiu receber alguns imunizantes como Karina esperava, mas ela aproveitou e atualizou a vacina antitetânica. Felipe recebeu duas vacinas.

"Fiquei sabendo do início da campanha e pensei: que bom. Hoje temos tanta informação... alguns regrediram e não tomam mais vacina, mas outras pessoas, como eu, estão mais seguras do que antes. Eu, minha família, nós aproveitamos para nos informar cada vez mais e sabemos que a vacina é segura. Elas são comprovadas, fiscalizadas. Temos muita informação hoje, só não sabe disso quem não quer", desabafou Karina.

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