Verba estimada de R$ 100 milhões está sendo buscada junto ao BNDES
Aniversário de um século e meio é celebrado; novo espaço ficará ao lado do icônico prédio do hospital (Rodrigo Zanotto)
Na véspera do aniversário de 150 anos do Hospital Beneficência Portuguesa, comemorado nesta quinta-feira (20), a direção informou que o plano para construir uma nova unidade em um espaço anexo ao atual prédio, localizado na Rua Onze de Agosto, está avançando. De acordo com Cláudio Amatte, presidente da Diretoria Executiva do hospital, a expansão deve exigir investimentos da ordem de R$ 100 milhões e a verba está sendo buscada junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O aniversário de um século e meio da Beneficência é celebrado nesta quinta-feira (20). O prédio, um dos mais icônicos da cidade, e tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc), carrega em suas paredes e corredores muito da história da metrópole, tornando-o um verdadeiro museu da saúde e conferindo um espaço de afeto no coração do campineiro.
Em celebração a data, o hospital elaborou um calendário de eventos comemorativos e presenteia nesta quinta-feira (20) pacientes internados com bolinhos e bombons.
No dia 20 de agosto uma exposição rememorando a história dos 150 anos será inaugurada no interior do hospital, também parte das atividades de aniversário.
O hospital foi fundado em 1873 pelo português Francisco Ferreira Novo com o objetivo de atender os lusos que viviam na cidade e não obtinham tantos recursos. Em 1886, recebeu a ilustre visita do imperador Dom Pedro II, cuja assinatura é guardada em livro no hospital até os dias de hoje.
A unidade hospitalar evoluiu e aos poucos ganhou parte da estrutura que tem hoje, graças a doações e vendas de títulos, que foram revertidos em investimentos.
“Aos poucos o hospital foi se modernizando, acompanhando as tecnologias possíveis para a época. Passaram por aqui nomes importantes da história do país. Além do imperador, a princesa Isabel de Bragança e o Conde d’Eu também, e seus nomes constam no livro de registros. Rui Barbosa também é uma das personalidades brasileiras que passaram pelo hospital”, conta Amatte.
Em 1907, a Sociedade Portuguesa de Beneficência – responsável pelo hospital – recebeu o título “Real” da monarquia portuguesa e passou a ser a Real Sociedade Portuguesa de Beneficência, nome que a instituição ostenta até hoje.
Entre as figuras campineiras que passaram pelo local, destacam-se o advogado Manoel Ferraz de Campos Salles, que atuou no jurídico do hospital, e Mário Gatti, médico italiano que nomeia a rede de hospitais municipais de Campinas. Já na contemporaneidade, o ex-secretário de Saúde Carmino de Souza atuou como médico na Beneficência.
PERÍODOS IMPORTANTES
Cláudio Amatte relembra que foram três os períodos importantes do hospital durante os 150 anos em que sua história se mistura à de Campinas. A primeira em 1889, durante um surto de febre amarela que quase tirou a cidade do mapa. Já em 1918, a luta foi contra a gripe espanhola, que matou cerca de 50 milhões de pessoas mundo afora. Por fim, o que nos olhos do presidente foi a pior, a pandemia de covid-19.
“Tanto na febre amarela quanto na gripe espanhola os registros mostram que houve um empenho muito grande da cidade junto ao hospital para vencer as enfermidades, mas nenhuma delas, acredito, foi igual à covid. E foi difícil porque não tinha muito o que fazer e o pouco que tinha foi explorado de forma desumana. Tivemos que pagar mais caro por medicamentos, máscaras, respiradores e convivemos com mortes diárias”, diz.
A gerente-geral Claudete Nogueira relembra cenas de horror nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do hospital durante as ondas que tiveram muitos casos graves.
“O fisioterapeuta tinha que passar de quarto em quarto virando os pacientes de bruços para que o pulmão não parasse. Quantas pessoas vimos morrer aqui, médicos infectados... foi um horror. Acho que, na época, era tudo tão rápido que mal nos dávamos conta do que acontecia. Parando hoje para pensar é que temos dimensão do que foi aquele período”, relata.
Durante os anos mais severos da pandemia – entre 2020 e o começo de 2022 – foram atendidos mais de 24.000 pacientes com quadro suspeito de covid-19 no Pronto Atendimento, dos quais 2.990 necessitaram de internação. O número de óbitos não foi informado.
NOVOS DESAFIOS
Desde que entrou para a administração do hospital, em 2001, Amatte diz que os maiores desafios foram, primeiro, mantê-lo em funcionamento e, segundo, se modernizar em uma estrutura que é quase um museu.
“Quando cheguei aqui em 2001 o hospital estava quase fechando. Foi com a ajuda de muitas pessoas que a coisa foi se aprumando novamente, com o trabalho de muitos. Todos os hospitais expandiram suas estruturas e, para nós, acompanhar as novas tecnologias em um espaço que é completamente tombado é um desafio.”
Atualmente, está em curso um projeto para a construção de uma nova unidade, ao lado da atual, sem interferir no prédio histórico. “É uma forma de aumentar o espaço físico. A quantidade de pacientes do plano está aumentando e precisamos da estrutura”, defende.