ESTADO DE ALERTA

Baixo nível do estoque de sangue deixa Hemocentro em alerta

Pior crise dos últimos cinco anos causou redução no volume de material enviado para hospitais

Luiz Felipe Leite/[email protected]
21/08/2024 às 10:42.
Atualizado em 21/08/2024 às 10:42
Queda brusca de temperatura, que trouxe recentemente o frio à região de Campinas durante alguns dias, e as férias escolares impactaram negativamente na quantidade disponível de bolsas de sangue, deixando as geladeiras vazias; ao todo, 91 hospitais e cerca de 7 milhões de pessoas são atendidos pelo Hemocentro da Unicamp (Alessandro Torres)

Queda brusca de temperatura, que trouxe recentemente o frio à região de Campinas durante alguns dias, e as férias escolares impactaram negativamente na quantidade disponível de bolsas de sangue, deixando as geladeiras vazias; ao todo, 91 hospitais e cerca de 7 milhões de pessoas são atendidos pelo Hemocentro da Unicamp (Alessandro Torres)

O nível crítico dos estoques de sangue do Hemocentro da Unicamp forçou a adoção de medidas de contingenciamento. Uma delas é a redução do envio do material para os hospitais realizarem cirurgias eletivas. Em alguns casos, a diminuição chegou a 80% do que era requisitado pelas unidades médicas. As ações começaram na última quarta-feira, dia 14, e continuam hoje, dia 21. Até o fechamento desta reportagem, existiam 288 bolsas de sangue à disposição para atender uma população de 7 milhões de pessoas. O ideal é que 700 estivessem prontas para uso. Na semana passada, eram apenas 24 bolsas de sangue, o que exemplifica como a situação atual é a pior desde março de 2020, início da pandemia de covid-19, na visão dos responsáveis pelo setor de coleta do Hemocentro.

Uma das consequências dessa crise aconteceu na última sexta-feira, dia 16, no Hospital Ouro Verde, em Campinas. Na ocasião, uma cirurgia de fêmur precisou ser adiada por falta de sangue. Ela foi realizada apenas na manhã de anteontem, dia 19. O Hospital Ouro Verde é abastecido pelo Hemocentro de Campinas, assim como outros 90 hospitais públicos e particulares de cidades localizadas nas áreas abrangidas pelos Departamentos Regionais de Saúde de Campinas, Piracicaba e São João da Boa Vista.

Segundo a Coordenação do Serviço de Coleta do Hemocentro da Unicamp, as medidas de contingenciamento também incluem várias ações de comunicação, como contatos telefônicos para doadores previamente cadastrados, pedidos por doação expostos em painéis digitais, anúncios em emissoras de rádio, televisão e em jornais impressos.

De acordo com a médica especialista em hematologia e coordenadora do Serviço de Coleta, Carolina Lima Salmoiraghi, existem vários motivos que explicam a crise. Um deles foi a queda brusca de temperatura que trouxe frio à região recentemente, além do período das férias de julho, quando as pessoas viajam e param de doar. “Tivemos também um aumento considerável de consumo de sangue nos hospitais abastecidos por nós. Fizemos uma requisição para eles nos explicarem os motivos, mas ainda não tivemos retorno. Na última quarta, dia 14, tivemos nosso momento mais crítico. Apenas 24 bolsas de sangue estavam disponíveis. Foi o pior nível desde o começo da pandemia de covid-19. Para você ter uma ideia, o volume que tínhamos na quarta-feira passada era suficiente para abastecer nossa área de cobertura por apenas 3 horas, quando o necessário é (termos o suficiente) para um período de 48 horas. Cada uma dessas bolsas de sangue é suficiente para ajudar até quatro pessoas. Ou seja, elas são extremamente importantes”, explicou.

A especialista também apelou para a a sociedade, lembrando da responsabilidade coletiva necessária para a manutenção dos estoques de sangue do Hemocentro da Unicamp. “A comunidade precisa entender que não há um substituto para o sangue. Eu não consigo, por exemplo, comprá-lo na esquina, eu não consigo fazê-lo em um laboratório. Todo o material que temos é resultado de um ato de solidariedade. É resultado de um ato de amor ao próximo. Então eu dependo da comunidade, eu dependo de outras pessoas para manter os estoques. Precisamos muito de ajuda para reverter esse momento.”

Até o fechamento desta reportagem a situação do banco de sangue do Hemocentro da Unicamp, considerando cada tipo sanguíneo, era a seguinte: Os tipos O+, O- e A+ estavam em níveis críticos, enquanto os A-, AB-, B+ e Bestavam em estágio de alerta. Por fim, os tipos A-, B+ e Bestavam em situação estável.

EXEMPLOS POSITIVOS

Uma entidade voltada a serviços comunitários, localizada em Valinhos, no bairro Vila Santana, cede há 20 anos as suas instalações para receber mensalmente doadores de sangue, uma parceria com o Hemocentro da Unicamp. Desde o mês de março de 1995 foram coletadas 15.244 bolsas no local, beneficiando quase 61 mil pessoas. Somente na manhã de ontem, dia 20, 91 bolsas de sangue foram colhidas, o que dá mais de 40 litros.

A empresária Rita Rossi foi uma das pessoas que colaboraram com a ação. Doadora de sangue recorrente há 20 anos, ela possui sangue O+ e comentou sobre a importância de ajudar o próximo. “É um ato de cidadania. Já doava quando morava em Adamantina e continuo fazendo isso para apoiar quem mais precisa.”

Engenheiro aposentado, Cláudio Martins doa sangue desde 1978. Além dele, existem mais quatro pessoas da família com o tipo O-, três doadores. Quem tem o tipo O- é considerado doador universal. “O meu sangue abastece as pessoas de todos os tipos, então costumo doar duas vezes por ano. É algo que pode salvar vidas, portanto todos precisamos ajudar.”

Helena Lopes Cardoso é voluntária no local desde o ano de 2012. Ela costuma contribuir como pode, desde o apoio na triagem dos doadores até na preparação da alimentação disponibilizada às pessoas que doaram sangue. “Fazemos isso de coração, pois é uma de importância imensa. Aqui, todos se organizam para colaborar de alguma forma”, detalhou.

AÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

A Prefeitura de Campinas anunciou que começou ontem, dia 20, uma campanha por doação de sangue nas redes sociais. Elas estão suspensas para publicações em função do período eleitoral, mas, diante da urgência, a Secretaria de Justiça de Campinas liberou os posts por entender que não há desrespeito à legislação eleitoral.

Outro anúncio foi da Rede Mário Gatti, que afirmou ontem, dia 20, ter prorrogado até 30 de agosto o prazo para a inscrição de voluntários que possam atuar na captação ativa de doadores de sangue junto a família de pacientes, visitantes e funcionários. A ação, segundo a coordenadora da área de Humanização da Rede, Lucimeire Martini, é parte do projeto "Seu Amor Preenchendo Vidas", que tem o objetivo ampliar e incentivar as doações, facilitar a conscientização e criar uma cultura de doação de sangue. “Os voluntários são essenciais para o trabalho de sensibilização da população, especialmente nesse momento em que os estoques de sangue estão críticos.”

Inscrições para participar como voluntário podem ser feitas pelo site https://bit.ly/3SVSgQW.

QUEM PODE DOAR

Os requisitos mínimos para doar sangue passam por ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até os 60 anos de idade, pesar no mínimo 50 kg, estar descansado, ou seja, ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas, estar alimentado e evitar ingerir comidas gordurosas nas 4 horas que antecedem a doação. É necessário apresentar um documento original com foto recente, que permita a identificação do candidato, emitido por um órgão oficial.

Além disso, existem alguns fatores que impedem a doação, como estar resfriado (necessário aguardar 7 dias após o fim dos sintomas para voltar a doar, gravidez (a norma é esperar 90 dias após o parto normal e 180 dias após uma cesariana) e o consumo de bebida alcoólica 12 horas antes da doação. Todos os detalhes podem ser obtidos no site do Hemocentro da Unicamp, em https://www.hemocentro.unicamp.br/.

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