Pela primeira vez, três sorotipos do vírus circulam ao mesmo tempo na cidade; com mais de 82 mil casos confirmados, Campinas vive a sua pior epidemia de dengue na história (Rogério Capela)
A Secretaria de Saúde confirmou mais três mortes por dengue em Campinas na tarde de ontem, transformando 2024 no ano com mais mortes em decorrência da doença. Até então, 2015, com 22 óbitos em 65.754 casos, era o ano com mais vítimas fatais. Até ontem de manhã, o município acumulava mais de 82 mil casos confirmados.
Em relação aos três novos óbitos, eles aconteceram entre 18 de março e 17 de abril. Um homem de 66 anos, com comorbidades, teve sintomas no dia 24 de março e faleceu seis dias depois. Ele era morador da área de abrangência do CS DIC III e foi confirmada infecção pelo sorotipo 2. Uma mulher de 48 anos, sem comorbidades, moradora da região do CS Santa Lúcia, também teve infecção pelo sorotipo 2. Os sintomas começaram no dia 12 de abril e o óbito ocorreu no dia 17. Por fim, uma idosa de 90 anos, comorbidades, faleceu no dia 18 de março. Ela era moradora da área do CS Conceição e também teve a infecção pelo sorotipo 2 confirmada.
A melhor forma de prevenção contra a dengue ainda é eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouro, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes e calhas. É importante, ainda, vedar a caixa d'água e manter fechados vasos sanitários inutilizados.
A epidemia de dengue é nacional e, neste ano, dois fatores contribuíram para aumento de casos em Campinas: a circulação simultânea de três sorotipos do vírus pela primeira vez na história, e condições climáticas favoráveis para a proliferação do mosquito, principalmente por conta das sucessivas ondas de calor registradas desde outubro.
MUTIRÕES
Neste ano, a Saúde de Campinas superou a marca de 100 bairros visitados em mutirões para prevenção e combate à dengue, após agentes de saúde e voluntários terem percorrido seis áreas na 15ª ação deste tipo realizada no último sábado.
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde da cidade, desde janeiro a mobilização da Pasta, com apoios de outras secretarias, orientou moradores e retirou criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da doença, em 63,6 mil espaços divididos entre 103 regiões.
A ação mais recente reuniu aproximadamente 150 pessoas, incluindo trabalhadores da empresa terceirizada Impacto Controle de Pragas. Durante o mutirão foram visitados espaços residenciais e comerciais nas áreas do São Bernardo, Fundação Casa Popular, Parque Industrial, Jardim Dom Nery, Vila Anhanguera e Vila Santana.
Muitos imóveis, quase metade, foram encontrados inacessíveis por estarem fechados, desocupados ou em virtude do impedimento de moradores. Funcionários da Secretaria de Serviços Públicos retiraram 516 toneladas de resíduos e limparam 49 bocas de lobo durante a mobilização. A Administração repetiu a estratégia de usar drones para localizar grandes criadouros como piscinas e caixas d'água em imóveis desocupados ou em situação de abandono.
Estatísticas das secretarias municipal e estadual de Saúde mostram que 80% dos criadouros do mosquito Aedes aegypti estão nas residências. Portanto, o enfrentamento à epidemia exige esforço compartilhado entre Poder Público e população para eliminar qualquer espaço com água que possa ser usado pelo inseto para proliferação. O mutirão foi multisetorial e contou com apoio de profissionais das secretarias de Habitação, Educação, Assistência Social e Trabalho e Renda, além da Guarda, Defesa Civil, Sanasa e Emdec. A cidade está em epidemia, declarou situação de emergência em 7 de março, e o alerta sobre risco de transmissão da doença vale para todas as regiões.
O QUE JÁ FOI FEITO
Em 2023, um estudo da Secretaria de Saúde mostrou que a cidade viveria uma nova epidemia de dengue. Por isso, foram desencadeadas diversas medidas para o enfrentamento da doença, muitas delas consideradas adicionais ao planejamento regular de prevenção e combate à dengue. O plano inclui Sala de Situação para análise sistemática, reorganização da rede municipal de saúde e novo site para divulgar informações.
Em dezembro do ano passado foram reforçados os estoques dos principais insumos usados no tratamento da dengue para garantir o atendimento dos pacientes da rede municipal de saúde. A administração divulgou uma projeção de pelo menos 100 mil casos da doença em 2024.
Outra novidade é o uso de inteligência artificial para ampliar o monitoramento e assistência em saúde aos pacientes com dengue. Toda pessoa diagnosticada ou com suspeita da doença, após atendimento no SUS Municipal, recebe, via WhatsApp, mensagem disparada pelo chatbot que auxilia a Pasta a acompanhar as condições do paciente. Caso necessário, é feita nova orientação sobre busca por atendimento. Até 25 de abril, 21.220 pacientes foram acompanhados. Do total, 7.630 foram reencaminhados aos serviços de saúde.
A Prefeitura também criou ainda o Grupo de Resposta Unificada (GRU), que envolve todas as áreas com objetivo de agilizar respostas e fiscalizações para denúncias que tratam de criadouros. A Secretaria de Serviços Públicos intensificou o trabalho de coleta de lixo e entulhos e, com isso, passou a recolher 4 mil toneladas a mais de resíduos urbanos por mês.
Aos sábados, a Secretaria de Saúde passou a abrir mais centros de saúde e ampliou o funcionamento das unidades com objetivo de garantir mais assistência aos pacientes. A Secretaria de Comunicação ainda desenvolveu uma grande campanha publicitária com peças educativas para veiculação em rádios, redes sociais, sites e emissoras de TV, além de outdoors espalhados pela cidade.
COMITÊ DE PREVENÇÃO
A Prefeitura conta com um Comitê de Prevenção e Controle de Arboviroses desde 2015, que em 2023 passou a se chamar Comitê Municipal de Enfrentamento das Arboviroses e Zoonoses. Ele reúne 14 secretarias: Governo; Saúde; Educação; Serviços Públicos, Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade; Gestão e Desenvolvimento de Pessoas; Administração; Comunicação; Trabalho e Renda; Esportes e Lazer; Cultura e Turismo; Habitação; Relações Institucionais, e Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos. Também participam Defesa Civil, Serviço 156, Rede Mário Gatti, Setec e Sanasa. No comitê é discutida a situação epidemiológica da cidade e, com isso, são desencadeadas as ações intersetoriais e apoio para as ações da Secretaria de Saúde.
Mais informações estão no site: https://dengue.campinas.sp.gov.br
Siga o perfil do Correio Popular no Instagram.