ESFORÇO DE PREVENÇÃO

17˚ mutirão contra a dengue percorre região central de Campinas

Mais uma vez, número de imóveis fechados foi alto; agentes visitaram quatro bairros em busca de criadouros do mosquito Aedes aegypti

Alenita Ramirez/[email protected]
26/05/2024 às 12:00.
Atualizado em 26/05/2024 às 14:08
O programador Guilherme Lopes Ferreira, de 30 anos, recepciona as agentes comunitárias de saúde que buscam criadouros dentro das residências; equipes têm encontrado dificuldades para vistoriar boa parte dos imóveis mesmo aos sábados, durante os mutirões (Rodrigo Zanotto)

O programador Guilherme Lopes Ferreira, de 30 anos, recepciona as agentes comunitárias de saúde que buscam criadouros dentro das residências; equipes têm encontrado dificuldades para vistoriar boa parte dos imóveis mesmo aos sábados, durante os mutirões (Rodrigo Zanotto)

“Equipe da Secretaria da Saúde!”. “Controle da dengue!”. As agentes comunitárias de saúde Josmara Vieira e Marli Araújo passaram por 40 casas na manhã de ontem, em um quarteirão entre as ruas Proença, Silvia Manso, Tenente Gonçalves Meira e Uruguaiana, no bairro do Bosque, em Campinas, mas 30 delas estavam fechadas. Nas outras dez, em nove foi possível realizar a vistoria que tem o objetivo de eliminar criadouros do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue. No imóvel restante, o morador recusou a entrada das agentes alegando que o cachorro estava solto no quintal e que não seria possível prendê-lo.

Como alguns dos principais problemas do combate à dengue são as recusas e os imóveis fechados, uma nova tentativa será feita novamente durante a semana. “A área central da cidade é complicada, pois a maioria dos moradores não abre a porta. Não sabemos se é por não estarem em casa ou se não querem abrir mesmo”, avaliou Marli. Essa não é a primeira vez que os agentes estiveram no bairro. Aliás, essa é mais uma tentativa de visita no bairro nos finais de semana, no formato de mutirão, já que durante a semana também há dificuldade para entrar nos imóveis.

A visita de ontem fez parte do 17° mutirão contra a dengue deste ano na cidade. Enquanto moradores recusam receber a visita dos agentes, os casos de dengue explodem na cidade. A epidemia em Campinas, considerada a pior da série histórica que começou em 1998, somava até a tarde de anteontem 97.638 casos confirmados e 30 óbitos, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses da Secretaria Municipal de Saúde.

A reportagem acompanhou Josmara e Marli por alguns imóveis de um dos quarteirões visitados. Em um espaço de seis imóveis, uma recusa, dois desabitados e três fechados. Na rua seguinte, que fazia parte do quarteirão na lateral, foi mais receptiva. Logo na primeira tentativa, o programador Guilherme Lopes Ferreira, de 30 anos, saiu no quintal e atendeu as agentes. Assim que as profissionais questionaram sobre se havia morador com febre ou algum sintoma da dengue, o jovem afirmou que a mulher dele, uma estudante da Unicamp, de 32 anos, teve confirmação da doença na semana passada.

“Não sabemos onde ela foi contaminada, pois frequenta a Unicamp, a casa dos pais no bairro Taquaral, a tia que mora no Jardim Santana e que está com dengue... Dá medo, pois há muitas pessoas com a doença, inclusive um colega de academia também está com dengue”, disse Ferreira.

Apesar das plantas no quintal, quase tudo estava em ordem, exceto pela bromélia, que estava com água nas folhas. O programador foi orientado a monitorar a planta, já que é um potencial criadouro. “É muito importante recebermos os agentes, pois assim aprendemos cada vez mais. Eu não sabia que a bromélia acumula água nas folhas. Na visita anterior, aprendi que a geladeira também acumula água atrás dela”, comentou.

Em outro quarteirão nas proximidades, outra equipe de agentes também contatou o grande volume de imóveis fechados, cujos moradores não atenderam. Os poucos que atenderam estava o casal André Matsumoto, de 48 anos, e Sandreli Borri, de 45 anos, que estava de saída, mas fez questão de abrir as portas para as profissionais da saúde entrarem. Sandreli também pegou dengue recentemente. Para se proteger, o casal colocou telas em todas as janelas. “Temos muito medo da doença. Eu passava repelente direto e ainda assim fui picada pelo mosquito. É complicado”, disse Sandreli. 

André disse que nunca viu pandemia como esta e para ele as pessoas devem cuidar de seus quintais e aprenderem a se cuidar mais. “Avisamos os vizinhos que eu estava com dengue. É preciso alertar”, disse a mulher.

A ação teve início às 8h, com ponto de encontro das equipes no Centro de Educação Infantil Prefeito José Pires Neto, no Jardim Proença. A Secretaria de Saúde definiu quatro bairros para que os agentes de saúde e os voluntários visitassem os imóveis. O trabalho abrangeu o Centro, Cambuí, Bosque e Ponte Preta. “A nossa luta diária para enfrentar a dengue continua. Hoje estamos em uma área extensa também com o intuito de mobilizar a população. É importante que os moradores pelo menos uma vez por semana verifiquem suas casas para que não haja criadouro do mosquito”, disse o prefeito Dário Saadi.

Segundo a coordenadora da Visa Leste, Marina Fuzita, os bueiros que acumulam água por estarem entupidos, devido aos entulhos lançados e arrastados pela chuva, causam problemas na região. Durante a semana, a Secretaria de Serviços Públicos realizou um trabalho de limpeza na região alvo do mutirão da dengue. A ação resultou na retirada de cerca de 50 toneladas de entulho. “Eram materiais que estavam jogados pelas ruas. Era possível visualizar criadouros de mosquitos (neles), que foram retirados pelas nossas equipes”, explicou o secretário de Serviços Públicos Ernesto Paulella.

O mutirão reuniu cerca de 200 pessoas entre voluntários, agentes da saúde e os trabalhadores da empresa terceirizada Impacto Controle de Pragas, que atuam nas visitas aos imóveis para orientação e eliminação de criadouros. O uniforme da empresa mudou desde a semana anterior: os funcionários usam camiseta laranja, enquanto os líderes das equipes usam camiseta verde. Os dois modelos têm o logo da empresa silkado, e todos usam calça na cor cinza e crachá de identificação.

A Secretaria de Saúde orientou que quem tiver dúvidas pode ligar para o número 199, da Defesa Civil. Em caso de febre, a orientação é procurar um centro de saúde para diagnóstico e acompanhamento.

A melhor forma de prevenção contra a dengue é eliminar qualquer acúmulo de água que possa servir de criadouro, principalmente em latas, pneus, pratos de plantas, lajes e calhas. É importante, ainda, vedar a caixa d'água e manter fechados vasos sanitários inutilizados.

Estatísticas das secretarias municipal e estadual de Saúde mostram que 80% dos criadouros do mosquito Aedes aegypti estão nas residências, portanto o enfrentamento à epidemia exige esforço compartilhado entre Poder Público e população para eliminar qualquer espaço com água que possa ser usado pelo inseto para proliferação.

ÓBITOS

Na tarde de quinta-feira, dia 23, a Secretaria de Saúde de Campinas confirmou mais sete mortes por dengue na cidade. O número de vidas perdidas em virtude da doença chegou a 30 neste ano com a atualização de ontem. Os óbitos aconteceram entre o dia 2 de abril e 4 de maio. Das sete vítimas, seis eram homens, moradores das regiões de abrangência dos centros de saúde 31 de Março, Taquaral, Valença, São Bernardo, Vila Ipê e Eulina. Todos tinham 75 anos ou mais.

O sétimo óbito confirmado ontem foi de uma mulher de 24 anos, sem comorbidade, moradora da área de abrangência do CS Aeroporto. Ela teve o início dos sintomas no dia 30 de abril e faleceu no dia 4 de maio. Na reta final do mês de maio, a epidemia de dengue em Campinas se aproxima dos 100 mil casos. Ontem, a cidade contabilizava 95.690 notificações, com média diária superior a 1,4 mil desde a última segunda-feira, dia 20. O município detém 69% de todos os infectados na Região Metropolitana de Campinas (RMC).

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