CAMPINAS

Saúde acena com bônus para segurar médicos

Secretário pede paciência e solidariedade em reunião para ouvir as demandas dos profissionais

Bruna Mozer
08/05/2013 às 05:05.
Atualizado em 25/04/2022 às 17:11
Pacientes lotam a recepção do PS do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (César Rodrigues/AAN)

Pacientes lotam a recepção do PS do Hospital Municipal Dr. Mário Gatti (César Rodrigues/AAN)

O secretário de Saúde de Campinas, Cármino Antônio de Souza, fez um apelo e pediu solidariedade e paciência aos médicos da rede pública na tentativa de evitar a “fuga” desses profissionais. Em uma reunião realizada na sexta-feira com cerca de cem médicos, Cármino ouviu as demandas e disse que está aberto ao diálogo, mas não apresentou propostas a curto prazo para desafogar os gargalos no atendimento à população.

A saúde de Campinas enfrenta dificuldades na contratação para as áreas de urgência e emergência e, além do pedido de socorro aos médicos, uma medida imediata que será adotada é o pagamento, até o final deste mês, de um bônus de até R$ 3,9 mil aos profissionais que atenderem a emergência.

Um concurso público que foi realizado no último domingo (5) revela esse cenário de “fuga” de profissionais: o número de médicos que fez a prova foi menor que a quantidade de vagas abertas. Segundo a Secretaria de Recursos Humanos, a abstenção de 34% dos inscritos para o processo seletivo está dentro da média dos concursos passados. No entanto, para a área de clínico-geral e psiquiatria, Cármino já admite que nova seleção terá de ser feita. Na primeira, foram abertas 143 vagas, mas apenas 137 pessoas fizeram a prova. Na especialidade de psiquiatria, havia 15 vagas, mas somente 11 concorreram. Nas demais, o número superou a quantidade de vagas oferecidas.

A contratação emergencial de médicos aberta para substituir os funcionários pagos por meio de convênio com o Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira também teve pouca procura. Das 200 vagas abertas, apenas 109 médicos assumiram suas funções até agora. Cármino admite que a situação é complicada e reconhece as reivindicações da categoria por aumento do salário, a implantação de plano de carreira e melhores condições de trabalho. Ele disse que novo concurso terá de ser aberto para tentar, mais uma vez, contratar profissionais.

Desgaste

Para médicos que participaram da reunião — e que pediram para não ser identificados — a sensação foi de que a conversa foi iniciada pelo secretário como uma forma evitar desgaste com o setor. “Mas ficou claro que a Prefeitura não tem um plano ou proposta para a saúde”, disse um médico da rede.

Cármino disse à reportagem que sua intenção foi ouvir as demandas e discutir os problemas da saúde. “Pedi paciência e solidariedade. Eu acho que o pior da crise já passou. Existem muitas dificuldades e quero uma conversa aberta”, disse. Ele nega, porém, uma tentativa de evitar desgaste com os profissionais.

O “pior” ao que ele se referiu foi a demissão de 621 funcionários contratados por meio do convênio com o Cândido Ferreira devido a irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP). A dispensa desses profissionais — que vão desde médicos até funcionários administrativos —, causou impacto significativo na rede.

O secretário-geral do Sindicato dos Médicos em Campinas e Região (Sindimed) e ex-secretário de Saúde, Adilson Rocha, entendeu a reunião como uma forma de Cármino se aproximar da categoria, mas afirma que faltaram propostas concretas. “Em linhas gerais, os médicos falaram sobre os problemas da rede. Foi uma conversa informal. As questões são antigas: o salário não é competitivo tanto com a rede pública quanto com a privada, há falta de carreira, sobrecarga de trabalho.”

Estrutura

Para Silvia Mateus, ligada ao Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), a falta de estrutura reflete de forma direta nas condições de trabalho dos médicos. O déficit de leitos, por exemplo, nos hospitais de Campinas sobrecarrega as unidades de pronto atendimento e pronto-socorro que deveriam realizar atendimentos emergenciais, mas permanecem com dezenas de pacientes internados. “Os pacientes se estressam, não há condições mínimas e o médico desiste”, avalia Silvia. “Tem de ter paciência mesmo, senão o médico pede demissão e vai embora.”

Bônus

Como uma medida para atrair médicos para trabalhar na urgência e emergência na saúde de Campinas, o prefeito Jonas Donizette (PSB) aprovou o pagamento de um prêmio de produtividade de até R$ 3,9 mil por mês. Com isso, a remuneração de um médico da emergência poderá chegar a R$ 10 mil. Hoje, os médicos que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) já ganham esse bônus. 

Diante do desinteresse da categoria em trabalhar na rede pública, o déficit atual em Campinas é de cerca de 70 médicos na urgência, considerada a área menos atrativa pelos profissionais. Segundo o secretário de Saúde, Cármino Antônio de Souza, essa é a quantidade avaliada como necessária para completar os quadros de escala desses profissionais. Um caso chamou a atenção no final do mês passado, quando um médico chegou a trabalhar 60 horas ininterruptas para não deixar o Pronto Atendimento (PA) do Campo Grande sem médico, onde a escala estava incompleta.

O bônus deve começar a ser pago até o final deste mês, de acordo com Cármino. Para entrar em vigor, é preciso tramitação no jurídico e que um projeto de lei passe por aval dos vereadores na Câmara.

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