Baú de Histórias

Saudades dos dérbis e dos dribles

Rogério Verzignasse
31/05/2015 às 10:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:07
José Luiz Carbone: "A falta do dérbi é ruim para ambos (Ponte Preta e Guarani). Eu sonho em ver de novo os dois na mesma divisão, mexendo com a cidade, lotando a arquibancada" (FOTOS E REPRODUÇÕES: Dorinaldo Oliveira/ AAN)

José Luiz Carbone: "A falta do dérbi é ruim para ambos (Ponte Preta e Guarani). Eu sonho em ver de novo os dois na mesma divisão, mexendo com a cidade, lotando a arquibancada" (FOTOS E REPRODUÇÕES: Dorinaldo Oliveira/ AAN)

Foto: FOTOS E REPRODUÇÕES: Dorinaldo Oliveira/ AAN José Luiz Carbone: "A falta do dérbi é ruim para ambos (Ponte Preta e Guarani). Eu sonho em ver de novo os dois na mesma divisão, mexendo com a cidade, lotando a arquibancada" Casado duas vezes, pai de cinco filhos, avô de cinco netos. Carbone mora ali pela Ponte Preta, num apartamento aconchegante, pertinho do Santuário de Santo Antônio. O homem, hoje com 69 anos, construiu uma carreira sólida. Treinou 37 clubes no Brasil e no Exterior, cultivou laços estreitos com Ponte e Guarani. Em Campinas conheceu a mulher atual, a advogada Marlene, e para cá se mudou em 1991. Fora dos estádios, fez sucesso como comentarista esportivo no rádio. Anda para cima e para baixo na cidade e é parado a todo instante para falar de futebol. José Luiz Carbone nasceu em 1946. Jogou na várzea e foi indicado para teste no São Paulo. Em 1964, aos 18 anos, estreou como profissional. Depois, foi jogador de Ponte Preta, Internacional (RS), Metropol (SC), Botafogo (RJ), Grêmio (RS) e Nacional (SP). No Colorado, foi brilhante e suas atuações renderam-lhe convocação para a Seleção Brasileira entre 1973 e 1974. No ano em que pendurou as chuteiras, em 1982, Carbone tornou-se treinador do Nacional, tradicionalíssimo time da Barra Funda, e nunca mais deixou a profissão. Comandou grandes clubes brasileiros, como Fluminense, Palmeiras, Internacional e Cruzeiro. Conquistou títulos domésticos, como o campeonato carioca de 1983 (Flu) e o paraense de 1999 (Remo), mas se consagrou mesmo no Exterior. Nos Emirados Árabes, foi bicampeão nacional com o Sharjah (1993-94 e 1994-95); em 1996, foi campeão peruano com o Sporting Cristal. Como técnico, passou também por clubes do Interior paulista, entre eles Ponte Preta, União São João, Juventus, Botafogo de Ribeirão, Comercial, Sertãozinho, Atlético Sorocaba... E teve uma história marcante no Guarani, equipe que comandou em quatro oportunidades (1988, 1996, 2000 e 2007). Carbone esteve muito próximo de se tornar campeão paulista. Em 1986, dirigiu o forte Palmeiras que tinha Mirandinha e Edmar no ataque, mas amargou o vice-campeonato – foi derrotado na final pela surpreendente Inter de Limeira do técnico Pepe e do ataque formado por Tato, Kita e Lê. Dois anos depois, no Brinco, viu seu Guarani ser vencido pelo Corinthians de Viola na finalíssima. O último clube de Carbone foi o El-Merreikh, do Sudão. Voltou de lá em 2010 e, desde então, não dirigiu nenhum time. Em casa, ele se diverte vasculhando a coleção de recortes de jornais com referências a momentos importantes da carreira. Uma das notinhas elogia o empenho do valente e jovem volante são-paulino que parou Pelé numa certa rodada. Uma foto de 1966, raridade, mostra o dia em que ele, o ponta Walter e o quarto-zagueiro Adenir, emprestados pelo São Paulo, foram apresentados como reforços da Macaca. A estante da sala guarda cartões de prata, charges, quadros e uma bola marrom, daquelas que corriam pelos gramados nas primeiras décadas do século passado. Quem leva uma prosa com o veterano se diverte ao ouvir “causos” que passam por trapalhadas, rodas de samba, discussões com dirigentes e árbitros. Carbone fala de amizades que duram para sempre e de atletas pedantes, que se consideravam intocáveis em campo e colaboravam para desestabilizar elencos. E adora conversar sobre Ponte e Guarani, times que ama. Na sua opinião, ambos deveriam fortalecer o trabalho de base, pois descobrir talentos nos campinhos e formar atletas é fundamental para a sobrevivência dos clubes. “O futebol brasileiro perdeu muito de seu encanto quando a garotada, muito cedo, começou a ser levada pelos empresários a times do Exterior. Antes de pensar em carreira e dinheiro, os meninos precisam sentir o prazer de brincar de bola, driblar, se divertir em campo. Quando o clube forma um atleta, cria também um vínculo com a torcida. Hoje em dia, está na Seleção quem nunca jogou por aqui e aí o torcedor não se identifica com a camisa”, fala. Para ele, Ponte e Guarani não podem abandonar a proposta histórica de revelar craques e, assim, resgatar a velha rivalidade. “A falta do dérbi é ruim para ambos. Eu sonho em ver de novo os dois na mesma divisão, mexendo com a cidade, lotando a arquibancada.”  SAIBA MAIS  Quem tiver interesse em bater uma prosa divertida sobre futebol com o treinador pode marcar uma visita pelo [email protected].

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