ZEZA AMARAL

Sábado de Cinzas

12/02/2013 às 11:08.
Atualizado em 26/04/2022 às 04:54
ig-zeza-amaral (AAN)

ig-zeza-amaral (AAN)

Vesti uma fantasia pragmática e sentei na sala para ver Ituano e Ponte Preta disputarem uma partida onde um fingia que atacava o outro que fingia se defender, ambos jogando de salto alto como se fossem passistas dessas escolas de samba, que de samba só têm o nome estampado em um porta-estandarte, e que só arriscam um samba no pé quando o holofote da televisão é ligado: finda a luz, a passista retoma um requebro paquidérmico e segue assim até o fim do desfile. Patético.

Quando Cicinho entrou em campo, no segundo tempo, comecei a rasgar a pragmática fantasia para melhor me contorcer na poltrona; e muito vibrei quando ele fez o terceiro gol, abrindo dois de vantagem sobre o Ituano. Cicinho é o mestre-sala da Ponte Preta, essa figura carnavalesca que não pode parar de sambar até o fim do desfile e cuja função, além de proteger o pavilhão que a porta-estandarte carrega, é também a de estimular os demais componentes a seguir sempre em frente com sorriso na cara e muita disposição nos pés. A pequena torcida alvinegra em Itu viu Cicinho desfilar com galhardia e aplaudiu. Mas o restante da equipe não entendeu que ainda faltavam seis minutos para o fim do jogo e se dispersaram antes do apito final. Bastaram dois minutos para o Ituano empatar um jogo que já se anunciava vencido pela Ponte Preta. Um empate que pode ter beneficiado ambas as equipes, mas que derrotou o único jogador que realmente entrou em campo para jogar futebol: Cicinho.

Em dia de Rei Momo, os deuses do futebol desaparecem dos estádios e deixam os torcedores à míngua, desprotegidos. Aconteceu em Itu, aconteceu também no Pacaembu, onde nove entre dez torcedores (de qualquer time) acreditavam que o samba-enredo santista faria o estádio tremer. Mas quem deitou e rolou na passarela gramada foi o Galo do Japi, que goleou o Santos de Neymar, Edu Dracena e Marcos Assunção por 3 a 1- um placar que só não foi mais elástico porque detalhes surgiram em muitos arremates perigosos.

Comentaristas disseram que o Santos perdeu por conta do campo pesado que, ora, ora, era o mesmo onde o Paulista carregava a bola com rapidez e se mostrava claramente superior na marcação e no preparo físico. Um parente palestrino matou a charada: “Salto alto com galocha não dá certo”.

Rei Momo e futebol, faça chuva ou faça sol, a quarta-feira de cinzas chegou antes para a Ponte Preta, Santos, Corinthians, Palmeiras e Guarani – cuja derrota mínima para o São Paulo deve ser creditada ao árbitro e não aos jogadores que, segundo o técnico Branco, cometeram muitos erros. Errou o técnico e errei eu ao rasgar a minha fantasia antes do carnaval passar.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por