Classes são divididas em quatro grupos, com diferentes níveis de conhecimentos e dificuldades, para aulas semanais
A professora Vilma Almeida Correia Passos, da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Benevenuto Figueiredo Torres, no Jardim São José, em Campinas, criou um sistema de rodízio, envolvendo outros educadores da unidade, que permite um acompanhamento mais adequado às necessidades de cada grupo de alunos, de acordo com o saber que já têm acumulado ou então considerando as dificuldades comuns.
O modelo criado por Vilma, que, além de docente, exerce a função de coordenadora do ciclo 2 na escola (composto pelos quartos e quintos anos do Ensino Fundamental), é utilizado desde 2011 e já foi replicado em vários outros colégios da Prefeitura. Neste ano, só na Benevenuto, 14 turmas passarão pelo projeto no segundo semestre, atingindo cerca de 420 estudantes.
A escola possui várias turmas da mesma série, por causa da grande demanda por vagas em escolas públicas na região em que está localizada. Assim, no primeiro trimestre do ano, os professores observam o rendimento dos estudantes nas classes regulares, cuja distribuição por turmas é feita automaticamente pela secretaria. Ao final deste primeiro período do ano letivo, quando são aplicadas avaliações, os professores se reúnem e distribuem os estudantes em quatro grandes grupos, de acordo com o nível de conhecimento que cada um demonstrou possuir.
A partir disso, uma vez por semana, as turmas têm aulas de leitura e escrita nessa nova configuração. “Nosso objetivo não é promover uma segregação, dizendo que há melhores ou piores, mas sim trabalhar com as especificidades de cada grupo de alunos. Sequer usamos o termo dificuldades, porque queremos demonstrar que todos possuem conhecimento, embora estejam em níveis diferentes”, explica Vilma.
A iniciativa, uma vez começada, é desenvolvida semanalmente até o final do ano, com anuência das famílias. No dia em que as turmas são reagrupadas, a criançada chega à escola mais contente, afinal, é dia de estar com colegas de outras salas, o que também, de acordo com as professoras do projeto, facilita a integração. Nessas salas de trabalho especializado, para evitar preconceitos, os reagrupamentos são chamados de “grupos de saber”. “É uma forma de enfatizar que todos possuem algum conhecimento e não evidenciar as deficiências”, justifica a professora.
Foco
Em reunião, as educadoras discutem quais conhecimentos precisam ser retrabalhados com cada grupo. Assim, no grupo 1, aquele que demonstra um nível mais alto de conhecimento, o professor responsável se dedica a aprofundar o conteúdo e as práticas de leitura. Nos grupos 2, 3 e 4, as deficiências vão sendo trabalhadas de forma mais pontual, pois o sistema de reagrupamento cria classes com situações mais homogêneas.
“À primeira vista, pode parecer que a nossa prática é discriminatória, mas a experiência tem mostrado que esse projeto é uma iniciativa de grande respeito intelectual pelo aluno, pois ele se sente mais à vontade para perguntar, tirar dúvidas e o professor pode preparar atividades adequadas ao nível de todos. Na sala de aula comum, com tanta heterogeneidade, isso é impossível e muitos alunos não conseguem acompanhar”, diz Vilma.
Assim, o projeto desenvolvido na escola consegue garantir atividades personalizadas, mesmo em classes que chegam a ter de 35 a 40 alunos. Vilma começou a estruturar o projeto justamente diante da inquietação de como trabalhar com estudantes tão diferentes, sem prejudicar as especificidades de cada um.
Resultados
O resultado do projeto, nomeado de Oficina de Leitura e Escrita (OLE), é percebido pelos alunos. Kleber Leandro Valin Júnior, de 9 anos, está no 4 ano. Ele reconhece que tinha muita dificuldade em leitura e que as aulas no sistema criado na escola trouxeram melhorias que ele mesmo consegue identificar. “Hoje, eu sinto que leio muito melhor. Sei ler bem como a maioria dos meus colegas, o que não acontecia antes, quando eu tinha muita dificuldade. Foi o projeto que me ajudou nisso”, conta o garoto.
A cada ano, os professores da escola Benevenuto escolhem um tema gerador para as aulas de rodízio. Em 2011, a temática selecionada foi folclore, pois o início das atividades coincidiu com agosto, mês em que a cultura popular é lembrada com uma comemoração no dia 22. No ano passado, para facilitar o trabalho com a interdisciplinaridade, o tema escolhido foi bastante genérico: ambiente. “Optamos por algo que pudesse deixar as atividades bem livres e que possibilitasse um trabalho com diferentes disciplinas”, lembra Vilma.
Para este ano, em que o projeto será novamente desenvolvido a partir de agosto, a ideia é trabalhar com os gêneros textuais, um dos tópicos mais destacados para a área de linguagem nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que norteiam o desenvolvimento dos conteúdos em todas as escolas brasileiras, tanto do sistema público quanto do particular.