SECO

Rio Piracicaba agoniza e pede socorro

Vazão é a mais baixa dos últimos 50 anos, pedras aparecem e piracema é prejudicada

Eleni Destro/Especial para a Gazeta
igpaulista@rac.com.br
04/02/2014 às 20:03.
Atualizado em 26/04/2022 às 21:56

No salto do Piracicaba, quase não existe mais água: cena que choca (Del Rodrigues/Gazeta de Piracicaba)

Um rio que agoniza. É esse o Piracicaba que os nativos e os turistas têm como cartão postal neste momento. Durante o mês de janeiro, choveu apenas 68 milímetros, sendo que a média histórica é de 335 milímetros para este período. Diante desse cenário, o Piracicaba registra a vazão mais baixa dos últimos 50 anos, segundo informações do Consórcio PCJ (Comitê das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) e DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica). Em medição feita às 7h desta terça-feira (4), a vazão era de 19,3 metros cúbicos por segundo e o nível era de 0,99 metro. Em janeiro do ano passado, esses números eram, respectivamente, 119,96 m3/s e 2,07 metros. Segundo Luiz Roberto Moretti, diretor do Daee e secretário-executivo do PCJ, desde 1964 não se via uma vazão tão baixa. Para ele, a situação é bastante preocupante e exige cuidados da parte de quem utiliza a água das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. "Devem utilizar a água com racionalidade, evitando o desperdício. É uma situação atípica, anormal. Se não tivermos a reposição do regime normal de chuvas, poderemos ter problemas muito sérios quando chegarmos ao meio do ano", alerta Moretti, se referindo à época da estiagem. Uso racional "Se não fizermos uso racional, teremos de racionar e assim a situação fica mais complicada", enfatiza. E a previsão de chuvas para mudar esse cenário não é nada animadora. De acordo com o professor do Departamento de Engenharia e Biossistemas (LEB) da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Fábio Marin, deve começar a chover timidamente só daqui a uma semana. "E a previsão aponta 2 milímetros por hora, cerca de 15mm a 20 mm por dia. É algo que não resolve a situação para o rio", observa ele. Mas fazer previsões exatas dez dias à frente é uma tarefa difícil, avisa. A reportagem da Gazeta percorreu alguns trechos do Rio Piracicaba na tarde desta terça-feira, do salto até a Ponte do Morato. O fotógrafo Del Rodrigues entrou no Piracicaba um pouco acima da Ponte Pênsil e seguiu quase sem nenhuma dificuldade até o início do salto, em busca da imagem perfeita, que mostraria a agonia do rio. E conseguiu. Cascata vira montanha O salto parece mais uma montanha do que um rio. Para não molhar suas botas, ele as deixou em um trecho seco. O sol estava tão forte, que seus pés ficaram doloridos e, certamente, surgiriam bolhas. Essa combinação - temperatura altíssima e pouca água - afastou os turistas do rio, que ontem à tarde estava solitário. Os poucos que se arriscavam por ali, apenas lamentavam. Edson Roberto Furlan, que tem um quiosque abaixo do Museu da Água, esperava vender sorvete, água e suco para quem estivesse de passagem. "Estou aqui há 20 anos e nunca vi isso", afirmou ele. E quase não há o que se ver mesmo. Entre as pedras do salto, apenas fios de água escorrem, para formar dois maiores, embaixo da ponte pênsil, e uma espécie de lago mais abaixo, quase sem correnteza. O fotógrafo Davi Negri, 48, decidiu checar a situação de perto e atravessou o Piracicaba em seu salto. "A gente vê uma agonia danada", lamenta. Piracema Nas poças d’água que se formam, os peixes que tentam subir o rio para se reproduzir, em plena piracema, apenas tentam. "Vi um cardume de lambaris tentando subir o rio, e eles começam a se debater, batem nas pedras quentes e não conseguem nadar". Um prato cheio para as garças que ficam à espreita.O piracicabano Ricardo Borges, 62, aproveitou para ver o rio e se assustou. "Só vi o rio assim durante a estiagem. É uma resposta da natureza, para que fiquemos mais atentos com a sua preservação", alerta. Morador na Rua São José, quase esquina com a Avenida Beira Rio, há 60 anos, o aposentado Maurício Alonso, 62, conta que pescou muito no Piracicaba e parou quando ele "começou a morrer" . "Desde que eu moro aqui, nunca vi o rio assim. É uma tristeza", resume. O amigo de Alonso, João Feliciano, frequenta a região da Rua do Porto há 30 anos e nunca viu tão poucos turistas nessa época do ano.   Veja também Sumaré faz apelo por economia de água Na última sexta-feira, a temperatura na cidade chegou a 38º C, aliada a uma baixa umidade do ar Ministério Público segura licença de barragem Recomendação é para Cetesb observar questões referentes às obras em Santa Maria Valinhos adota racionamento d´água Medida será adotada para toda a cidade a partir desta terça-feira para garantir abastecimento Temperaturas batem recordes em Campinas Temperaturas máxima e mínima já são as mais altas para o mês desde 1956, conforme o IAC Campinas amplia restrição ao desperdício de água Moradores podem denunciar quem usa água lavando calçadas, desperdício que pode gerar multa Estiagem faz Atibaia virar rio de pedra Em alguns trechos já é possível atravessar a pé de uma margem para outro na altura do distrito de Sousas

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por