JOAQUIM MOTTA

Revendo relações e separações

Joaquim Motta
16/08/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 05:15
ig - joaquim motta (cedoc)

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Até a metade do século passado, as pessoas casavam com o espírito condicionado a permanecer juntas para sempre. A qualquer preço, em todas as circunstâncias, não podiam nem deviam se separar. Nos EUA, em 1948 e 1953, Alfred Kinsey publicou respectivamente relatórios sobre o comportamento sexual de homens e de mulheres. Foi o estopim da Revolução Sexual dos anos 60. Nas décadas seguintes, as publicações do casal Johnson começaram a popularizar os problemas de sexualidade, configurando de modo prático os quadros clínicos e tratamentos correspondentes. Ao longo dos últimos 30 anos, seguem-se ações e reações de transformação, ora recuperando valores antigos, ora revelando novas ideias e condutas. O feminismo, o movimento gay, relações abertas e até os sites de assexuados têm alternado polêmicas e modismos indicando que a revolução não terminou. Os relacionamentos amorosos estão menos estáveis, encontros casuais são comuns. Em uma balada, os jovens experimentam ficar, beijando diferentes parceiros sem comprometimento. Até as relações que implicam compromisso estão vulneráveis. Namorados, noivos e esposos se afastam por razões mínimas. Separações são cada vez mais numerosas e corriqueiras. No entanto, há pessoas que não se deixam levar por essa maré do “amor líquido”, expressão de Zygmunt Bauman. Elas conseguem revalorizar os seus elos, retificando os equívocos e reforçando as virtudes do casal. É verdadeiramente trabalhoso se envolver de verdade numa relação, aproveitar o que há de melhor, debater e contornar divergências. Isso demanda uma arte de manutenção do vinculo, grande abertura ao diálogo e evidentemente alguma conexão sentimental para a sustentação do casal nos abalos inevitáveis. O arrependimento de pessoas separadas costuma se patentear com seus novos companheiros – elas percebem que cada relação reprisa as insatisfações anteriores. O problema é maior com os homens. Eles colecionam histórias frustrantes com mulheres.Na prática, é como se o homem necessitasse de outra mulher para assumir uma separação. Por seu turno, a mulher não depende disso para decidir se separar. Exemplo típico é o de um homem que vive agora mais um episódio crítico, com chance de nova separação, rompendo com a sexta esposa. Nas cinco separações anteriores, ele sempre esteve namorando outra mulher. Nessa crise atual não tem relação paralela, o que dificulta a tomada de decisão. O homem que se separa já enredado em outro vínculo não percebe que, na verdade, jamais deixa de ser casado, apenas troca de mulher. Ele não assume essencialmente a postura de separado, nem retoma o espaço e o tempo da vida de solteiro, de morar e viver sozinho. Tampouco vivencia a chance de ter namoros. Inverte-se a sequência óbvia: ele casa antes de namorar. A dinâmica é comum à maioria dos homens: tomar a iniciativa de se separar quando existe relação com outra mulher. Raramente vemos aquele que se separa devido a conflitos da vida a dois, sem ter alguém na espera. Então, o homem vai trocando de companheira, mas continua em típica vida de casado. Mais tarde, o amadurecimento psicológico permite (pena que muitos só amadureçam no lado biológico) rever espiritual e materialmente tudo o que ocorreu.

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