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Retrato da Geração Z

Os jovens modernos têm valores, costumes e objetivos de vida consideravelmente diferentes dos que tinham seus pais e avós

Diego Cunha
25/02/2019 às 15:39.
Atualizado em 05/04/2022 às 00:49

A geração z, indivíduos nascidos a partir do início dos anos 90, possui na relação estreita com a tecnologia sua principal característica. Nascer em um período de intensa globalização os fizeram ávidos por resultados, já que a dinâmica do mundo virtual construiu um perfil de ser humano estimulado pela instantaneidade das ações. Afinal, com um “clique” se tornou possível arruinar ou engrandecer a vida de alguém, principalmente nas badaladas redes sociais. Um jovem extremamente conectado, carregado por um instinto autônomo que se reflete nas mais variadas situações do cotidiano, seja na formação de opiniões bastante particulares, seja na concepção do que é relevante para uma vida íntegra. O que podemos concluir é que surge uma geração com valores, costumes, e objetivos de vida consideravelmente diferentes de períodos anteriores.Se antigamente o estímulo a um trabalho intenso e focado em formar uma família era uma idealização de vida predominante, hoje em dia as perspectivas se alteraram um pouco. Amanda Gianetti, de 19 anos, por exemplo, conta que se precisasse definir um único objetivo de vida, sem dúvida seria viajar ao redor do mundo: “Atualmente, não consigo me enxergar daqui a 10 anos trabalhando para formar uma família, minha prioridade é conhecer novas culturas”. No entanto, demonstra uma outra característica comum dos jovens modernos: o desejo de uma estabilidade profissional. Segundo ela, a preocupação em atingir o sucesso no caminho que pretende seguir profissionalmente chega a ser motivo de estresse no dia a dia. Tal preocupação é a mesma de Bárbara Vaz, de 22 anos, recém-formada em fisioterapia: “Acredito que, com a vida corrida, muitas vezes deixamos de lado nossos sonhos pra conquistar outros objetivos, como ser bem-sucedido”. Bárbara ainda completa: “Ser feliz fazendo o que amo e tendo as pessoas que amo por perto é, com certeza, o que mais vale, algo que, sem dúvida, faz as coisas fluírem e acontecerem da melhor forma possível”. Bárbara, entretanto, se difere do padrão atual na questão sobre os filhos: “Apesar de também ter o sonho de sair viajando por aí, estar formando minha família daqui a algum tempo é, claro, algo que desejo muito vivenciar. Espero conquistar os dois”. A psicóloga Denise Wendland, pós-graduada em neuropsicologia pela Unicamp, explica que, a frequente opção por não priorizar a formação de uma família por parte dos jovens, decorre da transformação do papel da mulher na sociedade. “Com o empoderamento feminino, a mulher pode escolher pela maternidade, tornando-se responsável pela sua sexualidade, optando por ter ou não ter filhos e quando tê-los.” Denise ainda espelha o caso de Amanda Gianetti: “Os jovens estão encontrando outras experiências emocionantes, além da maternidade e da paternidade, dentre elas a facilidade de viajar e conhecer novas pessoas e culturas.” E identifica, ainda, a internet, o fácil acesso ao cartão de crédito, e não ter o compromisso em sustentar um lar, os principais instrumentos que levam ao crescimento da sensação de liberdade dos jovens.Consciência renovadaOutra mudança significativa apresentada pelos jovens da geração z é a construção de um pensamento social forte. A preocupação com a pluralidade de inclusão na sociedade, de indivíduos historicamente marginalizados, e uma responsabilidade com o meio ambiente são algumas das vertentes desse novo ideal jovem. A questão da sexualidade, por exemplo, que representa um dos tabus mais resistentes socialmente, principalmente no que se refere a assumir a homossexualidade, faz os jovens da atualidade lutarem para quebrá-lo. Bárbara exemplifica um pouco do que a juventude pensa sobre o assunto: “A mídia digital tem auxiliado muito na disseminação de informação, por meio das redes sociais principalmente, que de certa forma empondera as pessoas dentro das suas questões pessoais, mostrando que não estão sozinhos e que não precisam ter vergonha ou medo. Ainda assim muita coisa precisa mudar e evoluir para que possamos ter um mundo livre de preconceitos e mais cheio de amor”. A psicóloga Denise Wendland enxerga que essa nova postura dos jovens se deve às mudanças sociais ocorridas durante o século 20, na forma de encarar a sexualidade para além da reprodução e também nas políticas de visibilidade da homossexualidade. Como exemplo cita: as leis que regulam a parceria amorosa legalizada entre pessoas do mesmo sexo, as operações cirúrgicas de adequação sexual e modificação do nome em documentos de pessoas transexuais. E ainda, o Conselho Federal de Psicologia, criado em 1999, que estabeleceu normas éticas para atuação psicológica e destacou que a homossexualidade não é considerada doença, gerando impacto positivo no enfrentamento do preconceito e maior aceitação da sexualidade.E o momento do relax?Em paralelo a essas discussões, transformações mais simples podem ser notadas. Os momentos de lazer, por exemplo, tiveram suas prioridades bastante alteradas. Amanda, por exemplo diz: “Quando estou em casa, normalmente fico na internet e celular o tempo todo, e assisto seriados de TV mais na parte da noite. Quando saio costumo ir a shoppings e restaurantes”. Já Bárbara, tem suas preferências: “Nos meus momentos de lazer gosto de sair de ir em bares com os meus amigos, cinema, conhecer lugares novos, dançar”. Mas não fica para trás quando o assunto é internet: “Uso o celular e a internet a todo momento, seja nos intervalos do trabalho, no almoço, pra procurar alguma informação, ver a hora, me comunicar com alguém, as vezes é difícil imaginar como éramos sem a tecnologia”. Segundo Denise , os avanços tecnológicos provocaram mudanças significativas no comportamento e no modo de viver dos jovens. A psicóloga afirma: “Constata-se que houve um aumento na capacidade para busca de informações, mas que os jovens utilizam menos a memória, ou seja, o smartphone assume o papel de memória estendida. O que reflete nas práticas educacionais e no convívio social.” Sendo assim, de fato nascer em um mundo digitalizado construiu um jovem diferente. Se por um lado podem se isolar socialmente por viverem em um mundo virtual, por outro tornaram-se seres humanos dotados de um sentimento de liberdade capaz de traçar realidades totalmente diferentes de seus antepassados.

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