Em tempos de crise econômica, os empresários precisam usar a criatividade para não perder clientes e ainda tentar ganhar novos consumidores
Elisangela Caravita, proprietária de restaurante, conta que não precisou repassar reajuste aos seus clientes ( Del Rodrigues/ AAN)
Em tempos de crise econômica, os empresários precisam usar a criatividade para não perder clientes. Em Piracicaba, os proprietários de bares, restaurantes e lanchonetes encontraram nas compras coletivas uma alternativa para não repassar aos consumidores os reajustes nos preços dos produtos alimentícios. A iniciativa, que nasceu com o auxílio da internet, por meio da criação de um grupo no WhatsApp, se profissionalizou e se transformou na Associação Piracicabana da Alimentação Fora do Lar (Apaflar).Atualmente, são 285 associados – destes, 83 são fornecedores. “A ideia nasceu em março. Como encontrava com frequência alguns empresários do ramo alimentício, durante compras para o meu restaurante, resolvi criar um grupo no WhatsApp, intitulado Turma do Rango. O objetivo foi unir empresários que precisam das mesmas coisas, para que trocassem informações sobre produtos com melhores preços”, revela o presidente da Apaflar, Eduardo Herling. “Depois, passamos a fazer as compras dos produtos juntos e, assim, conseguimos preços mais em conta. Mas o grupo cresceu e o negócio ficou sério”, acrescenta, de forma descontraída.Ainda segundo Herling, 85% dos produtos consumidos pelos associados são arroz, feijão, óleo e carne. “De todo o giro de um restaurante, estas são compras básicas para todos. Com a nossa expansão, passamos a procurar produtos direto da fonte, tirando da negociação os atravessadores. A economia começou a aparecer e, com alguns produtos, chega a 50%”.Dessa forma, o presidente não repassou os reajustes aos seus clientes e, além de manter as pessoas que já frequentavam o espaço, conquistou novos consumidores. “Quando passamos por crises econômicas, os que mais sofrem são os pequenos empresários. Por isto, nosso principal objetivo é dar suporte a estes empreendimentos. Apesar disto, contamos com associados grandes, que servem cerca de 10 mil refeições por dia. No fim, todos ganham”, revela Herling.ResultadosProprietária do restaurante Multi Sabor, Elisangela Castelhano Caravita conta que ao ingressar na associação conseguiu manter as refeições com valores estáveis. Além disso, evitou demissões. “A proposta é muito boa e o sistema tem apresentado resultados positivos. Não registrei crescimento nas vendas, mas também não perdi cliente. Então, acredito que estou no lucro”, assegura.Entre os alimentos que tiveram desconto nas compras em conjunto está a carne, com redução de 17%, segundo a associação. A maior economia foi na compra da batata: 50%. De acordo com o vice-presidente da Apaflar, Miltinho Martins, que também é proprietário de restaurante, o setor gastronômico da cidade representa aproximadamente 8% do PIB (Produto Interno Bruto) do município. “Estamos inclusos em um segmento representativo, porém pouco prestigiado pelas políticas públicas. Pagamos elevada carga tributária e sofremos com o contínuo aumento no valor dos produtos que utilizamos nas cozinhas. Para driblar essas dificuldades, percebemos que fazendo a compra direta com o produtor, pelo volume elevado, podemos ter bons descontos”, revela.EconomiaEm compra com um dos fornecedores parceiros da associação, o grupo conseguiu pagar R$ 1,99 no quilo do peru, por exemplo. “O preço correto era de R$ 9,10. Já o filé de frango estava R$ 6,90, mas conseguimos negociar por R$ 5,90. Levamos quatro toneladas”, diz o presidente da associação, Eduardo Herling.Quarta refeição mais cara Pesquisa realizada pela Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador (Assert) mostra que o preço médio do almoço em estabelecimentos que trabalham com vale-refeição, na região de Piracicaba – que inclui Campinas – é o mais caro do Estado de São Paulo. Já em toda região Sudeste, é a quarta com maior valor.Na região, o custo médio da refeição é de R$ 28,73, acima da média da região Sudeste, de R$ 27,76, bem como da média nacional, de R$ 27,36. O preço médio do prato comercial ou prato feito é R$ 26,25. O custo do quilo médio é R$ 27,20, o executivo é R$ 39,95 e à la carte é R$ 55,85, apontou a pesquisa.“Toda a análise é realizada dentro do contexto de pressão na alta dos preços dos alimentos e o impacto decorrente do ambiente econômico e, consequentemente, no orçamento de cada brasileiro”, explica o presidente da Assert, Artur Almeida.Ainda segundo Almeida, a pesquisa não pode ser caracterizada como um índice econômico, mas serve como parâmetro sobre o comportamento de preços de refeição fora do lar. E para se chegar aos números médios, a Assert somou o valor médio do prato, da bebida, da sobremesa e de um café.Com este cenário, os trabalhadores precisam arcar com R$ 574,60 mensais com refeições de segunda a sexta-feira, no horário do almoço (considerando quatro semanas com cinco dias de trabalho cada). O valor equivale a 72,9% do salário mínimo nacional, que é de R$ 788.