Queridinha das celebridades e sucesso no Exterior, a estilista Martha Medeiros esteve em Campinas para o lançamento de sua nova coleção
Conhecida pelas peças rendadas exclusivas, Martha Medeiros, queridinha das famosas, deu uma passada rápida por Campinas, na tarde do último dia 12, para apresentar sua coleção primavera-verão 2014 em primeira mão para as clientes da KER – única loja da cidade a comercializar a marca –, no Shopping Iguatemi Campinas.Apesar de atemporais, os shapes para a próxima estação estão mais leves e levam as cores do mar, dos búzios, das conchas e da areia. A inspiração, segundo Martha, veio das belezas das Ilhas Maldivas. “A mulher que usa Martha Medeiros não está preocupada em chamar atenção pelo excesso, mas pela qualidade do que está vestindo”, decreta a estilista. Foto: Reprodução A estilista Martha Medeiros: "A renda tem grande valor no Exterior. Para se ter uma ideia, somos os únicos brasileiros a vender para a Bergdorf Goodman, sofisticada loja de departamentos em Nova York" Celebridades como Ivete Sangalo e Mariana Rios arrasaram com looks da alagoana em eventos de grande visibilidade. A baiana do axé se apresentou no fim de semana de estreia do Rock in Rio com um vestido azul que tinha detalhes em renda, figuras de coqueiros e 28 mil cristais Swarovski. Já a mineira Mariana desfilou no tapete vermelho do Festival de Cannes, em maio deste ano, com um longo de rendas coral. Mas os nomes não param por aí e a lista é extensa: Daniella Mercury, Claudia Leitte, Fernanda Souza, Fernanda Lima, Mariana Weickert, Juliana Paes, Giovanna Antonelli e Giovanna Ewbank estão entre as grandes fãs de suas criações.O sucesso e a beleza das roupas de Martha vêm das habilidosas mãos de rendeiras do sertão nordestino, organizadas em associações localizadas desde Alagoas até o Rio Grande do Norte. Esse delicado e demorado trabalho é mantido pela empresa da estilista, que luta para que o ofício não acabe. “Me criei às margens do (rio) São Francisco e quando comecei a trabalhar com rendas as comunidades só eram encontradas lá. Hoje estamos por todo o sertão, desde Alagoas até o Morro da Mariana, no Piauí”, conta.Há uma escola em São Sebastião (AL) voltada para o aprendizado desse trabalho, a Escola de Renda, com cerca de 30 meninas inscritas. “Nós garantimos o serviço das rendeiras e a infraestrutura das associações. A renda é nosso DNA, por isso, não se trata de um trabalho pontual. Investimos o tempo todo”, ressalta. Martha contou ainda que levará uma das rendeiras – que por curiosidade tem menos de 30 anos – à Europa para que ela veja até onde seu trabalho pode chegar. “A renda tem grande valor no Exterior. Para se ter uma ideia, somos os únicos brasileiros a vender para a Bergdorf Goodman, sofisticada loja de departamentos em Nova York.” A renda de bilro, produzida em uma espécie de almofada, é a carro-chefe na produção. Mas as rendeiras também confeccionam a renascença, a filé, a richelieu e a rara e delicadíssima boa noite – esta última é feita apenas na Ilha do Ferro, bem no meio do Rio São Francisco, a 320 quilômetros de Maceió (AL).Martha não se contenta somente com o que tem acesso e busca resgatar, por meio de pesquisas, técnicas que ficaram no passado, resultando em trabalhos em alto-relevo, como as pipoquinhas.Além das peças de alta-costura, que fazem sucesso no Exterior, a estilista já fez parceria com lojas de departamentos, levando seus produtos a coleções com valores acessíveis, como a feita para a Riachuelo, no último Dia dos Namorados. Foto: Reprodução As peças de alta-costura, muito usadas por noivas, fazem sucesso no Exterior Como tudo começouO gosto pela moda veio a partir da confecção de roupas para bonecas. Neta de professora de artes, Martha aprendeu com a avó como o acabamento de uma roupa deveria ser feito. Resolveu, então, abrir uma butique somente com roupas para bonecas. Mais tarde, passou a produzir peças para si e, como gostava muito de bordar, colocou algumas à venda para adultos, com pedras e rendas. A loja foi se desenvolvendo, os itens rendados viraram sucesso e ela passou a enxergar o hobby como negócio. Hoje, são 31 anos de trajetória, 20 pontos de vendas no Brasil, uma loja em Maceió e uma em São Paulo, no Jardins. No Exterior, é possível encontrar Martha Medeiros em Nova York, Londres e Dubai.E não é só ao vestuário que se limita a marca. A vinda do papa Francisco ao Brasil, na Jornada Mundial da Juventude, resultou na confecção de peças para a decoração dos aposentos e dos jantares dos quais o pontífice participou. “Desenvolvemos itens exclusivos, como colchas, lençóis e até a prataria, seguindo as cores do Vaticano. A partir desse evento, já tivemos vários convites de hotéis internacionais para decorar suítes de noivas. Foram apenas três meses para produzir tudo”, conta. Para este ano, a alagoana tem planos de uma nova loja em São Paulo, prevista para novembro, em frente à já estabelecida na Rua Mello Alves. Lá ela deixará um espaço lifestyle, voltado para noivas e artigos para casa. Foto: Reprodução Renda bilro: desenvolvida na Bélgica/Flandres Trabalho com históriaSegundo os registros mais aceitos pelos especialistas, a renda nasceu nas cortes europeias e cada técnica foi desenvolvida em uma região específica: bilro (Bélgica, Flandres), gripir e richelieu (França) e renascença (Itália). Aqui, o ofício chegou com a família real, no século 15, e as técnicas foram repassadas pelas freiras que vieram difundir o catolicismo na colônia. “Ela era utilizada em detalhes, exclusiva para a corte e o clero, em toalhas para o altar das igrejas e nas mangas das batinas dos padres e bispos”, conta a docente do curso de Moda do Senac Campinas Justine Armani. Pela corte real ter se estabelecido, a princípio, no Nordeste, os centros que mais desenvolvem a prática estão naquela região. Mesmo assim, o investimento nesse trabalho é pequeno e são poucos os estilistas que o valorizam. “A renda não precisa estar apenas em aplicações românticas e delicadas. Elas cabem perfeitamente em modelagens modernas, como as de Martha Medeiros e de Ronaldo Fraga, adequando-se ao estilo da pessoa. Ainda mais porque são peças atemporais e não seguem a moda”, destaca Justine. A professora acredita que essa realidade é uma questão cultural. “As raízes da renda não estão no Brasil, mas fazem parte de nossa cultura e história. Trata-se de uma discussão em andamento em relação à identidade da moda brasileira, que ainda é ditada pelo que sai lá fora. O europeu valoriza muito o que é feito à mão, o brasileiro ainda se deslumbra pela industrialização”, diz.