ALTA-COSTURA

Renda máxima

Queridinha das celebridades e sucesso no Exterior, a estilista Martha Medeiros esteve em Campinas para o lançamento de sua nova coleção

Camila Ferreira/Especial para a Metrópole
22/09/2013 às 05:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:02

Conhecida pelas peças rendadas exclusivas, Martha Medeiros, queridinha das famosas, deu uma passada rápida por Campinas, na tarde do último dia 12, para apresentar sua coleção primavera-verão 2014 em primeira mão para as clientes da KER – única loja da cidade a comercializar a marca –, no Shopping Iguatemi Campinas.Apesar de atemporais, os shapes para a próxima estação estão mais leves e levam as cores do mar, dos búzios, das conchas e da areia. A inspiração, segundo Martha, veio das belezas das Ilhas Maldivas. “A mulher que usa Martha Medeiros não está preocupada em chamar atenção pelo excesso, mas pela qualidade do que está vestindo”, decreta a estilista. Foto: Reprodução A estilista Martha Medeiros: "A renda tem grande valor no Exterior. Para se ter uma ideia, somos os únicos brasileiros a vender para a Bergdorf Goodman, sofisticada loja de departamentos em Nova York" Celebridades como Ivete Sangalo e Mariana Rios arrasaram com looks da alagoana em eventos de grande visibilidade. A baiana do axé se apresentou no fim de semana de estreia do Rock in Rio com um vestido azul que tinha detalhes em renda, figuras de coqueiros e 28 mil cristais Swarovski. Já a mineira Mariana desfilou no tapete vermelho do Festival de Cannes, em maio deste ano, com um longo de rendas coral. Mas os nomes não param por aí e a lista é extensa: Daniella Mercury, Claudia Leitte, Fernanda Souza, Fernanda Lima, Mariana Weickert, Juliana Paes, Giovanna Antonelli e Giovanna Ewbank estão entre as grandes fãs de suas criações.O sucesso e a beleza das roupas de Martha vêm das habilidosas mãos de rendeiras do sertão nordestino, organizadas em associações localizadas desde Alagoas até o Rio Grande do Norte. Esse delicado e demorado trabalho é mantido pela empresa da estilista, que luta para que o ofício não acabe. “Me criei às margens do (rio) São Francisco e quando comecei a trabalhar com rendas as comunidades só eram encontradas lá. Hoje estamos por todo o sertão, desde Alagoas até o Morro da Mariana, no Piauí”, conta.Há uma escola em São Sebastião (AL) voltada para o aprendizado desse trabalho, a Escola de Renda, com cerca de 30 meninas inscritas. “Nós garantimos o serviço das rendeiras e a infraestrutura das associações. A renda é nosso DNA, por isso, não se trata de um trabalho pontual. Investimos o tempo todo”, ressalta. Martha contou ainda que levará uma das rendeiras – que por curiosidade tem menos de 30 anos – à Europa para que ela veja até onde seu trabalho pode chegar. “A renda tem grande valor no Exterior. Para se ter uma ideia, somos os únicos brasileiros a vender para a Bergdorf Goodman, sofisticada loja de departamentos em Nova York.”   A renda de bilro, produzida em uma espécie de almofada, é a carro-chefe na produção. Mas as rendeiras também confeccionam a renascença, a filé, a richelieu e a rara e delicadíssima boa noite – esta última é feita apenas na Ilha do Ferro, bem no meio do Rio São Francisco, a 320 quilômetros de Maceió (AL).Martha não se contenta somente com o que tem acesso e busca resgatar, por meio de pesquisas, técnicas que ficaram no passado, resultando em trabalhos em alto-relevo, como as pipoquinhas.Além das peças de alta-costura, que fazem sucesso no Exterior, a estilista já fez parceria com lojas de departamentos, levando seus produtos a coleções com valores acessíveis, como a feita para a Riachuelo, no último Dia dos Namorados. Foto: Reprodução As peças de alta-costura, muito usadas por noivas, fazem sucesso no Exterior Como tudo começouO gosto pela moda veio a partir da confecção de roupas para bonecas. Neta de professora de artes, Martha aprendeu com a avó como o acabamento de uma roupa deveria ser feito. Resolveu, então, abrir uma butique somente com roupas para bonecas. Mais tarde, passou a produzir peças para si e, como gostava muito de bordar, colocou algumas à venda para adultos, com pedras e rendas. A loja foi se desenvolvendo, os itens rendados viraram sucesso e ela passou a enxergar o hobby como negócio. Hoje, são 31 anos de trajetória, 20 pontos de vendas no Brasil, uma loja em Maceió e uma em São Paulo, no Jardins. No Exterior, é possível encontrar Martha Medeiros em Nova York, Londres e Dubai.E não é só ao vestuário que se limita a marca. A vinda do papa Francisco ao Brasil, na Jornada Mundial da Juventude, resultou na confecção de peças para a decoração dos aposentos e dos jantares dos quais o pontífice participou. “Desenvolvemos itens exclusivos, como colchas, lençóis e até a prataria, seguindo as cores do Vaticano. A partir desse evento, já tivemos vários convites de hotéis internacionais para decorar suítes de noivas. Foram apenas três meses para produzir tudo”, conta. Para este ano, a alagoana tem planos de uma nova loja em São Paulo, prevista para novembro, em frente à já estabelecida na Rua Mello Alves. Lá ela deixará um espaço lifestyle, voltado para noivas e artigos para casa. Foto: Reprodução Renda bilro: desenvolvida na Bélgica/Flandres Trabalho com históriaSegundo os registros mais aceitos pelos especialistas, a renda nasceu nas cortes europeias e cada técnica foi desenvolvida em uma região específica: bilro (Bélgica, Flandres), gripir e richelieu (França) e renascença (Itália). Aqui, o ofício chegou com a família real, no século 15, e as técnicas foram repassadas pelas freiras que vieram difundir o catolicismo na colônia. “Ela era utilizada em detalhes, exclusiva para a corte e o clero, em toalhas para o altar das igrejas e nas mangas das batinas dos padres e bispos”, conta a docente do curso de Moda do Senac Campinas Justine Armani. Pela corte real ter se estabelecido, a princípio, no Nordeste, os centros que mais desenvolvem a prática estão naquela região. Mesmo assim, o investimento nesse trabalho é pequeno e são poucos os estilistas que o valorizam. “A renda não precisa estar apenas em aplicações românticas e delicadas. Elas cabem perfeitamente em modelagens modernas, como as de Martha Medeiros e de Ronaldo Fraga, adequando-se ao estilo da pessoa. Ainda mais porque são peças atemporais e não seguem a moda”, destaca Justine. A professora acredita que essa realidade é uma questão cultural. “As raízes da renda não estão no Brasil, mas fazem parte de nossa cultura e história. Trata-se de uma discussão em andamento em relação à identidade da moda brasileira, que ainda é ditada pelo que sai lá fora. O europeu valoriza muito o que é feito à mão, o brasileiro ainda se deslumbra pela industrialização”, diz.

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