NOVELISTA

Renata Dias Gomes: DNA de escritora de televisão

Neta dos dois ícones da TV brasileira, Dias Gomes e Janete Clair, Renata desponta na televisão

Agência Anhanguera de Notícias
26/02/2013 às 16:26.
Atualizado em 26/04/2022 às 03:08

Com apenas cinco anos ela escreveu uma redação sobre uma viagem imaginária sem saber que ela seria escolhida pela professora e publicada no jornalzinho da escola. Quando viu seu trabalho exposto ali já sabia que queria ser escritora. "Aprendi a ler e a escrever sozinha para poder contar histórias".

Neta de dois dos maiores escritores e novelistas brasileiros, Dias Gomes e Janete Clair, considerados ícones na história da teledramaturgia nacional, aos 29 anos, a carioca Renata Dias Gomes é uma das mais jovens e promissoras roteiristas que têm despontado no mercado.

Na infância, seu pai chegou a mandar alguns textos seus para seu avô. "Eu me surpreendia quando atendia ao telefone e meu avô dizia: Renata, é o vovô. Olha, li sua poesia ou seu conto e gostei muito". Mas ela afirma que nunca o papo se estendeu porque não queria se deixar influenciar.

Nos últimos anos, Renata passou pela Record e SBT, e teve a chance de trabalhar com diferentes autores. Contratada pela Globo, em 2012, trabalhou como colaboradora na temporada de Malhação no ano passado. Em 2014, assumirá um dos maiores desafios da carreira: será uma das colaboradoras na trama das 21 horas, do dramaturgo Aguinaldo Silva. "Tenho certeza que será maravilhoso. Estou empolgadíssima com esse trabalho".

Antes de se tornar escritora, Renata diz que pensou em cursar jornalismo, mas com a morte do avô, em 1999, não teve boa experiência com os profissionais da área, o que a desestimulou. Optou então por cinema, mas diz que sempre soube que seria roteirista. Sobre o trabalho de colaborador, diz que ele depende muito do que o autor deseja.

"Muitos gostam de receber opinião e dão espaço. Cabe ao colaborador perceber até onde pode ir. Normalmente a função dele é abrir cena e escrever os diálogos em cima de uma escaleta preparada pelo autor. Mas isso também pode variar. O colaborador precisa estar à disposição para o que for necessário", explica.

Sobre a abertura de mercado nesta área, diz que cada pessoa conquistou sua vaga de uma forma e que não existe um caminho formal.

"Fazer cursos é sempre bacana para trocar experiências, conhecer pessoas do meio e principalmente para ter seu texto lido. Escrever para teatro também é uma boa opção para tornar seu texto conhecido. Mas não sei apontar um caminho. Posso dizer que o meu foi através das produtoras de conteúdo até conseguir a chance na Record".

Atualmente, está envolvida com uma página no facebook em homenagem à avó. O link é: facebook.com/janeteclairoficial.

Além disso, mantém um blog sobre ecologia com a atriz Joana Limaverde. Nesta entrevista exclusiva, Renata fala dentre outras coisas, sobre o trabalho. "Meu sonho é contar as minhas próprias histórias".

Gazeta: Quando você nasceu, sua avó (Janete Clair) já tinha morrido, mas você teve a companhia do seu avô (Dias Gomes) até os 15 anos. O que lembra dessa época?

Renata: Nossa relação era só familiar exatamente porque eu sabia que seria escritora. Eu procurei me afastar o máximo possível do lado profissional para não me influenciar. Além disso, meu avô era um cara que não misturava as estações. Tenho certeza que ele estaria ali caso eu o procurasse para falar disso, mas eu nunca procurei. Meu primeiro contato com a obra dele foi quando na oitava série meu colégio adotou "O Pagador de Promessas" e "O Santo Inquérito". Fui obrigada a ler para fazer a prova. Ele foi à minha escola dar uma palestra, o que foi uma das maiores emoções da minha vida. Não sei dizer se essas decisões foram certas porque ao mesmo tempo sei que perdi a oportunidade de conhecer a fundo um escritor extraordinário, mas foi o que meu coração mandou fazer na época.

E com sua avó, como foi crescer sabendo que era neta de um símbolo da dramaturgia?

R: Com ela, vivi uma relação diferente. Eu não a conheci e ela era um quadro na parede de casa, mas um quadro muito amado. Eram sentimentos muito loucos e contraditórios que cresciam comigo. Eu tinha dois meses e cresci escutando que ela me esperou nascer para morrer. Não sei é verdade, mas isso despertou em mim um amor gigante e idealizado por aquela mulher. Quando fiz treze anos, vários textos dela chegaram em casa e comecei a organizar. Foi um encontro incrível.

O fato de ter sobrenome famoso lhe abriu portas?

R: Ah, lógico que ajuda. E atrapalha também. Eu provavelmente não teria conseguido a bolsa de estudos da maratona de roteiros (ver ao lado), se não fosse a gratidão que a Glória Perez tem pela minha avó. Na realidade, a maior herança que meus avós me deixaram foi esse carinho. Às vezes atrapalha também, claro, porque eu me cobro muito, mas procuro olhar o lado bom das coisas e acho que é bom pra caramba ser neta deles! Especialmente porque deixaram esse carinho que as pessoas têm comigo e um excelente exemplo de que é possível viver de arte, que sempre me fez continuar mesmo nas horas mais difíceis.

Com menos de 30 anos, você já trabalhou com vários autores de estilos diferentes e, em 2014, trabalhará com um dos grandes mestres da teledramaturgia brasileira, o autor Aguinaldo Silva. Como surgiu esse convite?

R: Eu trabalhei com quatro autores: Margareth Boury, Cristianne Fridman, Tiago Santiago e Ingrid Zavarezzi, além da Ana Moretzhon e do Ricardo Linhares, que supervisionaram Malhação. É muito bacana trabalhar com estilos diferentes porque vou absorvendo um pouco de cada um, vendo o que me identifico, o que acho que pode funcionar quando chegar a minha vez. Fui eu que procurei o Aguinaldo. Meu contrato com a Globo estava no final porque acabava junto com a temporada da Malhação. Procurei alguns autores, foram quase todos muito receptivos. O Aguinaldo me respondeu e pediu que mandasse um texto para ele avaliar. Mandei um curta e um conto. Ele respondeu dizendo que tinha gostado e me chamou para a equipe. Gosto de assistir a novelas como telespectadora. Já era noveleira antes de ser novelista.

Como foi sua entrada para a TV?

R: Em 2002, eu fui recebida pelo autor Gilberto Braga na casa dele numa tarde de conversa inesquecível. Nesse dia ele topou ler um texto meu. Esperei alguns meses e quase caí para trás quando ele ligou de volta para falar que tinha mesmo lido. E não só tinha lido como tinha me considerado uma ótima dialoguista pra minha idade. Por isso me indicou para a oficina de autores da Globo. Só que a oficina demorou para acontecer. Quando fui chamada para um teste estava amamentando. Escrevi com uma mão só porque minha filha mamava do outro lado, mas não passei. Então mandei currículo para todas as produtoras de vídeo do Rio e duas me chamaram para escrever institucionais. Alguns meses depois, uma terceira me chamou pra uma entrevista para um seriado. Passei e foi minha primeira experiência com dramaturgia. Era uma série de apenas seis episódios educativa produzida para TV Escola. Foi bacana e mais um trabalho para carregar na mala de experiências.

Uma Rosa com Amor foi uma adaptação de uma obra de sucesso do passado, mas não foi sucesso na nova versão. Por quê?

R: Eu amei escrever Uma Rosa com Amor. Tive acesso aos originais do Vicente Sesso (autor original), que são uma verdadeira aula. Tivemos um sucesso relativo porque pegamos um horário que dava quatro pontos e entregamos com dez. Trabalhar com o Tiago foi uma delícia porque ele me dava bastante liberdade. Depois ainda teve a entrada do Miguel Paiva que foi incrível. Um grande presente.

Amor e Revolução apesar de ter naufragado no Ibope, teve a quebra de um grande tabu por ser a primeira emissora a exibir o beijo gay, barrado em outras ocasiões. Como foi isso? Que temas gostaria de falar?

R: Foi uma novela difícil em muitos aspectos, perdemos uma pessoa importante na produção, mas não sei explicar porque naufragou. A cena do beijo veio depois de uma sugestão do Miguel Paiva. Ele sugeriu que a personagem da atriz Luciana Vendramini tentasse a da Gisele Tigre. No ar, achei muito bonita e bem realizada. Fico feliz por ter quebrado esse tabu, mas não vejo motivos para tanta polêmica porque todo mundo se beija. Quero só contar histórias, mexer com as pessoas. Me preocupo com histórias e não com temas.

Entrada na TV aberta

Em 2006, uma maratona de roteiros - série de palestras e workshops-, organizada pela Associação dos Roteiristas (AR), foi o passaporte para a entrada na TV aberta. "Eu não tinha grana para participar.

A Gloria Perez era a convidada da última palestra e ao saber que eu não participaria por esse motivo pediu ao presidente da AR uma bolsa de estudos". Ela relembra que a palestra do autor Tiago Santiago, devido a um concurso de roteiros realizado na Record no ano anterior era muito disputada "Todo mundo queria falar com ele.

O Gustavo Reiz, meu amigo e também autor, me incentivou a falar com o Tiago porque eu tinha lido há um tempo que ele tinha interesse em ler os originais da minha avó", conta.

Renata aponta que, nessa época, seu pai também vivia uma fase financeira difícil e que Tiago lhe deu atenção.

"Acabei tomando coragem para perguntar se ele podia ler um texto meu. Ele topou! Mandei por e-mail um curta escrito nos tempos da faculdade que considerei bacana porque era curto, tinha bastante diálogo e achei que seria interessante pra mostrar habilidades que me serviriam como colaboradora".

A negociação sobre as obras de sua avó não avançaram, mas ela diz que ele gostou do seu texto e a convidou para ir para Record. Nesse período, Tiago estava no meio da novela Prova de Amor e a indicou para a autora Margareth Boury que estava começando Alta Estação. "Foi a melhor professora possível para um primeiro trabalho".

A novela não fez sucesso, mas Renata acha que o grande problema foram as mudanças de horário, mas diz que amou escrevê-la.

Em sua segunda novela, Chamas da Vida, ela escreveu para um público adulto e também gostou muito da experiência.

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