Clima e condições da região de Campinas formam o cenário ideal para descargas
A chegada do calor nesta época do ano traz outros dois fenômenos naturais que colocam a população da Região Metropolitana de Campinas (RMC) em alerta: tempestades e descargas elétricas, popularmente conhecidas como raios. De acordo com dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a região recebe uma média de aproximadamente 32 mil raios por ano. Historicamente, a incidência de raios na RMC é maior que a média nacional. De 2000 a 2012, a região recebeu uma média anual de 8,84 descargas elétricas por quilômetro quadrado, enquanto no País a média é de 5,99 raios por quilômetro quadrado. As chuvas com descargas elétricas, provocadas por calor intenso e alta umidade, são típicas no fim da Primavera e em todo o Verão, segundo Hilton Silveira, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O pesquisador afirma que a incidência de raios começa no fim de outubro e aumenta até atingir o nível máximo nos meses de janeiro e fevereiro. “A incidência de raios começa agora e vai até março. Houve um aumento grande de temperatura nos últimos anos por causa de questões ambientais, e quanto maior a temperatura, maior a incidência de raios. Em 30 anos tivemos um aumento de 20% a 25% nas chuvas forte com raios”, explicou Silveira. O raio é uma descarga elétrica de grande intensidade que ocorre na atmosfera. A intensidade típica de um raio é de 30 mil ampères, cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico. Em geral, os raios provocam um clarão e, logo em seguida, o barulho denominado trovão, por causa do deslocamento de ar. Hortolândia e Sumaré são as cidades da região com a maior incidência de raios por quilômetro quadrado, com média anual de 10,22 descargas elétricas, seguido por Americana (10,06), Campinas (9,66) e Paulínia (9,41). Não por acaso, as cidades mais industriais e com população são aquelas que recebem a maior quantidade de raios. Isso acontece porque nessas cidades urbanizadas formam-se as chamadas “ilhas de calor”, que ao se encontrarem com as nuvens formam tempestades mais intensas — e os raios. “O crescimento das cidades da região de Campinas nas últimas décadas tem causado um aumento de tempestades e raios. A vegetação antiga foi substituída por asfalto, foram construídos prédios que dificultam a circulação de ar e há milhares de automóveis em circulação. Tudo isso altera o clima e torna o ar mais sujeito a tempestades”, enumera Osmar Pinto Júnior, coordenador do ELAT. Segundo ele, por enquanto não há motivos para pânico no que diz respeito ao número de raios e tempestades previstos para o Verão. “A previsão de raios é muito recente e complexa, e difere da previsão do tempo. Dos fenômenos que nós conhecemos o que mais pode afetar são as temperaturas do oceano. Dependendo da temperatura da água favorece as tempestades e raios, ou não. No momento as condições são de normalidade”, projeta. No entanto, o coordenador regional da Defesa Civil, Sidnei Furtado, afirma que os raios são a grande preocupação para os próximos meses. Para ele, a única alternativa para minimizar os efeitos dos raios é orientar e conscientizar a população para os riscos. “A Região Metropolitana de Campinas é extremamente afetada por raios, por isso esse é um dos focos principais para este ano. A única forma de se prevenir é a informação. Estamos fazendo ações integradas nos municípios e a orientação principal é se abrigar da chuva e não ficar em locais abertos”, orienta Furtado. “A maior arma contra os raios é a informação”, completa.