REUNIÃO

Região de Campinas concentra assaltos a carros-fortes

Modalidade de crime inclui sequestro de vigilantes e familiares

Patrícia Azevedo
02/08/2013 às 10:03.
Atualizado em 25/04/2022 às 06:43
Audiência na Câmara com representantes das empresas, trabalhadores e polícia (Janaina Maciel/Especial para AAN)

Audiência na Câmara com representantes das empresas, trabalhadores e polícia (Janaina Maciel/Especial para AAN)

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) concentra todas as ocorrências de sequestros de vigilantes seguidos de roubos a carros-fortes do Estado. Representantes do Sindicato das Empresas de Transporte de Valores do Estado de São Paulo e do sindicato dos trabalhadores (Sindforte) se reuniram na sexta-feira (2), na Câmara de Campinas, com vereadores e representantes da Polícia Militar e Civil para debater o assunto. Desde os últimos meses de 2012 até ontem, foram registrados 15 casos na região, sempre com o mesmo modo de ação. “Essa modalidade de crime não vem ocorrendo nem mesmo na Grande São Paulo”, afirmou o presidente do sindicato das empresas, Marcos Totoro.As empresas e os vigilantes dizem que é preciso entender os motivos da região concentrar todos os casos e combater as facilidades que os criminosos encontram aqui. “Se sabemos onde estão ocorrendo os sequestros e os crimes, é preciso melhorar a segurança nesses locais”, afirma Totoro.O major Euclides Vieira, representante do Comando de Policiamento do Interior (CPI) 2 afirmou que a Polícia Militar (PM) não tem como agir nesses casos. “Esse tipo de delito não está na nossa mão. A PM é comunicada após o exaurimento do crime”, afirmou.Os sindicalistas, no entanto, discordam. Dizem que é preciso reforçar o policiamento nas regiões e rodovias em que os crimes costumam ocorrer. “A gente sabe que falta policiamento rodoviário em determinado local e é ali que os bandidos agem. Se melhorar o policiamento preventivo, os crimes diminuem”, afirmou um dos sindicalistas que não quis se identificar.O tipo de crime, que costuma render cerca de R$ 1 milhão por ação, vem sendo praticado por quadrilhas especializadas e já está sendo replicado por muitos criminosos. “Que outra modalidade de crime garante um ganho como esse? E é esse motivo que vem atraindo mais criminosos e dificultando o trabalho da polícia”, afirmou a delegada Denise Margarido. O delegado Carlos Henrique Fernandes, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), disse que a Polícia Civil está empenhada em prender os bandidos. “Mas temos um problema real, são muitos casos, os grupos se multiplicam e a forma de agir tem sido replicada”, disse.SequestrosOutro fator que dificulta o trabalho da polícia é o fato de os sequestros só serem comunicados após a concretização do roubo. “Isso dificulta nossa ação, é preciso que as categorias entendam que a nossa meta é sempre preservar a vida da família dos vigilantes”, afirma Denise.Os vereadores afirmaram que vão encaminhar uma moção ao Ministério da Justiça pedindo que seja adotado um protocolo único de segurança por todas as empresas de transporte de valores. O objetivo é facilitar a proteção aos trabalhadores e aos familiares, já que cada empresa possui um protocolo diferente.“É preciso melhorar a segurança, nós temos ideia do que pode ser feito e podemos orientar”, afirmou a delegada Denise Margarido. Os policiais contam que participam de reuniões semanais com as empresas e o contato com os representantes é diário. “O terror que isso gera na família é absurdo e isso nos incomoda muito na nossa vida pessoal”, disse Fernandes. Para o major Euclides Vieira as empresas precisam reforçar seu aparato de segurança. “É preciso rever os prodecimentos adotados, usar tecnologia adequada e investir em treinamento de pessoal”, disse.O presidente do sindicato das empresas diz que as transportadoras já aumentaram o seu aparato de segurança. Segundo Marcos Totoro, cada empresa tem um protocolo de ação de acordo com as suas características de trabalho.“Não temos poder de polícia, adotamos medidas de segurança e damos proteção aos vigilantes que se encaixam no perfil das vítimas preferidas, mas não podemos fazer mais que isso”, afirmou Totoro.CorollaO Corolla preto utilizado no roubo ao carro-forte ocorrido anteontem de manhã na Rodovia Dom Pedro I foi localizado em Paulínia. O veículo, que tinha queixa de roubo e usava placas clonadas, foi abandonado ainda na noite de quarta-feira. Policiais civis foram ao local para tentar obter mais informações sobre os criminosos.Perfil das vítimasSequestros de vigilantes e familiares obedecem a um padrão. Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte de Valores, os criminosos procuram vigilantes que sejam casados e que as mulheres não trabalhem fora, tenham filhos de 5 a 10 anos e morem em Sumaré, Hortolândia e Monte Mor. Com base nessas informações, as empresas montaram um plano de proteção, que inclui seguranças para proteger os funcionários que se encaixam nesse perfil. Segundo o presidente do sindicato, Marcos Totoro, as empresas dão apoio às vítimas do crime e oferecem acompanhamento psicológico.O presidente da regional do Sindforte, Cláudio Lima, conta que os funcionários são os mais prejudicados pelo problema e ressalta que o número de licenças médicas vem aumentando nos últimos meses por causa dos crimes.“Eles são penalizados pelos bandidos e, depois pelos patrões, que muitas vezes demitem os vigilantes que foram vítimas de roubos”, afirmou.

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