Especialista em comportamento participa do Café Filosófico CPFL e explica a importância da memória e do afeto
Estudar nas melhores universidades do mundo, dominar idiomas e ter no currículo passagens por respeitadas companhias é o que molda a maneira de agir de profissionais de destaque, certo? Errado, afirma o especialista em comportamento organizacional Moisés Fry Sznifer, autor do livro Pessoas Extraordinárias e Suas Incríveis Histórias (Editora Gente), que reúne momentos marcantes da vida de 30 presidentes de algumas das maiores empresas atuantes no País, como Fiat, Santander, Unilever, Natura, Cielo e CPFL.
Sznifer, que é professor de cursos de mestrado e doutorado na Fundação Getúlio Vargas (FVG), visitou Campinas na semana passada, junto de alguns personagens de seu livro, para participar do Café Filosófico CPFL, na sede da CPFL Cultura. Na ocasião, falou sobre como vivências da infância e da adolescência moldam os profissionais a ponto de ter maior importância do que a formação e as experiências corporativas profissionais.
Moisés Fry Sznifer, autor de Pessoas Extraordinárias e Sua Incríveis Histórias
A obra, escrita em parceria com a dramaturga Rea Dennis, traz trechos nunca publicados de histórias pessoais desses executivos, que, em sua maioria, tiveram origem humilde. “Eles chegaram onde estão por terem extrema paixão pelo que fazem e o pendor para o exercício do poder”, ressaltou.
Segundo Sznifer, o livro lhe permitiu mostrar que ainda é a pessoa que forma a sociedade (não o contrário) e que, mesmo no mundo competitivo do trabalho, as estratégias são individuais (não coletivas), por isso existe o processo de interdependência para o funcionamento da empresa e a conquista de bons resultados. “Nós somos produtos das emoções vividas e dos sentimentos experimentados. Com essas histórias cheias de reflexões incorporadas é possível recuperar a emoção que deu origem à identidade narrativa de cada um.”
Emoções à flor da pele
Para resgatar tais sentimentos, o autor começou perguntando aos executivos qual é a memória que eles têm e que sempre volta. Então, passou a puxar a história e levantou quais foram os personagens que fizeram parte dela. “Nesse momento, a emoção aflora muito forte e as lágrimas, de tristeza ou de alegria, correm. Tive o privilégio de ver renomados profissionais chorando ou gargalhando diante de suas recordações”, revela.
Para o presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira, a experiência o fez ver que, realmente, seu jeito de agir no trabalho tem muito da infância, sobretudo dos exemplos dados pelos pais. “Muito da minha determinação tem a ver com a vontade deles de acertar, assim como minha resiliência está relacionada à resiliência deles, sobretudo na busca pela cura da minha bronquite”, diz. “Eu não sabia que tudo aquilo que vivi lá atrás seria tão importante para o que vivo hoje”, complementa.
De acordo com Sznifer, a principal mensagem da obra é que uma vida só é bem-vivida se tiver histórias. “Nas entrevistas, todos descobriram uma riqueza de vida enorme que estava guardada no hipocampo e, quando essas são colocadas para fora, as pessoas se surpreendem. Além do mais, isso faz muita diferença no cotidiano profissional”, enfatiza.
Histórias para contar
Em seu segundo livro, que será lançado brevemente, o especialista quer mostrar a importância das construções da vida. “Você só é alguém quando tem uma boa história para contar”, atesta. Para isso, está entrevistando três grupos de pessoas: famosos, com a participação de artistas, políticos e médicos; pessoas muito bem-sucedidas, mas não famosas, como o dentista brasileiro que preside a Federação Mundial de Laser e uma professora da FGV; e anônimos, entre eles um lixeiro, um eletricista e um caminhoneiro. “Quero mostrar que as histórias de vida de cada um, dentro de seu contexto, independentemente do trabalho, são as construções de vida que eles têm. Não importa se a pessoa é famosa ou não, mas, sim, que ela tem uma história para contar”, conclui.
Experiências trazidas à gestão
“Desde cedo laborei nas plantações, nos trabalhos rurais: colhia café e batata. Todos haviam de colaborar na faina diária da fazenda. Pequeno era, não mais que 6 anos, mas com responsabilidades definidas. Além de colher, devia levar as refeições para as pessoas que estavam trabalhando na plantação de café. Momento memorável: sentado embaixo de um pé de café, almoço compartilhado com os peões, apreciando conversas de adultos. Mundo agrícola!”
Carlos Ferreira, vice-presidente de operações da CPFL
“Fui acometido por bronquite logo após meu nascimento. Isso muito me incomodou e sofri anos a fio. Emergiu quando apenas 1 e meio tinha, durou até 16 anos. Assíduo era eu de hospitais, passei muitas madrugadas dentro deles. Ia duas ou três vezes por semana. Inalação era procedimento inescapável. Durante seis anos ubíqua foi a bronquite, crônica. Onerou meu pai! Tentava ele de todos os modos e maneiras encontrar uma cura. Simpatias mil fez, coisa corriqueira naqueles tempos, até benzedeira buscou...”
Wilson Ferreira, presidente da CPFL Energia
“Eu tinha 12 anos e frequentemente minha mãe me enviava da periferia, onde morávamos, até o centro da cidade para fazer algumas compras. Pegava o ônibus, ficava na expectativa de descer na Praça Tiradentes. A placa na frente de certa escola me fascinava: Yázigi. Cada vez que passava em frente àquela escola, sonhava: ‘Um dia, vou estudar aqui’. Acontece que meus pais não tinham recursos para me matricular na escola de inglês. Nunca estudei no Yázigi!”
Carlos Wizard Martins, presidente do grupo Multi Holding.