Internet: executivo do Linkedin, rede social nascida nos Estados Unidos em 2003 e que tem 225 milhões de usuários conectados, fala da nova relação entre profissionais e recrutadores
Mais de 13 milhões de brasileiros utilizam o Linkedin para compartilhar informações, ideias e oportunidades. Eles são atraídos pelas facilidades de se manterem informados sobre seus contatos e seu setor, obter conhecimento, localizar pessoas, divulgar interesses, aumentar a rede de relacionamentos e gerenciar sua identidade profissional on-line. Não estão, necessariamente, em busca de um novo emprego, mas, se surgir uma boa proposta, por quê não?
Para Milton Beck, diretor da área de Soluções de Talentos do Linkedin no Brasil, que participou do 19o Encontro de Recursos Humanos, promovido pelo Grupo Campinas de RH (Gruca) e pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), regional Campinas, o diferencial da rede é uma quebra de paradigma na forma de contratar. Ele diz que a maioria das pessoas que fazem seu perfil na rede não está procurando emprego. Porém, os recrutadores das empresas usam esses perfis para escolher o profissional a ser contratado.
O Brasil abriga o escritório do Linkedin na América Latina e é o terceiro maior mercado da empresa. A rede está disponível em 19 idiomas. Para o profissional que deixa seu perfil atualizado na rede é uma forma de ser achado, ser selecionado e conseguir um trabalho melhor, mesmo sem correr atrás dele dele. Para as empresas, a vantagem é a seleção dos melhores candidatos, em escala e com baixo custo. Esse é mais um exemplo de que as redes sociais aumentaram a possibilidade de encontrar pessoas e profissionais.
Metrópole – A história do Linkedin não é nova. Porém, nos últimos anos, os profissionais descobriram os benefícios dessa ferramenta.
Milton Beck – O Linkedin começou em 2003, nos Estados Unidos, como uma rede social com o objetivo de conectar profissionais para que fossem mais bem-sucedidos em suas carreiras nas empresas atuais e, eventualmente, em outra corporação. Em determinado momento, os departamentos de recursos humanos das empresas californianas falaram que gostariam de utilizar a rede para buscar candidatos para suas vagas. A partir daí, o Linkedin começou a desenvolver ferramentas de busca e teve um crescimento enorme em termos de usuários. Hoje, são 225 milhões de profissionais conectados na rede, quase três novos usuários por segundo. Se essa entrevista durar dez minutos, nesse tempo serão, pelo menos, 1,8 mil novos contatos. Esses 225 milhões de usuários representam quase 1/3 da população profissional do mundo, formada por 750 milhões de pessoas.
O crescimento do Linkedin no Brasil foi maior nos últimos anos?
A ampliação no Brasil foi grande. O País é o terceiro maior no mundo em termos de usuários, atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia. Aqui temos 13 milhões de contas, mas chegamos no final de 2011 com seis milhões. Então, é um crescimento de 100 mil novos usuários por semana. O brasileiro gosta muito de rede social e essas 13 milhões de pessoas representam 50% da força profissional do País.
Qual o perfil do profissional que está conectado?
Depende. Hoje, quem tem interesse em se conectar no Linkedin é o profissional que quer desenvolver a carreira, ter sua identidade profissional mostrada na rede, estar atualizado sobre o que está acontecendo no mundo. Tem desde universitários saindo da faculdade até profissionais como engenheiros, analistas, gerentes, diretores e presidentes de empresas. Mais de 50% da população do Linkedin têm nível superior.
É um serviço único em desenvolvimento de carreira na web?
É único principalmente para o mundo dos profissionais. São aproximadamente 2,5 milhões de profissionais no Brasil, empregados ou não, que estão ativamente buscando empregos, procurando novas chances. Outros 10,5 milhões são candidatos passivos que, quando os empregos são oferecidos como uma oportunidade nova de carreira, aceitariam discutir. E não existia uma forma de acessar uma base de profissionais antes do advento das redes sociais.
Mas isso mudou só no processo de seleção ou na busca por novos profissionais?
Não houve quebra de paradigma no processo de aquisição de novos talentos. O que mudou, efetivamente, foi a possibilidade de acessar profissionais, que, embora não estejam procurando emprego, aceitariam mudar. A quebra de paradigma veio para dentro das redes sociais, onde os profissionais estão para serem melhores e não para procurar trabalho.
E as empresas que buscam os profissionais na rede, o que consideram importante?
As empresas que trabalham com o Linkedin atuam em duas áreas. Uma delas é na forma de buscar o talento que necessitam. Um exemplo: uma empresa precisa contratar um engenheiro mecânico com dez anos de experiência, que conheça as áreas de óleo e gás, na região de Macaé (RJ). Eu sou recrutador da empresa e posso postar um anúncio e esperar que um profissional o veja e se interesse. É uma postura reativa. No Linkedin, o que se faz é, basicamente, ir atrás desse profissional usando ferramentas de busca de seleção para chegar aos que atendem os critérios pretendidos. A diferença nas empresas que buscam o Linkedin é que elas valorizam o talento e acreditam que ter os melhores profissionais é o que vai fazer o diferencial efetivo na capacidade de gerarem riquezas.
O senhor considera a rede social mais certeira eficiente do que outras ações de busca de empregos e de talentos?
Eu não diria mais certeira. Se você está buscando somente profissionais que querem um emprego, isso reduz a abrangência da sua pesquisa, pois tem muita gente boa procurando trabalho. Mas, se a empresa tem capacidade de atrair e quer valorizar os melhores talentos, não deve resumir a busca apenas aos que mandam o currículo. Não existe um problema no documento em si, mas no alcance dele. Se determinada corporação prefere ter o melhor profissional para um cargo pode postar a vaga e esperar que ele apareça, o que é raro. Por fim, determino exatamente os critérios que eu quero para esse profissional, uso os recursos de busca e tenho uma postura mais ativa.
As empresas são associadas ao Linkedin?
Não. Qualquer pessoa entra como usuário gratuitamente. Já as empresas podem comprar soluções corporativas para ter ferramentas de busca de profissionais, com os filtros corretos que ajudam a alavancar suas marcas como empregadora. Porque há empresas conhecidas do público geral. Seus produtos são conhecidos, o que não significa que ela seja considerada um bom lugar para trabalhar. Quando é uma empresa que vende para outra é mais complicado ainda, pois são corporações desconhecidas para a massa em geral e que às vezes têm capacidade muito grande de alavancar a carreira de um profissional.
São empresas de todos os níveis?
Temos pequenas, médias e grandes, da indústria e do varejo. Estamos no Brasil há pouco mais de um ano. Quando começamos, tínhamos 200 clientes no Brasil que possuíam as soluções corporativas. Agora temos 450 empresas novas. E de todas as regiões do Brasil e de todos os segmentos. É uma solução muito horizontal. O que as caracteriza é, basicamente, o fato de que elas valorizam o talento e os melhores profissionais como característica importante de fazê-las crescer.