Questão de estilo

Valtteri Bottas, companheiro de Felipe Massa, disse à imprensa de seu país após a primeira bateria de testes da pré-temporada que o novo carro da Williams "gostou mais" do brasileiro, reconhecendo ter tido dificuldades com os sistemas do FW37. A essa altura do campeonato, não quer dizer muita coisa, tendo em vista que os pilotos sequer começaram a trabalhar o acerto dos monopostos, estando em uma fase preliminar. Mais avanços nesse sentido serão dados a partir da próxima quinta-feira, quando os carros partem para Barcelona para mais quatro dias de testes e seu real potencial começará a ficar mais claro. Contudo, a adaptação de determinado piloto com seu carro é fundamental para seu sucesso na temporada. Que o diga a atual dupla da Ferrari: depois de dominar a Fórmula 1 por quatro anos, Sebastian Vettel foi batido de forma convincente por Daniel Ricciardo, que fazia seu primeiro ano em uma equipe grande; Kimi Raikkonen, por sua vez, vinha cheio de moral após dois anos mostrando serviço na Lotus, mas foi arrasado por Fernando Alonso. A explicação para ambos os insucessos de 2014 tem a ver com a grande mudança de regulamento do último ano e sua relação com o estilo de pilotagem de Vettel e Raikkonen. O primeiro pilotava muito em função da grande pressão aerodinâmica que a traseira de sua Red Bull tinha nos últimos anos, e que foi ceifada com a colocação do escapamento de forma a evitar que seus gases fossem usados para ajudar a dar mais estabilidade do carro. Tendo de se reinventar, e ainda mais publicamente infeliz com mudanças que tornaram os carros mais lentos e silenciosos, o alemão não conseguiu reagir. Raikkonen, por sua vez, voltou à Ferrari para encontrar um carro cujo comportamento é o mais prejudicial para seu estilo de pilotagem: a saída de dianteira. O finlandês precisa de carros com a parte da frente presa para ter confiança nas curvas. Sem conseguir entrar na curva tão forte como Alonso, perdia temperatura nos pneus e os problemas iam se agravando a cada volta. Agora, ambos estão juntos na Ferrari. A equipe teve tempo de atender a todas as demandas de Raikkonen durante a última temporada e também sabe que tipo de carro precisa dar a Vettel. Por mais que o projeto do carro e da unidade de potência tenham evoluído em relação ao ano passado, resultando em um equipamento mais equilibrado e veloz — algo que vai ajudar qualquer estilo de pilotagem — o acerto fino entre as necessidades de uma dupla que não morre de amores pelo atual jeitão da Fórmula 1 será fundamental para a Scuderia.