Queria renascer num mundo onde a flor substituísse a bomba, onde humanos se abraçassem e beijassem – não pelo prazer da sexualidade, mas pelo bem da humanidade. Onde a mesa fosse farta e os carinhos densos; o canto fácil e a lágrima de emoção; a mão que afaga e os pés que plainam; coração que bate enquanto os olhos se encantam; manhã que renasce ao sabor da brisa leve e do sol suave; o vento que sopra e a folha que escorrega e brinca até tocar com leveza o chão. Tempos não mais de brigas políticas, de irmãos contra irmãos, de filhos que exploram, agridem e até matam os pais; de colegas de escola que atiram nos iguais, de pais ausentes que renegam as crias. Tempos que deixem para trás as ofensas das redes, que apaguem mágoas e desavenças e realcem o brilho no olhar, o contato visual, pele com pele, amor sem fim. Queria poder ressuscitar a mãe que olha o bebê nos olhos, brinca e interage com ele ao invés do celular. Queria não presenciar mais a cena que vi esses dias, da mãe com a criança de apenas um ano no braço esquerdo e o celular na mão direita andando nas ruas do centro da cidade hostil. Quero não mais ver a cidade invadida por mosquitos da dengue, da chikungunya e da febre amarela. Queria o fim dos prefeitos das obras marqueteiras, dos políticos apartados das causas do povo. Queria ver o fim do socialismo de fachada, do bem bom pra mim e bem pouco pra você. Queria renascer num mundo onde enquanto a criança dorme realizamos seus sonhos, dos vestidos de princesa e coragem de heróis. E vamos à luta sem armas mas com gana de vencer, de ver a pobreza ter fim e o sofrimento suportável sem descer aos níveis do inqualificável. Queria renascer no olhar de um gato, nas patas do leão, na elegância do cisne, nos mistérios da mata, no silêncio da noite estrelada e enluarada.Queria esquecer o pesadelo hostil, que arranca filhos de suas pátrias, transformando-os em párias errantes e desiludidos, verdadeiros ambulantes de medos e desesperos sem vislumbrar o fim desse precipício chamado ganância e poder. Queria renascer tal qual a Fênix a bisbilhotar a terra, vencendo asperezas e perfurando durezas, sorvendo o líquido límpido e saboroso que mata a sede e alimenta a vida. Queria renascer das cinzas, ter a capacidade de retornar com amor do sucumbir do ódio e da espada afiada com azedume e rancor. Queria ser capaz de beijar na face o inimigo, ofertar a mão ao seu capataz, aventurar montanhas e mares e campos verdejantes e flores tão coloridas que me afetassem a vista. Queria apenas e tão somente viver num mundo diferente deste, que transforma a dor em amor, o sonho em realidade, sofrimento em fantasia, renascer depois do período de trevas, erguer as mãos aos céus e agradecer a alegria gotejante, límpida e cada vez mais autêntica e genuína. Feliz Páscoa!Sugestão: mais convívio e menos celular, por favor! Sugestão de livro: Dez argumentos para apagar suas contas em redes sociais agora mesmo. Henry Holt&Co.