Desde o início da Quaresma, temos ouvido o apelo: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Crer no Evangelho não é crer no Livro, mas sim na pessoa de Jesus de Nazaré. Por isso, a oração que nos acompanha desde o primeiro domingo desse tempo é: concedei-nos ó Deus que, ao longo desta Quaresma possamos progredir no conhecimento de Jesus Cristo... Pois bem, já estamos a poucos passos do fim desse caminho. Então, convém perguntarmo-nos: progredimos no conhecimento de Jesus, Divino Salvador? A Igreja nos propôs um roteiro de vivência e de espiritualidade através das celebrações dominicais. Tomemos apenas os Evangelhos dos domingos. De saída, no primeiro domingo, acompanhamos Jesus no deserto sendo tentado pelo espírito do mal. Assim, Ele se revela para nós em sua realidade humana, “despojou-se e tomou a forma de servo” (Fl 2,7). No domingo da transfiguração, subimos com Ele a montanha, onde se abriu uma janela para contemplarmos com os discípulos Pedro, Tiago e João, o rosto divino de Jesus e ouvirmos a voz: “Este é o meu Filho amado” (Mc 9,6). No terceiro domingo, no majestoso templo de Jerusalém, deparamo-nos com um Jesus muito diferente daquele que habitualmente imaginamos. Jesus sente-se um estranho naquele lugar que não é mais a casa de seu Pai, casa de oração, mas virou um mercado de negócios e de exploração. “Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do templo” (Jo 2,15). Com seu gesto, Jesus repudia o sistema religioso, econômico e político instalado no templo e arredores pela turma dos sacerdotes que, a partir daí, começam a vê-lo como transgressor perigoso, de conduta subversiva. Como se não bastasse, Jesus aprofunda o conflito ao apresentar-se como o novo, único e verdadeiro Templo. No quarto e quinto domingos da Quaresma, Jesus anuncia, profeticamente a sua morte, não porque Ele a buscou, mas porque lhe impuseram por um julgamento injusto que o levou à condenação e à morte na Cruz. Quando o Filho do Homem for levantado (na cruz), “todos os que nele crerem terão a vida eterna” (Jo 3,13). Ou, “se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre então produz muito fruto” (Jo 12,24). Na verdade, o que nos salva não é a quantidade de sangue derramado, como pretendem certas representações da paixão de Cristo, em filmes e teatros, mas a grandeza do seu amor: “Jesus... tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1). No final desta caminhada quaresmal, também nós, quais romeiros gregos (que foram ao templo para a festa), fomos animados pelo sincero desejo de ver Jesus. Ele nos foi apresentado e revelado de muitos modos na Palavra, na Eucaristia, no sacramento do perdão (confissão), no rosto crucificado de tantos irmãos; também o buscamos sinceramente pelos atalhos dos exercícios quaresmais e obras de misericórdia. Resta-nos aguardar, na esperança, juntamente com as santas mulheres discípulas e com os Apóstolos recolhidos no silêncio, o encontro com o Senhor Ressuscitado. Desde já feliz e alegre Páscoa aos leitores desta coluna e a todos os profissionais do Correio Popular.