EDITORIAL

Quem tem fome, tem pressa

Todos os quadros de fome são violações de um direito garantido pela Constituição Federal de 1988. É preciso interromper esse ciclo de miséria

Correio Popular
23/03/2021 às 14:15.
Atualizado em 21/03/2022 às 23:17

O geógrafo Josué de Castro, ainda na década de 1940, abordava a existência de dois tipos de fome no Brasil: a epidêmica, causada por crises agudas, e a endêmica, um tipo de fome com a qual se convive diariamente, de forma oculta. Esta segunda seria resultado de "processos socioeconômicos estruturais, que impactam diretamente na vida de pessoas, fazendo com que uma grande parte da população coma menos do que gostaria, coma alimentos de má qualidade nutricional, pule refeições, deixe de comer para que os filhos comam, ou ainda não possa escolher o que comer."

O Brasil, que voltou recentemente a conviver com a fome endêmica, passa agora a conviver com a fome epidêmica, causada em grande parte pela pandemia do novo coronavírus e os impactos sócioeconômicos decorrentes dela. Campinas não ficaria imune a esse quadro.

Como tentativa de mitigar essa situação, o prefeito Dario Saadi lançou ontem a campanha “Campinas sem Fome”. O objetivo é arrecadar alimentos não perecíveis e itens de higiene pessoal para as famílias em situação de vulnerabilidade social. Pelo menos enquanto durar a pandemia.

Ao Correio Popular, Saadi disse reconhecer que Campinas é “uma cidade de mais de um milhão de habitantes, com índices econômicos muito robustos, mas também com uma parcela da população que passa necessidades básicas. Por isso, dentro do enfrentamento da pandemia, é importante essa postura de enfrentamento à fome que ainda persiste em algumas regiões da cidade.”

Trata-se de uma postura louvável diante da tragédia humana que se abate sobre os brasileiros mais pobres neste exato momento. É preciso, porém, trabalhar desde já o entendimento de que medidas paliativas não resolverão o problema a médio e a longo prazo. Existem diversos quadros de fome no Brasil - e Campinas é um espelho do resto do País. Todos os quadros de fome são violações de um direito garantido pela Constituição Federal de 1988. Por isso é essencial cobrarmos dos poderes públicos que formulem políticas que interrompam este ciclo de miséria e fome.

A urgência da fome, no entanto, tem lugar de prioridade nessa discussão. Quem tem fome, tem pressa. Por isso, apoiamos a campanha "Campinas sem Fome" na esperança de que ela possa se transformar futuramente em política pública. Doe a quem mais precisa. As informações de como proceder estão em matéria veiculada nesta edição.

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