Coluna publicada na edição de 27/10/19 do Correio Popular
A semana foi tensa no Moisés Lucarelli com denúncias de irregularidades na gestão da Ponte Preta. O episódio é grave, mas não foi o primeiro do ano, já que a atual crise política se arrasta há meses. No Brinco de Ouro, não é diferente. Batalhas internas são travadas há anos e muitos se preocupam com os prejuízos que podem trazer ao time nessa ou naquela campanha, mas isso na verdade é quase irrelevante, como veremos a seguir. Há muito tempo não escrevo sobre crise política nos clubes de Campinas. E também não vou escrever sobre problemas específicos de um ou de outro hoje. Não escrevo mais sobre o assunto porque não vejo a menor possibilidade de melhora nesse quadro desastroso. E não se trata de pessimismo. Basta olhar para o que já aconteceu e para o que está acontecendo para se ter uma noção do que virá pela frente. O cenário é quase sempre o mesmo: um grupo que está no poder comete repetidas vezes erros gravíssimos de gestão (e aí falamos de uma explosiva mistura de incompetência, irresponsabilidade e desonestidade), enquanto o outro lado se mostra indignado com tudo. Esse grupo de fora, momentaneamente chamado de “oposição”, começa então a lutar com todas suas forças e armas e para derrubar aqueles que, por ora, estão na “situação”. Geralmente o trabalho da “situação” deixa a desejar, seja no resultado esportivo, seja na responsabilidade administrativa. Então, quando a “oposição” consegue derrubar ou minar a “situação”, as turmas trocam de lado. E então o processo se reinicia da mesma forma. É doloroso escrever isso e externo aqui a minha enorme admiração pelos bons pontepretanos e pelos bons bugrinos. Eles existem e não são poucos. O problema é que são afugentados por esse modelo de administração que foi criado há décadas para clubes sociais. O futebol de hoje é completamente diferente. Movimenta muito dinheiro e desperta outros interesses. Bons bugrinos e pontepretanos pouco conseguem fazer nessa guerra permanente. Aos que, a essa altura, pensam que estou exagerando, sugiro apenas que olhem para o passado. Vejam em que estágio Guarani e Ponte Preta começaram e vejam o que alcançaram na época em que Campinas foi denominada a “Capital do Futebol”. E vejam como regrediram desde então, na era do “futebol profissional”. Vejam o valor astronômico do patrimônio que o Guarani perdeu. Vejam o valor da dívida da Ponte Preta. Vejam a qualidade dos atletas que os dois clubes já conseguiram revelar. Vejam como funcionam as categorias de base atualmente. Bons gestores não perdem patrimônio e nem alimentam dívidas. Bons gestores não passam desconforto com denúncias graves de desvio de conduta. Bons gestores trabalham para que os resultados no campo e nas finanças sejam cada vez melhores. E a história recente do futebol campineiro nos mostra que na eterna guerra de “situação” e “oposição” há pouco ou nenhum espaço para bons gestores. Ninguém atrapalha mais Ponte Preta e Guarani do que Ponte Preta e Guarani.