Coluna publicada na edição de 5/8/2016 do Correio Popular
O noticiário recheado de problemas não deixa a menor dúvida: o Brasil de um modo geral e o Rio em particular não estão preparados para organizar uma Olimpíada. O País foi escolhido para receber os Jogos em outubro de 2009. Tempo para se apresentar ao mundo de forma decente, portanto, não faltou. Assumir essa responsabilidade já foi um erro. Deixar o tempo passar à espera que tudo se acertasse na base do jeitinho brasileiro foi um erro maior, que agora nos submete a uma vergonha atrás da outra. Na entrevista que concedeu sobre a cerimônia de abertura, a cenógrafa Daniela Thomas disse uma frase que define muito bem a relação entre o Rio e a Olimpíada: “O espírito da gambiarra é importante no Brasil. Não temos como fazer, mas faremos”. Daniela não teve a menor intenção de criticar o Brasil, o Rio, os organizadores e nem a sua equipe de trabalho. Ela quis fazer justamente o contrário, enaltecendo a brasileiríssima capacidade de fazer qualquer coisa, mesmo que de qualquer jeito. Mas suas palavras se encaixam perfeitamente na dura realidade que ela parece não enxergar: “O espírito da gambiarra é importante no Brasil. Não temos como fazer, mas faremos”. E faremos do nosso jeito, mostrando à delegação de basquete da China como o cidadão se joga nas ruas do Rio para se proteger de tiroteios. Faremos do nosso jeito, recebendo australianos em apartamentos imundos e inacabados, com direito a uma piada sem graça do prefeito sobre um canguru. Faremos do nosso jeito, contratando sem licitação uma empresa que em cima da hora se diz incapaz de fazer a revista com Raio X para acesso ao Parque Olímpico. Faremos do nosso jeito, expondo atletas ao risco de competir nas águas poluídas da Baía da Guanabara, com direito a um sofá boiando aqui e um esqueleto boiando ali. Faremos do nosso jeito, deixando dirigentes do COI preocupados com o tempo excessivo que se gasta para ir da Vila Olímpica aos locais de competição. Faremos do nosso jeito, registrando mais de 150 (cento e cinquenta!!!) queixas de furto nas instalações da delegação da Dinamarca, de onde levaram celulares, tablets, roupas e até um lençol. Ainda assim, a Olimpíada vai começar hoje, com uma audiência mundial estimada em 3 bilhões de pessoas. Só espero que o Brasil seja capaz de fazer o mínimo. Mas, para fazer o mínimo, terá que trocar gambiarra por competência e seriedade na sua lista de coisas importantes. O Brasil precisa deixar de ser um lugar onde o errado insiste em ser o certo.