Que linda é a primavera!

Pegando carona na Campinas Restaurant Week, que elegeu a primavera como tema, vou falar de vinhos que, tal como o menu dos chefs que estão participando do evento, remetem a flores, frutas e cor. E o primeiro que chega à taça é o incompreendido rosé. Durante muito tempo, enófilos, mais ou menos exigentes, torciam o nariz para esse vinho “feito para paladares fáceis”. Hoje, não faz sentido bani-lo, sem ao menos entendê-lo. Para isso é preciso abrir a mente ao fato de que vinho é uma bebida de ocasião. E nos dias ensolarados, coloridos, em que uma brisa mansa é sempre companhia desejada, o rosé é perfeito. Seu tom, entre o rosado e o salmão, mais ou menos intenso, é convenientemente belo para compor uma mesa. Seu frescor e sua leveza conferem elegância ao momento, seja à beira da piscina, numa refeição na varanda, num coquetel ou numa happy hour a céu aberto. Pode apresentar tanto notas florais como frutadas e tem vocação ao corpo leve, com teores alcoólicos bem dosados. Combina com pratos à base de vegetais, peixes, frutos do mar, preparações com ervas, carnes brancas ou vermelhas magras... Enfim, um vinho versátil. Mas o que há de errado com ele para ser desdenhado por aí. Nada... O rosé padece de sua virtude. É um vinho feito com uvas tintas, num sistema em que a parte líquida da fruta tem pouco contato com a casca. A transferência de material corante e taninos ao mosto é controlada para que o resultado seja uma bebida maleável, que se preste a qualquer ocasião. É um estilo de vinho típico de Provence, Sul da França, onde a culinária tem uma deliciosa vivacidade, influenciada pelo clima descontraído, de sol claro e amistoso. Há também espumantes e champanhes rosés incríveis, que não devem nunca ser desprezados. Para muitos, esse meio termo entre o tinto e branco demonstra falta de personalidade ou qualidade. Para complicar, de fato há muitas marcas duvidosas no mercado (de tintos e brancos também) que colaboram para aumentar a resistência a ele. A boa notícia para os apreciadores mais desencanados, é que muitos produtores têm caprichado em seus rosés, oferecendo rótulos bem elaborados e de apresentação que condiz com a vocação para confraternizações descontraídas.Porém, não precisamos passar a primavera toda tomando um único vinho. A atmosfera combina também com brancos aromáticos, espumantes, tintos leves (de preferência sem barrica) e até vinhos de sobremesa, daqueles que exalam frutas. Não tem mistério. Vinhos de alta acidez (atributo delicioso que provoca salivação nas laterais da língua), corpo de médio a baixo, e aromas frescos – ervas, mineral, flores ou frutas – são irresistíveis. Mas esses ficam para a semana que vem. Bons e barato JP Azeitão Rosé 2011 (R$ 30, preço médio): regional da Península de Setúbal, Portugal. 60% moscatel roxo, 40% syrah. Aromas florais de rosas e flores do campo. Na boca, a primeira sensação floral é intensificada com a boa acidez e estrutura, originando um vinho com final fresco, mineral e cheio. Villa Francioni Rosé, Brasil (Top Wine Brasil, R$ 53, preço médio): de São Joaquim, Santa Catarina. Corte de cabernet sauvignon, cabernet franc, sangiovese, syrah, petit verdot, pinot noir, merlot e malbec. Aroma agradável de frutas e flores, lembrando romãs, e leve toque cítrico. Na boca é leve e delicado, com acidez que traz frescor e prepara o paladar. Andeluna Cellars (Argentina, R$ 40, preço médio): feito com a uva malbec, é um vinho fresco e correto, com aromas de cereja, framboesa e toques florais sutis. O cuidado na vinícola diferencia a marca de várias outras disponíveis no mercado, inclusive de preços mais altos. Montelpuciano d’Abruzzo Cerasuolo (Itália, R$ 40, preço médio): da vinícola Vini Farnese, elaborado com a uva Montelpuciano, apresenta aromas intensos e persistentes de frutas vermelhas, como morangos. Ideal para acompanhar aperitivo, carnes brancas e peixes grelhados. Saúde!