Agricultura

Quarentena vegetal

Plantas trazidas do Exterior passam por barreira fitossanitária em algum dos 11 centros de isolamento existentes no Brasil, sendo um deles em Campinas

Eduardo Martins/Especial para a Metrópole
06/09/2020 às 09:00.
Atualizado em 28/03/2022 às 16:42
Plantas vindas do exterior passam por quarentena (iStock)

Plantas vindas do exterior passam por quarentena (iStock)

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a palavra quarentena vem sendo repetida em todos os cantos do País em referência a um determinado período de isolamento social. Mas quem atua no universo dos vegetais sabe que há muito tempo o termo é usado para expressar uma prática fundamental para garantir que diversas espécies de plantas fiquem saudáveis após serem importadas de outros lugares do mundo. “A quarentena vegetal significa o isolamento delas (plantas) por 40 dias, com o período de incubação para o aparecimento e detecção de sinais e/ou sintomas de doenças”, explica José Marcos Bernardi, engenheiro agrônomo e diretor executivo da MBAgriculture Assessoria em Agronegócios e Representação Comercial. O especialista conta que as pragas exóticas que oferecem risco a alguma espécie vegetal fazem parte de uma lista publicada e atualizada regularmente pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) com instruções normativas. Durante todo o processo de importação de material vegetal para o País, essas normas são consultadas e comparadas com as pragas presentes no país de origem, para determinar a necessidade de quarentena para a espécie vegetal. Segundo Bernardi, o vegetal pode ser submetido a alguns processos durante o isolamento, já que eles precisam se desenvolver para manifestarem sintomas e serem diagnosticados. “Os tubérculos de batatas, por exemplo, podem ser submetidos a tratamentos que forcem a brotação para gerar uma planta e, assim, o sintoma ser manifestado e observado em folhas”, destaca. Toda vez que existe o risco de introdução de uma praga que seja exótica ao país, existe a necessidade de se estabelecer este isolamento em locais específicos chamados de estações quarentenárias, que são de responsabilidade do Mapa. O período de isolamento para as plantas é variável, depende de cada caso e também do material que deve ser isolado. Quando isso é identificado, o responsável pelo quarentenário determina um período específico de quarentena obrigatória, que precisa ser cumprido para ser observado se a praga vai se manifestar. “O quarentenário é o local ideal para deixar a planta, pois conta com recursos tanto de isolamento com o exterior para não se contaminar com pragas ou doenças existentes no Brasil, e também para não levar a conclusões equivocadas ou que estraguem o material e se torne impossível diagnosticar a praga quarentenária. Essas pragas podem ser ausentes ou presentes e constam em uma lista de instruções normativas”, pontua Bernardi. No Brasil existem 11 estações quarentenárias registradas pelo Mapa e, uma delas está localizada no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O objetivo é conter, detectar e identificar pragas em materiais vegetais importados para serem utilizados em programas de pesquisa. Renato Veiga, engenheiro agrônomo e responsável pela expansão do quarentenário do IAC, explica que a estação é essencial para o País, ainda mais em meio a ausência de outros espaços como esse nos estados brasileiros. O quarentenário do IAC tem permissão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para receber todas as espécies de materiais vegetais. Em 2019, o IAC recebeu 143 quarentenas, totalizando em 14.648 acessos de diferentes espécies e países. “O quarentenário do IAC é do nível 1, tem infraestrutura completa e atende todas as espécies de vegetais. Ele existe desde a década de 1930, mas com infraestrutura nova, mais segura e equipamentos modernos, foi construído na década de 1990 na Fazenda Santa Elisa”, destaca, uma área de experimentos do IAC também localizada em Campinas. 2020 é escolhido como Ano Internacional da Fitossanidade A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2020 como o Ano Internacional da Fitossanidade, um conceito utilizado para classificar a proteção de plantas ao ataque de pragas e doenças. Estado sadio do vegetal ou da planta, o termo é definido como a propriedade que as plantas e árvores têm de se recuperar de pragas e doenças que as atacam. José Marcos Bernardi destaca que a fitossanidade tem como objetivo preservar a integridade do vegetal, pensando no consumo humano, animal ou até na multiplicação de sementes e mudas. “A importância de manter vegetais ou plantas é justamente preservar em sua integridade o material vegetal para que atenda a finalidade e o objetivo de consumo, que é perpetuar a espécie, gerar frutos e descendentes, ou, então para alimentação sadia sem corpos estranhos que poderão causar até envenenamento”, enfatiza. Renato Veiga chama atenção para a importância da fitossanidade e lembra o risco que a entrada de pragas pode causar na agricultura. “Fitossanidade é essencial para o trabalho de agricultura. Sem isso, corre o risco de entrada de pragas, plantas invasoras, insetos, animais, ratos, vírus, hematoides, ácaros, entre outros. Se tem um ataque de praga, é muito grande o risco de perder uma cultura”, finaliza. Dados da Embrapa revelam que de 1977 a 2013, as ações de quarentena realizadas no País impediram a entrada de 75 espécies diferentes de pragas agrícolas. Posteriormente, de 2014 a 2016, mais 4 espécies foram barradas. Entenda como funciona o processo de quarentena no IAC O processo para as empresas ou instituições submeterem análises no quarentenário leva cerca de três meses para culturas anuais, como hortaliças e grãos, e aproximadamente seis meses para as perenes, como café, cana-de-açúcar e citros. Quarentena vem do italiano quatarantina, que significa quarenta. A expressão tem origem no passado, quando em caso de suspeita de doenças contagiosas, o isolamento recomendado era de, no mínimo, 40 dias. As instituições interessadas em submeter materiais à análise entram em contato com o quarentenário IAC. Após o período estipulado para cada caso individualmente, se não for constatada nenhuma praga, o IAC emite o laudo final de Inspeção Fitossanitária e comunica o MAPA, responsável pela emissão do laudo de liberação. Só então o agente importador é comunicado para retirada do material no quarentenário. Se houver detecção de praga, o responsável pela importação é comunicado, o MAPA emite um laudo de eliminação e todo o material é autoclavado e incinerado.

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