Plantas trazidas do Exterior passam por barreira fitossanitária em algum dos 11 centros de isolamento existentes no Brasil, sendo um deles em Campinas
Plantas vindas do exterior passam por quarentena (iStock)
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a palavra quarentena vem sendo repetida em todos os cantos do País em referência a um determinado período de isolamento social. Mas quem atua no universo dos vegetais sabe que há muito tempo o termo é usado para expressar uma prática fundamental para garantir que diversas espécies de plantas fiquem saudáveis após serem importadas de outros lugares do mundo. “A quarentena vegetal significa o isolamento delas (plantas) por 40 dias, com o período de incubação para o aparecimento e detecção de sinais e/ou sintomas de doenças”, explica José Marcos Bernardi, engenheiro agrônomo e diretor executivo da MBAgriculture Assessoria em Agronegócios e Representação Comercial. O especialista conta que as pragas exóticas que oferecem risco a alguma espécie vegetal fazem parte de uma lista publicada e atualizada regularmente pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) com instruções normativas. Durante todo o processo de importação de material vegetal para o País, essas normas são consultadas e comparadas com as pragas presentes no país de origem, para determinar a necessidade de quarentena para a espécie vegetal. Segundo Bernardi, o vegetal pode ser submetido a alguns processos durante o isolamento, já que eles precisam se desenvolver para manifestarem sintomas e serem diagnosticados. “Os tubérculos de batatas, por exemplo, podem ser submetidos a tratamentos que forcem a brotação para gerar uma planta e, assim, o sintoma ser manifestado e observado em folhas”, destaca. Toda vez que existe o risco de introdução de uma praga que seja exótica ao país, existe a necessidade de se estabelecer este isolamento em locais específicos chamados de estações quarentenárias, que são de responsabilidade do Mapa. O período de isolamento para as plantas é variável, depende de cada caso e também do material que deve ser isolado. Quando isso é identificado, o responsável pelo quarentenário determina um período específico de quarentena obrigatória, que precisa ser cumprido para ser observado se a praga vai se manifestar. “O quarentenário é o local ideal para deixar a planta, pois conta com recursos tanto de isolamento com o exterior para não se contaminar com pragas ou doenças existentes no Brasil, e também para não levar a conclusões equivocadas ou que estraguem o material e se torne impossível diagnosticar a praga quarentenária. Essas pragas podem ser ausentes ou presentes e constam em uma lista de instruções normativas”, pontua Bernardi. No Brasil existem 11 estações quarentenárias registradas pelo Mapa e, uma delas está localizada no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O objetivo é conter, detectar e identificar pragas em materiais vegetais importados para serem utilizados em programas de pesquisa. Renato Veiga, engenheiro agrônomo e responsável pela expansão do quarentenário do IAC, explica que a estação é essencial para o País, ainda mais em meio a ausência de outros espaços como esse nos estados brasileiros. O quarentenário do IAC tem permissão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para receber todas as espécies de materiais vegetais. Em 2019, o IAC recebeu 143 quarentenas, totalizando em 14.648 acessos de diferentes espécies e países. “O quarentenário do IAC é do nível 1, tem infraestrutura completa e atende todas as espécies de vegetais. Ele existe desde a década de 1930, mas com infraestrutura nova, mais segura e equipamentos modernos, foi construído na década de 1990 na Fazenda Santa Elisa”, destaca, uma área de experimentos do IAC também localizada em Campinas. 2020 é escolhido como Ano Internacional da Fitossanidade A Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2020 como o Ano Internacional da Fitossanidade, um conceito utilizado para classificar a proteção de plantas ao ataque de pragas e doenças. Estado sadio do vegetal ou da planta, o termo é definido como a propriedade que as plantas e árvores têm de se recuperar de pragas e doenças que as atacam. José Marcos Bernardi destaca que a fitossanidade tem como objetivo preservar a integridade do vegetal, pensando no consumo humano, animal ou até na multiplicação de sementes e mudas. “A importância de manter vegetais ou plantas é justamente preservar em sua integridade o material vegetal para que atenda a finalidade e o objetivo de consumo, que é perpetuar a espécie, gerar frutos e descendentes, ou, então para alimentação sadia sem corpos estranhos que poderão causar até envenenamento”, enfatiza. Renato Veiga chama atenção para a importância da fitossanidade e lembra o risco que a entrada de pragas pode causar na agricultura. “Fitossanidade é essencial para o trabalho de agricultura. Sem isso, corre o risco de entrada de pragas, plantas invasoras, insetos, animais, ratos, vírus, hematoides, ácaros, entre outros. Se tem um ataque de praga, é muito grande o risco de perder uma cultura”, finaliza. Dados da Embrapa revelam que de 1977 a 2013, as ações de quarentena realizadas no País impediram a entrada de 75 espécies diferentes de pragas agrícolas. Posteriormente, de 2014 a 2016, mais 4 espécies foram barradas. Entenda como funciona o processo de quarentena no IAC O processo para as empresas ou instituições submeterem análises no quarentenário leva cerca de três meses para culturas anuais, como hortaliças e grãos, e aproximadamente seis meses para as perenes, como café, cana-de-açúcar e citros. Quarentena vem do italiano quatarantina, que significa quarenta. A expressão tem origem no passado, quando em caso de suspeita de doenças contagiosas, o isolamento recomendado era de, no mínimo, 40 dias. As instituições interessadas em submeter materiais à análise entram em contato com o quarentenário IAC. Após o período estipulado para cada caso individualmente, se não for constatada nenhuma praga, o IAC emite o laudo final de Inspeção Fitossanitária e comunica o MAPA, responsável pela emissão do laudo de liberação. Só então o agente importador é comunicado para retirada do material no quarentenário. Se houver detecção de praga, o responsável pela importação é comunicado, o MAPA emite um laudo de eliminação e todo o material é autoclavado e incinerado.