Por ordem analfabética, Fred, Dedé, Neymar, Pato, Jefferson e Bernardo, jogadores do Fluminense, Vasco, Botafogo, Flamengo e Corinthians e Santos não conseguiram juntar no total mais que 50 mil torcedores nos três maiores clássicos dos estaduais carioca e paulista.
Latem os complexados – que ainda existem, acredite — que o Brasil é o país do futebol e coisa e tal. E os ouvi e li afirmando que a baixa frequência de torcedores se deve ao efeito boliviano, ou por solidariedade ao drama que vive a família do jovem Kevin Espada, ou por medo da violência nos estádios ou por tudo isso junto. Mas ninguém alegou que a falta de torcedores está proporcionalmente ligada à baixa qualidade do futebol que se pratica em estádios que apresentam gramados dignos dos nossos mais belos ruminantes.
Tantas estrelas e nenhum brilho. E o presidente da CBF, José Maria Marin, decretou o fim da moralização do futebol: não mais acontecerão jogos entre dois times rivais na última rodada dos estaduais. E tudo volta ao mais do mesmo: às negociatas de cartolas, empresários e tantos outros mafiosos da bola e da mala preta.
E ainda criticamos nossos boleiros por tão pouco brilho e muita marquetagem. Vale tudo na falsa terra do futebol. Se vale eleger parlamentares processados para presidente do Senado e Câmara Federal, vale aceitar o cleptomaníaco José Maria Marin para presidente da CBF e também da Comissão de Organização Local da Copa de 2014 — cujas obras estão sendo entregues a conta-gotas e todas elas já suspeitas de superfaturamento — a começar (ou terminar, sei lá) pelo Itaquerão. Os quatro corintianos que conseguiram liminar para exercer seus direitos de torcedor bem poderiam, também, fazer algo em nome da moralidade pública, não é mesmo? Ou seus direitos civis terminam onde começam seus loucos glúteos alvinegros?
Não quero resposta de nada. Muito menos de torcedor que brada seus direitos para depois se sentir ridículo em um estádio vazio e concluir que ele estava mais atrapalhando do que ajudando o seu time em campo. E foram lá de gravata, entende? Ou isso não é uma marquetagem no melhor estilo-porta-de-cadeia?
E José Maria Marin está negociando uma partida da seleção brasileira com a boliviana para “aliviar” a alma do povo do garoto assassinado. Não é à toa que o filho do jornalista Vladimir Herzog, Ivo Herzog, lançou via Internet o abaixo-assinado “Fora Marin”. Para quem não sabe, Marin (e todos os presidentes da CBF também foram aliados da ditadura militar — e apoiadores da Conmebol) foi quem provocou a prisão, em 1975, de Vladimir Herzog — então diretor de jornalismo da TV Cultura-SP — acusando-o de subverter informações contra o regime militar. Vladimir morreu torturado nos porões do Doi-Codi.
Enfim, Conmebol e CBF são uma fábrica de tortura contra o futebol e seus torcedores. E o garoto Kevin é a sua mais recente vítima.